junho 19, 2011

Marcha da Liberdade em Manaus surpreende e leva 500 pessoas às ruas (Dário do Amazonas)

PICICA: "O professor e psiquiatra Rogélio Casado, um dos líderes do movimento SOS Encontro das Águas e ativista pela luta anti-manicomial no Estado, também diz que a imprensa possui discurso muito conservador em relação às manifestações populares e que a Marcha da Liberdade é uma forma de dar uma visão alternativa não abordada pela grande mídia."


Marcha da Liberdade em Manaus surpreende e leva 500 pessoas às ruas

O número oficial, que ainda pode ter chegado a mil, de acordo com a PM, só não foi maior que os 1,6 mil de usuários da rede social Facebook que haviam confirmado presença.
[ i ]Marcha da Liberdade cruzou a avenida Djalma Batista, uma das mais movimentadas de Manaus.
Manaus - “Essa é a marcha do pessoal da maconha?”, perguntou um homem de meia idade a um policial que acompanhava que a Marcha da Liberdade, evento popular que aconteceu neste sábado (18) em mais de 30 capitais do país. Em Manaus, o evento, que começou a partir da repressão à Marcha da Maconha, em São Paulo, surpreendeu os organizadores e reuniu pelo menos 500 pessoas, o dobro do esperado.
O número oficial, que ainda pode ter chegado a mil, de acordo com a Polícia Militar, só não foi maior que os 1,6 mil de usuários da rede social Facebook que haviam confirmado presença no evento em Manaus. Alheios ao número oficial, os organizadores acreditam que a mensagem que o evento tinha como objetivo passar à sociedade – a necessidade de liberdade de expressão – foi transmitida.
A marcha começou 30 minutos depois do prazo marcado, 16h, tendo o Parque Ponte dos Bilhares, entre as avenidas Djalma Batista e Constantino Nery, como ponto de concentração. Os participantes, em sua maioria, jovens ligados a grupos de cultura, naturismo, transparência na política, democracia, luta por igualdade de sexos e anti-discriminação e anti-homofobia, seguiram pela Constantino Nery até o cruzamento com a Avenida Darcy Vargas. 
Percurso atrai olhares
Desta avenida, contornaram até a Djalma Batista até retornarem ao parque, onde ficaram por mais de uma hora após a marcha, em confraternização. Durante o percurso, que chegou a fechar em alguns momentos toda a extensão da via, os participantes entoavam gritos de ordem e empunhavam cartazes com dizeres a favor da liberdade de expressão.
A intensa e agitada movimentação chamou a atenção dos lojistas e transeuntes, que pareciam não entender o que viam. Alguns se questionavam se a caminhada era algum tipo de protesto contra a má qualidade do transporte coletivo, enquanto outros, em conversas entre si, classificavam a movimentação como sendo do “pessoal da maconha”.
Mas o movimento, nascido após a forte repressão à Marcha da Maconha, ampliou sua contestação e ganhou força após a decisão, nesta semana, do Supremo Tribunal Federal (STF) de não vedar manifestações em favor da descriminalização da maconha. Os ministros do STF entenderam que este tipo de manifestação não deve ser considerada apologia à droga, mas vista como um direito da liberdade de expressão. 
Críticas à imprensa
Outro ponto muito destacado no discurso dos participantes foram as críticas à imprensa. Na avaliação de muitos participantes, a imprensa dos grandes centros e de grande alcance massivo tem tido papel fundamental na manutenção de um discurso conservador, principalmente o que criminaliza a participação popular e o segmento que defende a descriminalização da maconha.
Para Juarez Silva, de 48 anos, paulista residente em Manaus há mais de 20 anos e membro do grupo Afroamazonas, a marcha representa uma das ferramentas usadas pelos movimentos sociais em todo o país para fazer reivindicações populares.
“Os movimentos sociais e populares tem tido como suas armas as marchas. Hoje é um dia em que temos militantes e ativistas de vários movimentos, uma união para reivindicação popular, para pedir mais liberdade de expressão em suas mais variadas formas”, afirmou. Ele também não poupou a imprensa.
“Nos últimos anos, essas ferramentas, como marchas e outras manifestações parecidas, estão sendo bem utilizadas. Você consegue ver ainda na imprensa um discurso reacionário, muito conservador. Mas esses movimentos estão perfeitamente dentro de uma questão constitucional, que é a liberdade de expressão.
‘Visão alternativa’
O professor e psiquiatra Rogélio Casado, um dos líderes do movimento SOS Encontro das Águas e ativista pela luta anti-manicomial no Estado, também diz que a imprensa possui discurso muito conservador em relação às manifestações populares e que a Marcha da Liberdade é uma forma de dar uma visão alternativa não abordada pela grande mídia.
Robson Hobold, de 25 anos, que frequenta o grupo Muiraquitã, que conta com estudantes da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e de servidores públicos, diz que a Marcha da Liberdade ajuda no esclarecimento de “pontos obscuros” na sociedade. Ele ainda acredita que o movimento serve para ajudar os jovens a entender a importância de seu papel na sociedade.
Organizações
Participaram da Marcha da Liberdade organizações como Instituto de Inteligência Socioambiental Estratégica da Amazônia (Piatam), Associação Movimento Orgulho Negro do Amazonas (Amonam), Movimento de Mulheres por Moradia Orquídea (MMMO) e Associação de Teatro de Periferia (ATP).
Outros que também marcaram presença foram Grupo Amazônico União Naturista (Graúna), Companhia Teatral em Cena (CTC), Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia (Carma) e Movimento LGBT Manaus.


Fonte: Diário do Amazonas

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