março 06, 2011

Imprensa brasileira "dança" quando o assunto é a revolta no mundo árabe

PICICA: Até a cobertura do PICICA consegue ser melhor do que a maioria da imprensa brasileira quando o assunto é a revolta no mundo árabe. As matérias abusam da mistificação da questão árabe. São pobres em informação. Baseiam-se em estereótipos. Já não há como sustentar o discurso do terrorismo que a inteligência norte-americana tentou vincular à imagem do mundo árabe, tão explorado no cinema roliudiano e pela cobertura das TVs. Já as fontes do PICICA são quentes. Tanto que conseguimos chegar antes dos correspondentes da Rede Globo na Líbia. Com uma mãozinha da Al Jazeera, of course. Confira o vídeo aí embaixo, e leia o artigo de Emir Sader sobre outros problemas das editorias internacionais da imprensa brasileira.

De: | Criado em: 05/03/2011
Untrained Libyan rebels are advancing west rapidly, taking oil installations that many thought would be heavily defended by troops loyal to longtime leader Muammar Gaddafi. As they get closer to Sirte, Gaddafi's birthplace, they are trying to impose some kind of order on the road, and many wonder what kind of resistance - if any - they'll meet.

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O mundo e nós

As editorias internacionais da imprensa brasileira estão, em geral, entre as piores de todas as publicações. É praticamente impossível seguir um tema mais além de momentos específicos, seja porque o espaço reservado é muito pequeno, seja porque a própria equipe de internacional costuma ser reduzida.

Me lembro de ter perguntado a editor de um jornal paulista sobre o porquê disso e ele me respondeu que era porque não havia interesse dos leitores. Claro círculo vicioso: se produz uma internacional desinteressante e não se recebe demanda por maior empenho nos temas internacionais. Eu disse a ele que naquela semana o jornal que ele dirigia por herança familiar tinha publicado uma matéria muito interessante sobre a confissão de militares norteamericanos de que inflacionavam os sucessos durante os combates de uma guerra, para dar a impressão que estavam no bom caminho e assim obter mais recursos do governo e do Parlamento. Ele simplesmente não tinha lido.

Mas, ao dar pouca importância e espaço para a cobertura internacional, as publicações podem se valer dessa falta de informações para enganar os leitores, usando de forma equivocada exemplos de outros países. Basta dizer que aqui mesmo na América Latina a imprensa usou vários países em diferentes momentos, como “modelos” de neoliberalismo de sucesso. 


Em um certo momento o exemplo a seguir seria o México, até que a crise de 1994 – que os leitores não puderam entender, porque não lhes foi fornecida informações e analises concretos sobre a economia mexicana – terminou com essas ilusões. O primeiro país a assinar um Tratado de Livre Comércio com os EUA, ao invés de beneficiar-se desse suposto privilégio, era vítima dessa relação exclusiva.

Em seguida a Argentina ocupou esse lugar. Contava-se maravilhas sobre a política de paridade entre o dólar e o peso, até que a economia argentina implodiu de maneira espetacular em 2001/2002, provocando o maior retrocesso que o país viveu, revelando como a paridade era uma bomba de tempo, que finalmente terminou explodindo.

Um outro país que era muito citado como suposto modelo de neoliberalismo bem sucedido era a Coréia do Sul. Ao mesmo tempo não se davam as informações para que aquela referência pudesse ser controlada. A Coréia do Sul é um exemplo antineoliberal, em que o Estado teve sempre um papel muito importante, a ponto que a indústria automobilística é toda coreana e a metade dela é estatal. Bastaria isso para desmentir o uso que a imprensa fazia do caso coreano.

Ao mesmo tempo, as crises que detonavam os países antes considerados modelos eram sempre atribuídas a fatores conjunturais – Menem, Fujimori, PRI, Carlos Andrés Perez -, nunca ao esgotamento do modelo. Fôssemos depender da velha imprensa, não nos daríamos conta que foram surgindo governos de reação ao fracasso dos modelos neoliberais, que terminaram marcando toda a década recém terminada.

As editorias econômicas e principalmente os editoriais da velha mídia ainda não incorporaram o esgotamento do modelo neoliberal e o vigor dos modelos que os sucederam em tantos países da América Latina. A realidade avançou muito mais do que a capacidade das velhas cabeças dogmáticas pôde captá-la. Foi a imprensa alternativa, uma parte impressa, mas principalmente via internet, é que apontou para essas novas realidades e nos permite acompanhar esses processos inovadores.

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