PICICA: "O mais importante e bonito, do mundo, é
isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas
– mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior” –
Guimarães Rosa"
Basta o encontro de duas vibrações
semelhantes, ainda que ricas em diferenças, para haver ressonância. Uma
na outra nota, um no outro som. Dois timbres se
acrescentando entre si. Um cruzamento de interesses. Um se prolongando
no outro. Se será um bom ou mau encontro, nunca se sabe. Flauta e
Violino em comunhão? Transa de Voz e Violão? Pode ser intenso, é só uma
questão de medida.
Para viver e filosofar é de bom tom saber
um pouco de música. A ressonância é a capacidade de intensificar um
movimento! É preciso estar à altura deste processo. Cada objeto tem uma
frequência natural, duas ondas que sintonizam uma mesma frequência. A
ponte que cai com a força do vento, o grito que destrói o vidro.
Trezentas vibrações por segunda e Bum!, a matemática pode ser muito
dura.
E é assim com os signos, eles também
entram em ressonância. Pode ser construtivo ou destrutivo, depende do
encontro, do ponto de vista. Cada coisa tem um ritmo, cada uma vibra em
sua própria frequência. Temos que aprender a respirar, andar, cantar.
Fazer com que os ritmos da matéria entrem em ressonância. Tudo é
complicado, tudo está frequentemente implicado!
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior” – Guimarães Rosa
Na raiz da ressonância está o conflito, o
choque, o encontrão. É o único jeito de descobrir que atravessar o
outro pode ser atravessar a si. Bater de frente pode ser o melhor
caminho para sair do lugar. Deixar o pensamento, o som, a onda seguir
seu curso é ainda a melhor maneira de descobrir seus prolongamentos. O
como amamos os prolongamentos! Na rua, as ideias se encontram, marcam de
conversar, passam noites em marcha, enfrentam o cale-se e, no leve
andar da multidão, se intensificam. Escolhem-se aos pares, trios, quartetos…..
Como na música, ressonância é também uma
questão de altura. Graves baixos ou agudos clarins, pouco importa.
Encontramo-nos às portas da diferença, e estamos ansiosos por abri-la.
Ultrapassamos os limites e damos as mãos. Cruzamos as cercas, pulamos os
muros, voamos pelas janelas. Tudo para encontrar e fazer encontrar.
Soar e ressoar. Quantos timbres, quantas durações, quantas
intensidades, um mar de possibilidades.
Um desafio político: encontrar semelhança
sem subjugar a diferença; uma postura ética: tornar melhores os bons
encontros, fazê-los ressoar! Formar acordes de felicidade, acordar. Quão
potente ou impotente pode ser uma ideia ressonante? Quando abrimos um
livro de Espinosa,
quando observamos um quadro de Pollock, quando ouvimos um improviso de
Coltrane; somos atravessados! O corpo é um aglomerados de átomos que
vibram. Sentimo-nos arremessados contra um amontoado de ideias em
profusão, algumas delas nos fazem mover em velocidade infinita, que é
isto senão ressonância? Aquela sensação de sentir-se contemplado em um
pensamento.
Uma boa ideia é inofensiva se não
encontrar ressonância! É triste encontrar ideias potentes com pouca
amplitude. É mais triste ver ideias impotentes sendo veiculadas pelos
ares, ressoando artificialmente dentro de nossas casas! (veja aqui).
Assim, torna-se necessária uma sintonia, transmitir a própria estação,
“torna-te quem tu és”, rejeitar as máquinas de ressonância, fabricar
outras frequências, sintonizar outras ondas. É preciso habitar a
superfície, afinal, é só pelo contato que nos fazemos ressoar.
Fonte: RAZÃO INADEQUADA
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