PICICA: "A poesia doce e ácida, sagrada e profana de Hilda Hilst.
Hilda, sempre questionadora, em notas manuscritas, pergunta-se: “O que é obsceno? Obsceno? Ninguém sabe até hoje o que é obsceno. Obsceno para mim é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena.”"
Hilda Hilst a poetisa transgressora
Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, formou-se em Direito pela USP e faleceu em 4 de fevereiro de 2004 na cidade de Campinas (SP), onde viveu o resto de seus dias em sua chácara chamada Casa do Sol. Foi poeta, ficcionista, cronista e dramaturga. É considerada pela crítica especializada como um dos maiores escritores em língua portuguesa do século XX. Filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso.
Meus conhecimentos literários só me permitem me valer da emoção para falar de poesia, pois então posso dizer que a poesia de Hilda me emociona.
(Do amor) Ama-me. Ainda é tempo. Interroga-me. E eu te direi que nosso tempo é agora. Esplêndida de avidez, vasta ternura Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça Demasiado intensa. E de aspereza. É transitória se tu me repensas.
Se escrever é uma atividade viciante, escrever poesia é delirante e Hilda se alimentava das palavras, e com elas amava, brincava, protestava, morria e renascia, dizia tudo e não dizia nada. A mágica de transformar as palavras em puro lirismo, seus poemas têm ritmo de melodia e não por acaso Zeca Baleiro musicou alguns de seus versos, tendo sido ela também parceira de Adoniram Barbosa.
Hilda falava do amor, do amor físico, carnal, visceral e transcedente, porque não há como dissociar o corpo da alma, a vida da morte.
(Do desejo – 1992) E por que haverias de querer minha alma Na tua cama? Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas Obscenas, porque era assim que gostávamos. Mas não menti gozo prazer lascívia Nem omiti que a alma está além, buscando Aquele outro. E te repito: por que haverias De querer minha alma na tua cama? Jubila-te da memória de coitos e acertos. Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
E novamente citando Plutarco: “A pintura deve ser uma poesia muda e a poesia uma pintura que fale”. Os poemas de Hilda são como “pinturas falantes”.
O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus. Tentou na palavra o extremo-tudo E esboçou-se santo, prostituto e corifeu. A infância foi velada: obscura na teia da poesia e da loucura. A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito Tempo-Nada na página. Depois, transgressor metalescente de percursos Colou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra. Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar. A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo. O Caderno Rosa é apenas resíduo de um “Potlatch” E hoje, repetindo Bataille: “Sinto-me livre para fracassar”
Poesias Presságio - SP: Revista dos Tribunais, 1950. Balada de Alzira - SP: Edições Alarico, 1951. Balada do festival - RJ: Jornal de Letras, 1955. Roteiro do Silêncio - SP: Anhambi, 1959. Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959. SP: Massao Ohno, 1961. Ode Fragmentária - SP: Anhambi, 1961. Sete cantos do poeta para o anjo - SP: Massao Ohno, 1962. (Prêmio PEN Clube de São Paulo) Poesia (1959/1967) - SP: Editora Sal, 1967. Júbilo, memória, noviciado da paixão - SP: Massao Ohno, 1974. Poesia (1959/1979) - SP: Quíron/INL, 1980. Da Morte. Odes mínimas - SP: Massao Ohno, Roswitha Kempf, 1980. Da Morte. Odes mínimas - SP: Nankin/Montréal: Noroît, 1998. (Edição bilíngüe, francês-português.) Cantares de perda e predileção - SP: Massao Ohno/Lídia Pires e Albuquerque Editores, 1980. (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Cassiano Ricardo/Clube de Poesia de São Paulo.) Poemas malditos, gozosos e devotos - SP: Massao Ohno/Ismael Guarnelli Editores, 1984. Sobre a tua grande face - SP: Massao Ohno, 1986. Alcoólicas - SP: Maison de vins, 1990. Amavisse - SP: Massao Ohno, 1989. Bufólicas - SP: Massao Ohno, 1992. Do Desejo - Campinas, Pontes, 1992. Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995. Do Amor - SP: Massao Ohno, 1999.
Notas: Bataille – escritor francês falecido em 1962. Potlatch - antiga cerimônia religiosa celebrada entre tribos do noroeste do pacífico. Fontes: http://www.angelfire.com/ri/casadosol/pdesejo.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/hilda.htm http://www.revista.agulha.nom.br/ag41hilst.htm
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