PICICA: "As primeiras medidas e declarações da nova ministra Ana de Hollanda sinalizam pelo desmantelamento das políticas culturais do governo Lula, que teve como titulares da pasta Gilberto Gil (2003-08) e Juca Ferreira (2009-10)."
A conservadora ministra da cultura.
Tom Zé no lugar de Ana de Hollanda.
Hoje, no Biscoito Fino e a Massa, Idelber Avelar fala da guinada conservadora do ministério da cultura. Vale muito a leitura, porque esquadrinha o debate e aponta a vários outros artigos sobre o caso. Também recomendo ouvir a entrevista do sociólogo Sérgio Amadeu, militante do software livre.
É lamentável. As primeiras medidas e declarações da nova ministra Ana de Hollanda sinalizam pelo desmantelamento das políticas culturais do governo Lula, que teve como titulares da pasta Gilberto Gil (2003-08) e Juca Ferreira (2009-10).
Entendo que a potência através do governo passado esteve na 1) contestação do paradigma proprietário dos direitos autorais, 2) promoção da cultura como rede colaborativa e transversal de cidadãos-produtores, imediatamente social e cidadã, 3) mais democracia em critérios de editais, distribuição de recursos e acesso a bens culturais e mídias compartilhadas. Nesse sentido, foram gestados os Pontos de Cultura, o incentivo ao software livre, a noção não-identitária (antropofágica) de cultura, e o reconhecimento de sua centralidade como geração de valor e riqueza.
Em resumo, o ministério da cultura foi a ponta-de-lança do governo na percepção e no encorajamento do comunismo das redes que vem se constituindo no século 21.
Lula nunca hesitou em se manifestar com entusiasmo pelo código aberto, pelo Creative Commons (instalado inclusive no Blog do Planalto) e até pelo Wikileaks e Julian Assange. Essa ousadia sem precedentes do último governo incomodou muita gente. As políticas do Minc irritaram sobretudo os latifundiários da cultura: indústria fonográfica (representada pelo ECAD --- Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), multinacionais de informática (ex.: Microsoft), mercado editorial, e medalhões apascentados pelo establishment.
Nesse contexto, causa perplexidade uma ministra de um governo de continuidade guinar 180 graus e "acertar as contas" com opções políticas até o mês passado em vigor. Gera revolta vê-la assumir a concepção diametralmente contrária, que serve direitinho ao ECAD.
Ou seja, governar não para os muitos, mas para a "classe artística" e os atravessadores implicados no processo. Favorecer não o acesso e a difusão livres e horizontais, de arte e conhecimento, mas a sua expropriação por intermediários e proprietários, no esquema do copyright. Promover não a democracia produtiva em rede colaborativa, onde todos podem criar, recombinar e transmitir conteúdos, mas a tal "indústria criativa" (aliás, contradição em si). Eis a pirâmide social que se extrai do discurso de Ana de Hollanda: medalhões no topo, genuínos representantes da cultura brasileira, a "difundi-la" de cima pra baixo ao cidadão meramente receptor.
Por tudo isso, participo da mobilização pela retomada da pauta da cultura livre. Mais do que isso, estou com os que propõem Tom Zé para substitui-la e efetivar o voto e a confiança no governo Dilma (campanha pró-Tom Zé no Facebook). O compositor e intelectual tropicalista de 64 anos tem trajetória e atitude talhadas para o desafio de seguir o exemplo de Gilberto Gil nesse campo tão vital.
Mais antropofágico e sensível à luta de cultura livre, Tom Zé reúne mais virtudes do ponto de vista democrático, do que Ana de Hollanda. Com ele, pode-se acreditar na continuidade e aprofundamento de uma política cultural que tanto orgulho (e irritação da direita proprietária) inspirou nos últimos oito anos.
Fonte: O Quadrado dos Loucos
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