junho 19, 2008

Ainda sobre o centenário da imigração japonesa

Uma pequena lembrança oriental para a luta antimanicomial...

Em 1984 conheci uma paciente internada no Juqueri desde 1944 (ano em que muitos japoneses foram perseguidos por conta da 2ª Guerra).

Ela não falava um única palavra em português. Sempre que tinha um papel e um lápis escrevia sempre os mesmos idiogramas.
Logo que pude levei para minha mãe traduzir.

O significado era: - Socorro, por favor me ajude!

Em seu prontuário, entre prescrições de sessões de eletro-choque, encontrei várias referências a escrita desses ideogramas ora desqualificando ("paciente tem o hábito de escrever garranchos") ora intrigadas mas sem nenhuma medida concreta.

40 anos depois, tentamos uma pessoa para se comunicar em japonês com ela. Sem êxito. O que ela conseguia falar era ininteligível. A única coisa que fazia, mecanicamente, gestos quase sem sentido, era escrever aqueles ideogramas nas folhas de papel.

A expressão e vitalidade de seu olhar haviam se perdido nos anos de internação e seu gesto tornara-se apenas movimentos mecânicos.

Mais uma das muitas vidas que se perderam..."Em nome da razão"

Silvio Yasui

Nota do blog: Silvio Yasui foi professor no Curso de Especialização em Saúde Mental, na Fiocruz do Amazonas. O curso teve duas versões, formando cerca de 80 alunos. O poder municipal teve oportunidade para criar Centros de Atenção Psicossocial, se houvesse vontade política para tanto. Entretanto, encerrará o mandato, melancolicamente, com a oferta de apenas um CAPS para a cidade de Manaus, que demanda, no mínimo por 8 desse tipo de serviço substitutivo ao hospital psiquiátrico e seus ambulatórios medicalizadores. Lástima!

Sílvio Yasui foi, também, consultor do primeiro CAPS de Manaus, criado pelo governo estadual. A bu(r)rocracia tanto fez que nos deixou sem o talento e a competência desse jovem doutor. Foram criadas tantas dificuldades para a remuneração do trabalho que Sílvio, despreendido, das 5 viagens agendadas, só pode cumprir 2 delas. Lástima!

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