junho 28, 2011

"O PT, o novo MINC e o sequestro do pensamento nacional", por Carlos Henrique Machado Freitas

PICICA: "As elites brasileiras nunca quiseram saber de um projeto nacional de cultura, esse sempre foi um sonho dos intelectuais da esquerda brasileira. O comando do PT hoje, não tem coragem de defender a histórica bandeira do partido e, agora, finge que sanou a crise dentro do MinC, mesmo sabendo da estrondosa repercussão negativa dessa gestão. Com isso o PT vai perdendo musculatura política, e mesmo que esses números ainda não apareçam nas pesquisas de opinião o nítido sentimento de desencanto com o partido hoje como formulador de políticas públicas é sentido em todos os quadrantes da vida nacional."

O PT, O NOVO MINC E O SEQUESTRO DO PENSAMENTO NACIONAL.

Por Carlos Henrique Machado Freitas
É difícil sonhar com a possibilidade de um futuro promissor para a cultura brasileira neste momento em que o MinC tem como concepção de políticas públicas de cultura a busca pelo mercado globalizado.
Tudo indica que o pensamento, as reflexões críticas, o desenvolvimento intelectual e todo um acervo simbólico, estão condenados a viver numa terra regida pela bússola de uma indústria de manufaturados comuns que hoje engordam as estatísticas mágicas da teia especulativa que a Secretaria da Economia Criativa nos brinda com sua fábula de internacionalismo cultural.
As perspectivas teóricas desse monumento – SEC, não considera a própria dinâmica do ambiente cultural espontâneo no Brasil. Ao que parece, além do golpe tributário (Lei Rouanet), a cultura oficial do Brasil se divorciará de toda e qualquer forma de pensamento nutrida no seio da sociedade, e, mergulharemos no fundamentalismo do mercado a partir de técnicas implantadas no território nacional na busca por um sistema que compartimentação do espaço.
O Brasil que é reconhecido no mundo pela sua diversidade, com a nova carta de intenções do MinC, deve abandonar a sua potencialidade multidisciplinar e mergulhar no reino do artifício sustentável via indústria cultural patrocinada integralmente pelos aportes públicos.
QUEM GANHA E QUEM PERDE COM O RETROCESSO DO MINC
Lógico que quem sairá perdendo é a sociedade brasileira como um todo, mas, sobretudo os mais jovens. Há hoje um consenso dentro do MinC de que a busca pela integração no sistema de globalização cultural é a grande tacada de mestre e, portanto, as políticas do MinC estarão de costas para as realidades brasileiras, e subjugadas a uma nova ordem cultual mundializada pelo mercado.
O que, na prática, o Ministério da Cultura está propondo é que entreguemos todo um cabedal de conhecimento construído durante cinco séculos de interfecundações e novas amálgamas espontâneas a um sistema de comercio global de bens culturais, não em beneficio do cidadão brasileiro, mas a serviço da nova indústria criativa integrada pelo sistema neoliberal.
Lapidado, esse sistema limitará o número de pessoas, instituições e até empresas ligadas ao setor de negócios da cultura, como já acontece, ou seja, seguirá a própria lógica da globalização financeira. Mas, no Brasil isso se torna ainda mais perverso, pois contará com a o financiamento público, via Lei Rouanet. Um círculo acelerado de decadência econômica e intelectual, já que a lei em seus 20 anos de existência nos mostrou que tanto as contrapartidas econômicas quanto intelectuais, se comparadas com os investimentos públicos, são deficitárias e acumulam enormes prejuízos que são jogados diariamente na contas da sociedade.
Todo esse raciocínio é anti-histórico. Se olharmos, por exemplo, para a Semana de Arte Moderna de 22, esta senda do mercado como mola propulsora da arte nem foi cogitada e, no entanto o nível de desenvolvimento de nossa cultural ganhou uma análise que possibilitou um extraordinário desenvolvimento que chega a quase um século.
O Brasil tem na sua cultura o principal combinado de soberania, portanto, abandonar um projeto nacional em busca do eldorado comercial de comando internacional é renunciar ao nosso próprio histórico.
AS POLITICAS DO MINC – O PREÇO POLITICO QUE O PT PAGARÁ
Nossas formas internas de integração sempre tiveram a cultura como a grande avalista. A globalização cultural que o MinC está importando da Europa, é um absurdo, em se tratando de um Ministério sob a responsabilidade do PT e dentro de um governo também do PT. Pois estamos em fase de transição nesta gestão no sentido de negarmos a cultura como cidadania integral e, com isso, nos rendendo à ira do mercado onde o conceito de protagonista crítico é rebaixado, quando muito, a um status de dócil consumidor de bens culturais. Neste caso, o MinC se apresenta não como o órgão oficial de fomento às reflexões contemporâneas, mas ao gerenciamento do setor de serviços aonde é iniciada uma política de terceirizações e quarteirizações de feiras e outros eventos culturais, como é o caso, por exemplo, da Europália, um prato feito para os atravessadores corporativos que agenciam essa transfusão de recursos públicos para o setor privado.
As elites brasileiras nunca quiseram saber de um projeto nacional de cultura, esse sempre foi um sonho dos intelectuais da esquerda brasileira. O comando do PT hoje, não tem coragem de defender a histórica bandeira do partido e, agora, finge que sanou a crise dentro do MinC, mesmo sabendo da estrondosa repercussão negativa dessa gestão. Com isso o PT vai perdendo musculatura política, e mesmo que esses números ainda não apareçam nas pesquisas de opinião o nítido sentimento de desencanto com o partido hoje como formulador de políticas públicas é sentido em todos os quadrantes da vida nacional.
As elaborações de políticas hoje no MinC atendem apenas as forças do mercado e não mais as forças representativas da sociedade que sustentaram o governo Lula. O Brasil é um turbilhão efervescente de cultura que nitidamente o atual comando do MinC não se dá conta e nem tem interesse. Por isso está indo lá fora caçar borboletas.
E essa efervescência que está na base da sociedade é que pode confluir com uma produção de idéias que estabelecerão um novo marco cultural no Brasil, assim como foi a semana de 22 comandada por Mário de Andrade. Mas o MinC tenta forçar um outro caminho, um caminho empacotado e dependente de um sistema global onde estamos pleiteando apenas a condição de elenco de apoio e não de protagonistas de um novo paradigma na geopolítica global.
Fonte: Trezentos

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