PICICA: "Semelhança com os contos de
fada. Nunca desde esses contos os fenômenos mais vitais e importantes
foram vividos de forma tão não simbólica e sem atmosfera. O
incomensurável contraste com Maeterlink e com Mary Wigman. Todos os
filmes de Mickey Mouse têm como motivo sair para aprender o medo.
Portanto, não a “mecanização”,
não a “fórmula”, não um “mal-entendido” são a base do tremendo sucesso
destes filmes, e sim o fato de que o público neles reconhece sua própria
vida."
Mickey Mouse
por Walter Benjamin
(Fragmento escrito em 1931; não publicado durante a vida de Benjamin. Tradução de Pádua Fernandes)
De uma conversa com [Gustav]
Glück e [Kurt] Weill. - Relações de propriedade nos filmes de Mickey
Mouse: aqui aparece pela primeira vez que alguém pode ser roubado de seu
próprio braço, sim, de seu próprio corpo
O percurso de um documento em
uma repartição tem mais semelhança com um dos que Mickey Mouse percorre
do que com o dos maratonistas.
Nestes filmes a humanidade prepara-se para sobreviver à civilização.
Mickey Mouse demonstra que a
criatura ainda pode subsistir mesmo quando toda semelhança com o homem
lhe foi retirada. Ele rompe com a hierarquia das criaturas concebida com
fundamento no humano.
Estes filmes desautorizam, da maneira mais radical, a experiência. Não é compensador em um tal mundo ter experiências.
Semelhança com os contos de
fada. Nunca desde esses contos os fenômenos mais vitais e importantes
foram vividos de forma tão não simbólica e sem atmosfera. O
incomensurável contraste com Maeterlink e com Mary Wigman. Todos os
filmes de Mickey Mouse têm como motivo sair para aprender o medo.
Portanto, não a “mecanização”,
não a “fórmula”, não um “mal-entendido” são a base do tremendo sucesso
destes filmes, e sim o fato de que o público neles reconhece sua própria
vida.
Foto: SOPRO 99
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