julho 06, 2008

Conversando sobre filmes

Oleo do Diabo

Conversando sobre filmes

04 Jul 2008

Um dos problemas da crítica é que ela, na ânsia de se mostrar séria e profissional, esquece que é também uma simples opinião. O que não a diminui. Ao contrário. Uma opinião sincera vale mais que dez críticas. Outro problema é que ainda se superestima a erudição. Pior, as pessoas se acham eruditas muito facilmente. À sombra da internet, desenvolveu-se toda uma geração de nerds pedantes que acreditam piamente na sua superioridade cultural perante o comum dos mortais. No entanto, só a experiência produz verdadeiro conhecimento. Não falo de encher a cara, transar com meninos e meninas, arrumar briga no maracanã. A experiência que me refiro é VIVER a cultura. De que adianta ler um livro se não se o VIVENCIA. De que adianta ler Henry Miller como quem estuda o manual do Page Maker? Qual o sentido de ler Rimbaud se não for para perder os sentidos?

Por isso a ignorância é tão comum entre letrados. Eruditos, acadêmicos, especialistas, doutores, jornalistas, advogados, são títulos vazios. A cultura é algo muito superior, mais subjetivo, sacana, delicado, angustiante, estranho. Experiente.

Acredito no gosto, todavia. Na opinião. Na minha, ao menos.

O mundo está cheio de falsos revolucionários. O filme Batismo de Sangue, por exemplo, dirigido por Helvécio Ratón e inspirado no livro homônimo, do Frei Betto.

Trata-se de um filme horrível, que nega as regras mais básicas da ficção, entre elas desenvolver o aspecto humano dos personagens. Não há personagens. São todos marionetes de um diretor preocupado exclusivamente em contar uma história convencional. É triste ver que os bravos religiosos que lutaram contra a ditadura tenham sido transformados em espantalhos de óculos, figuras óbvias, artificiais, que agem como franksteins desfibrados e sonsos.

Eu gosto de filmes políticos. Mas de filme bom. Eles não usam black tie, por exemplo, do Gianfracesco Guarnieri, é um dos mais belos filmes brasileiros. É um filme político do começo ao fim, a começar pelo tema, que é a greve entre os operários de uma fábrica do ABC paulista. Mas é, acima de tudo, um filme humano. Um filme universal. Onde os traidores e os covardes são tão humanos quanto os mocinhos. Batismo de Sangue, com seu maniqueísmo tosco, fradecos santos contra os demônios da ditadura, agride a complexidade moral do homem, da história, da política.

Semanas atrás, vi outro filme muito ruim. Brasília 11%. Clichê oportunista, barato. O diretor é um grande nome do cinema, o Eduardo Coutinho, que possui trabalhos admiráveis. Não precisava desse filme para manchar sua carreira. Enfim, coisas da vida.

Bom mesmo é Ao Sul do Meu Corpo, um filme raro de se encontrar em locadoras e passar na tv, do grande Paulo Cesar Saraceni. Nuno Leal Maia faz o aluno, Paulo Cesar Pereio faz o professor. É um filme político, por exemplo, mas sobretudo poético, humanista e universal. O filme foi regravado em 2001, com o nome Duas Vezes com Helena, com Fábio Assunção no papel do aluno, e não possui 1% da graça e força dramática da primeira versão.

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Ao Sul Do Meu Corpo

Narra a história de um professor estéril que, para ter um filho, promove um encontro amoroso entre Helena, sua mulher, e Polydor seu melhor aluno. 30 anos depois desde um encontro, os três personagens voltam a ser vê e Polydor fica então sabendo de toda a verdade: Daquela união nascera um filho que, aos 25 anos de idade é morto por causa de suas atividades subversivas.

Ficha TécnicaTítulo Original: Ao Sul Do Meu Corpo
Gênero: Drama
Duração: 192 min.Lançamento (Brasil): 1982
Distribuição: Embrafilme
Direção: Paulo Cezar Saraceni
Assistente de Direção: Plácido de Campos Jr. E Giselle Gubernikoff
Roteiro: Paulo Cezar Saraceni
Produtor associado: Sérgio d`Antino
Produtor executivo: Sérgio Saraceni
Direção de produção: Guilherme Lisboa, Tânia Savietto, Malu Oliveira e Sílvia Wolfenson
Assistente de produção: Legis Schwartsbourd, Eduardo Zanoni e Daniel Santiago
Colaboração:
Co-produção: Sant'Anna Produtora Brasileira de Filmes e Embrafilme
Música: Sérgio Saraceni
Som: Walter Rogério
Fotografia: Marco Bottino e Aluízio Raulino
Camera: Marco Bottino e Aluízio Raulino
Assitente de fotografia: Felipe Caviña, Hugo Kovensky e José Roberto Eliezer
Fotografia de cena: Nícia Guerreiro
Desenho de Produção:
Direção de Arte: Ferdy Carneiro
Figurino: Francisco Spinoza
Edição: Ricardo Miranda
Maquiagem: Sergio Cecconi
Continuidade: Giselle Gubernikoff
Cartaz: Ferdy Carneiro

Elenco
Ana Maria Nascimento e Silva
Paulo César PereioNuno Leal Maia
Godofredo Telles
Othon Bastos
Maria Pompeu
Eliane Martins
Cissa Guimarães
Jalusa Barcellos
Cida Moreyra
Silvana Réa
Ana Moreira
Samuel Santiago
Oswaldo da Palma
Regina Célia Machado
Ivan Issola
Adalberto Freitas
Maria Helena Cardoso
Paulo Roberto Cardoso
Francisco Luís de Almeida Salles

Premiações

- Melhor Fotografia no X Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, RS, 1982.

Curiosidades

- Argumento baseado no conto "Duas Vezes com Helena" de Paulo Emilio Salles Gomes

- Por motivos políticos e depois de um ano e dez meses retido nas prateleiras da Censura o filme foi liberado.

- (...) "como na maior parte das experiências cinematovistas também, há uma sensível distância entre a riqueza das propostas e a eficiência da realização. Há um espaço tolerantemente demais deixado ao improviso. Há o apelo para que o espectador não aceite o filme como algo que deveria se encerrar em si mesmo, mas com ponto de partida para um outro filme que ele mesmo deverá elaborar (...) (crítica da época de Nélson Hoineff).

Fonte: Adoro Cinema Brasileiro
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