junho 06, 2008

Militares se mobilizam em Chiapas "como não se via há anos", acusa ONG

NOTÍCIAS DE CHIAPAS - 05/06.2008

MILITARES SE MOBILIZAM EM CHIAPAS "COMO NÃO SE VIA HÁ ANOS", ACUSA ONG. Hermann Bellinghausen. La Jornada, 30/05/2008.

A partir da segunda metade de maio, em Chiapas, registrou-se um aumento das ações do Exército nas regiões indígenas, sobretudo, mas não exclusivamente, em comunidades zapatistas da selva e zona norte. Várias organizações concordam em que isso já faz anos que não vinha ocorrendo.

No último final de semana, a Junta de Bom Governo (JBG) Caminho do Futuro, no caracol de La Garrucha, confirmou a denúncia de uma operação militar e policial no ejido San Jerônimo Tuliljá (município autônomo Ricardo Flores Magón, e oficial de Chilón) ocorrida há dez dias e documentada por organizações de defesa dos direitos humanos.

Em 19 de maio, um helicóptero militar sobrevoou a comunidade tzotzil e chol, e mais tarde chegou um comboio do 18º batalhão de infantaria do Exército com base em Tabasco, bem como membros da Agência Federal de Investigações (AFI) e da Polícia Estadual Preventiva (PEP), "que cercaram três ruas onde há maior presença de bases de apoio do EZLN", detalha a JBG.

Os agentes federais ameaçaram de morte pessoas que aí se encontravam e irromperam em três casas sem apresentar mandatos de busca e sem dar explicações. Em seguida, os efetivos de ditas corporações se afastaram uma centena de metros e aí permaneceram até o dia 20.

A JBG sublinhou: "não há nenhum motivo que exija a entrada desses efetivos militares", e condenou "as atitudes violentas dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal)".

No dia 22, tropas federais entraram nas comunidades indígenas do município Venustiano Carranza. No 23, o Centro de Direitos Humanos Frei Bartolomeu de las Casas recebeu o testemunho dos moradores das comunidades Cruz Palenque, Usipá, Retorno Miguel Alemán e Nuevo Limar (município de Tila, na zona norte), "externando preocupação pela presença armada de membros do Exército no cruzamento de Cruz Palenque e Usipá", para realizar incursões em Jolaco, Usipá, Cruz Palenque e Nuevo Limar "com motivos desconhecidos".

Nas comunidades choles há temor, já que "o Exército tem começado a tomar posição em vários pontos do estado, além de uma constante mobilização por via terrestre nas comunidades mencionadas, como não se via há vários anos".

Na mesma sexta-feira 23, a Organização Camponesa Emiliano Zapata (OCEZ) denunciou que, durante mais de duas horas "um helicóptero do Exército ficou sobrevoando a uma altitude muito baixa a região onde se encontram as comunidades El Carrizal e Rio Florido (Ocosingo), ambas pertencentes à OCEZ-FNLS".

A situação provocou temor e insegurança entre a população, "sobretudo pela atitude persistente e intimidatória do sobrevôo que mostrava metralhadoras montadas nos suportes da aeronave, apontando para as casas e as pessoas".

Outras incursões militares foram registradas na região de fronteira de Marqués de Comillas. Ainda que pareçam fatos isolados, acontecem de repente e, em nenhum caso, as tropas e os agentes da polícia têm oferecido explicações. Como expressa a OCEZ, "não é a primeira vez que em Chiapas sofremos os aspectos humilhantes da militarização, já sabemos do que se trata".

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NOVAS INCURSÕES MILITARES EM COMUNIDADES DE CHIAPAS
Hermann Bellinghausen. La Jornada, 03/06/2008.

San Cristóbal de las Casas, Chiapas, 2 de junho. Prosseguem no estado as incursões militares em comunidades indígenas e camponesas seguindo um padrão que se repete: não são acompanhadas por nenhum tipo de explicação ou justificação das tropas federais e dos corpos policiais que, em alguns casos, fazem referências imprecisas à luta contra o narcotráfico.

Os episódios mais recentes ocorreram na última quinta-feira 29 de maio, quando nove caminhões do Exército e três camionetes da Polícia Estadual Preventiva (que transportavam também policiais municipais de Ocosingo), tentaram entrar na comunidade El Carrizal pelo caminho de terra. Ao perceber isso, as mulheres da Organização Camponesa Emiliano Zapata (OCEZ) formaram um cerco humano que lhes impediu a passagem.

De acordo com o grupo, "os soldados disseram que estavam só de passagem rumo às terras do vizinho município de Oxchuc, onde 'haviam localizado plantios de maconha'". Apesar de argumentar que estavam sendo acompanhados por integrantes do Ministério Público de Ocosingo, bem como por pessoas da comissão Estadual de Direitos Humanos, ninguém aceitou identificar-se perante a população. As mulheres da OCEZ, que integra a Frente Nacional de Luta pelo Socialismo (FNLS), "continuaram bloqueando o acesso até que o comboio recuou, estacionando a uma centena de metros do lugar".

Em seguida, a força pública tentou chegar ao caminho para as comunidades de Chulná e Rio Florida. Mais uma vez, homens e mulheres "fecharam com cadeado a grade de acesso e se concentraram para evitar a entrada dos militares". Soldados e policiais se retiraram, "não sem antes lançar a ameaça de que entrariam durante a noite",. O que até agora não ocorreu.

A FNLS, que na semana anterior havia se mobilizado pela "apresentação com vida dos lutadores sociais desaparecidos no regime de Felipe Calderón", repudiou estas ações "fascistas".

Em 23 de maio, um helicóptero sobrevoou estas comunidades por mais de duas horas, apontando suas armas contra a população. E, no dia 26, um patrulhamento semelhante se repetiu no vizinho Chalam el Carmen-San Agustín, tão rasante que a aeronave "quase tocava os telhados das casas", segundo testemunhas.

A OCEZ-FNLS esclarece que as comunidades hostilizadas "gerenciam sua regularização agrária, razão pela qual estão totalmente abertas a que instâncias civis estaduais e federais percorram a totalidade de suas terras". E aponta: "mais uma vez fica claro que a questão do 'narcotráfico' é um pretexto vil do governo federal para militarizar o país, com o verdadeiro objetivo de reprimir o descontentamento popular".

Você pode recuperar os textos já divulgados acessando o site:
http://groups.google.com.br/group/chiapas-palestina
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