PICICA: "Como
construir uma agenda propositiva e de esperança capaz de colocar em
movimento uma Frente da Maioria do povo contra a Casa Grande: aqueles 1%
da população constituída por banqueiros, grandes empresários e
latifundiários que dominam 60% das riquezas no nosso país e que estão
lucrando rios com essa crise?"
A Crise, as cidades e a atualidade da luta pela Reforma Urbana
Os
noticiários de cada dia nos falam da crise e suas diversas
manifestações econômicas e políticas para o país. Ajuste fiscal,
privatizações, desestruturação da garantia de direitos, em especial
trabalhistas, mudanças conservadoras na legislação, cortes nos
ministérios e outras maldades aparecem como consequências naturais e
quase inevitáveis da crise ou do “limite” do modelo de crescimento do
país – anunciado pela presidente Dilma na última segunda-feira, dia
28/09.
As
organizações de esquerda e os movimentos populares, por sua vez, vem
tentando se confrontar a essa “inevitabilidade” a partir de uma agenda
reativa: contra os cortes, contra os ajustes, contra a perda de
direitos. Entretanto, a busca do “mal menor” não tem ganhado as mentes e
corações das maiorias do nosso povo. Após vários meses de campanhas,
mobilizações de rua e tentativas de frente constatamos que o isolamento
da esquerda com a maioria dos brasileiros vem aumentando ao invés de
retroceder. Se torna, portanto, urgente uma resposta coletiva a seguinte
pergunta:
Como
construir uma agenda propositiva e de esperança capaz de colocar em
movimento uma Frente da Maioria do povo contra a Casa Grande: aqueles 1%
da população constituída por banqueiros, grandes empresários e
latifundiários que dominam 60% das riquezas no nosso país e que estão
lucrando rios com essa crise?
Sem
qualquer pretensão de dar uma resposta satisfatória a tão complexa
questão, gostaria de apontar algumas questões para debate.
Tanto
a direita quanto a esquerda brasileira, em seus múltiplos espectros,
tem pensado excessivamente em termo da disputa partidária e em torno de
agendas gerais: contra a corrupção, contra o ajuste fiscal, contra a
direita conservadora no congresso e etc. Será que estamos
conseguindo fazer com que essa agenda geral dialogue com o cotidiano
concreto, material e subjetivo da maioria do povo?
Se
é verdade que a disputa em torno dessa agenda nacional é determinante
para a vida de toda a classe trabalhadora hoje, os termos que dão
significado para essa disputa parecem carecer de tradução no cotidiano
material do povo.
As consequências da crise se manifestam no território e na vida das pessoas e não em abstrato. Vemos e sentimos a crise quando tememos o desemprego, quando sofremos com a alta das tarifas, quando temos medo de morrer no caminho de casa, com a precariedade dos serviços… Portanto, não será partindo de cada situação particular e concreta que conseguiremos colocar em movimento lutas unificadas contra uma política geral e devastadora?
As consequências da crise se manifestam no território e na vida das pessoas e não em abstrato. Vemos e sentimos a crise quando tememos o desemprego, quando sofremos com a alta das tarifas, quando temos medo de morrer no caminho de casa, com a precariedade dos serviços… Portanto, não será partindo de cada situação particular e concreta que conseguiremos colocar em movimento lutas unificadas contra uma política geral e devastadora?
As cidades brasileiras nos últimos anos parecem traduzir a dimensão da crise política e social na qual estamos inseridas.
Nesse espaço de vida de mais de 80% das brasileiras e brasileiros não faltou indignação e mobilização contra o aumento das tarifas, contra os despejos, contra os postos de saúde lotados, contra a polícia violenta.
Nesse espaço de vida de mais de 80% das brasileiras e brasileiros não faltou indignação e mobilização contra o aumento das tarifas, contra os despejos, contra os postos de saúde lotados, contra a polícia violenta.
Entretanto,
pouco tempo atrás ninguém falava de crise, enquanto uma real crise
urbana colocava em movimento milhares de pessoas pelo direito ao
transporte, a moradia, aos serviços urbanos básicos. Quando em 2008
explodia a bolha hipotecária dos Estados Unidos, o modelo de acumulação e
de redistribuição de renda do Brasil estimulou ainda mais a destruição
criadora do capital: centenas de remoções foram realizadas enquanto mais
privatizações e megaempreendimentos asseguravam os lucros das empresas.
Esse é o caso das políticas Minha Casa, Minha Vida e das obras de
mobilidade da Copa.
As
políticas de infraestrutura e inclusão pelo consumo eram fermento para o
bolo econômico, que se dividia com políticas de crédito e aumento do
salário e do poder de consumo. Sem reformas significativas na estrutura
de acumulação das cidades, mobilidade e moradia consumiam cerca de 40%
do orçamento dos 50% mais pobres, detentores de 2% das riquezas do país.
Ou seja, não houve real distribuição de renda.
Se não dialogarem com as necessidades do povo, as reações aos cortes e ajustes do governo serão inócuos. É
um erro nos limitarmos a reclamar um passado de crescimento. Precisamos
apontar novos horizontes de esperança para a maioria do nosso povo.
Hoje
mais do que nunca a nossa luta deve saber contestar as regras do jogo e
a partir de lutas concretas revelar as raízes profundas da crise. É
lamentável, por exemplo, como os movimentos de moradia reduziram a sua
existência às barganhas por espaços institucionais e migalhas do
programa Minha Casa, Minha Vida, abandonando uma real agenda de reforma
urbana que questione a estrutura fundiária, a segregação, o modelo de
segurança pública e etc.
Não
teremos transporte de qualidade em um país onde é princípio a garantia
dos lucros das empresas acima de todas as coisas. Não termos casas para
todos sem questionar o financiamento das grandes empreiteiras, o domínio
da terra, dos imóveis, a desigualdade na provisão de serviços urbanos.
Não
queremos apenas mais recursos para moradia, saúde e educação. Queremos
que esses recursos de fato melhorem a Nossa Vida e não os lucros e
comodidade da Casa Grande: patriarcal, racista e conservadora!
Para
enfrentar a crise precisamos atacar as suas raízes profundas e
manifestações óbvias a partir de uma agenda positiva. Nos próximos
textos buscarei dialogar com essa agenda a partir da atualidade e
urgência da luta pela reforma urbana em nosso país.
Fonte: BRASIL EM 5
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