AUTOR DE VOLVÍ FALA SOBRE REPERCUSSÃO DA PEÇA NA CIDADE DE SÃO PAULO
Após 21 anos de espera pude ver, finalmente, minha peça Volvi, ou A Volta do Clown montada na cidade de São Paulo. Essa estréia para mim já seria motivo de muita alegria, mas não é só isso. Um outro componente aguçou a minha satisfação, por ser apresentada no teatro aonde conheci um dos grandes amigos e personagem dessa trama, Adilson Barros. Ali pensamos e inventamos a CPT que, neste ano, está completando 30 anos. Já o outro personagem, Luis Antônio, eu o conhecia desde as nossas atividades teatrais, ainda no interior de São Paulo, quando ambos davam os primeiros passos, cada um inspirado no seu guru. Ele, movido pelo seu interesse em Brecht e eu, modestamente, aprendendo vagarosamente a complexidade de Artaud.
Durante as primeiras semanas dessa nossa rápida temporada, a assessoria de imprensa procurou passar para o público e os iniciados em teatro, uma "palhinha" de que a peça é um depoimento de uma geração que foi alijada do processo político e social em que vivemos, hoje. Ao trazer a público a vida desses dois amigos, imaginei que isso fosse o suficiente para ter início uma discussão profunda, sobre o que vem acontecendo com o teatro e a sua relação com a Sociedade. Ledo engano! Hoje, vivemos uma luta encarniçada pela pauta e a inclusão de um tema novo ou de interesse alheio à vontade dos meios de comunicação, é praticamente impossível, a não ser que venha acompanhada de uma campanha publicitária vigorosa. Se não for do interesse das grandes corporações, por mais relevante que seja o assunto, ele não entra na ordem do dia. O exemplo atual de esconder à greve dos bancários que, afinal, afeta a vida da maioria da população, é a prova mais evidente de que só é discutido àquilo que, de alguma forma, atenda a determinados interesses, nem sempre expressos.
Nessa última semana de apresentação, no Teatro de Arena de São Paulo, resolvi escancarar os motivos que me levaram a escrever esta peça, já há muitos anos e, agora, com o Patrocínio da Funarte mostrada ao público paulista. Tanto Luis Antônio como Adilson são protagonistas de uma tragédia pessoal, sem precedentes e, por isso mesmo entendi que fosse lida como uma tragédia da geração. Apesar de atenuar o desenvolvimento do texto, com o lado engraçado da vida de ambos, e de todos nós, a verdade é que a reação do público foi diferente do esperado. Quem teve à oportunidade de assistir viu que a sociedade continua arredia para tratar de assuntos, como a loucura e a brutalidade praticadas nos dias de hoje. O tema da loucura, manifesta na vida de Adilson, conheço desde os primeiros textos que li sobre Artaud, ainda em Araraquara, quando lá também conheci Luis Antônio. Por outra, a forma sinistra com que morreu Luis Antonio poderia ter acontecido, também, com Adilson, pois ambos viviam da mesma forma - perigosamente.
A verdade é que ambos, também, faziam parte de uma geração patologicamente enraizada, na solidariedade e no amor pela Humanidade. Verdade, ainda, é que se vivos, com direito à voz e voto, o mundo de hoje não seria tão árido e individualista. Quem tiver interesse e oportunidade a de assistir a essas três últimas sessões, verá que Luis Antônio Martinez Corrêa e Adilson Barros fazem parte de uma mesma trama. Espero, portanto, ver amigos (e adversários) todos juntos na mesma Arena.
* Jair Alves - Autor e Diretor de Volví
Leia mais sobre a peça. Acesse http://cooperativa7985.ning.com/xn/detail/2874844:Event:3523?xg_source=activity
PICICA - Blog do Rogelio Casado - "Uma palavra pode ter seu sentido e seu contrário, a língua não cessa de decidir de outra forma" (Charles Melman) PICICA - meninote, fedelho (Ceará). Coisa insignificante. Pessoa muito baixa; aquele que mete o bedelho onde não deve (Norte). Azar (dicionário do matuto). Alto lá! Para este blogueiro, na esteira de Melman, o piciqueiro é também aquele que usa o discurso como forma de resistência da vida.
novembro 28, 2009
Volví encerrou temporada. Leia o comentário do autor
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