junho 24, 2011

Teatro: "Eu vi a Lua", por Jair Alves

PICICA: "As três histórias assim contadas, embaladas pelas melodias tristes de Tonico e Tinoco traçam um painel de nossas origens. Mas, quem está interessado em conhecer nossas origens e nossa história congelados nos objetos e expostos como um altar ao final da representação? Só o tempo dirá, se isso tem a ver com todos os “nós” do hoje em dia."



Eu Vi a Lua
(peça em cartaz no Teatro Coletivo - SP)


Texto de Jair Alves - dramaturgo

Não é nada fácil avaliar com profundidade o trabalho realizado pela Cia Teatro da Cidade sem tocar em feridas mal cicatrizadas do Teatro e da vida Paulista, além de amealhar novos amigos e perder uns tantos outros, do contrário não se chega a lugar algum. Para quem não tem vínculos mais estreitos com a Mega Economia desse Estado, mais precisamente dessa portentosa Capital fica também difícil entender o que aqui se passa. O espetáculo que acaba de estrear no Teatro Coletivo,frente ao cemitério da Consolação que aconchega Mario e Oswald de Andrade, talvez seja a inspiração de que precisamos para entender a Paulicéia e a vida no interior do Estado.

Durante os setenta minutos em que transcorreu a encenação fiquei pensando na palavra, Vingança, que permeia grande parte do que vimos no palco. Ao final, encontrou-se uma solução bastante satisfatória para o nó dramático e fez com que eu saísse um pouco aliviado sem saber, contudo, se nós estamos caminhando para tempos melhores.

O autor, Luiz Alberto de Abreu, por si só já vale não apenas umas “mal-traçadas linhas” com avaliações ou impressões ditadas pela emoção, mas por um estudo sobre sua obra história no Teatro brasileiro recente que vai de A a Z. Talvez, um livro seja pouco para demonstrar o que ele  já produziu, e não me aventuro a isso. No caso específico de Eu VI A LUA vou me deter aos aspectos da dramaturgia que trata dos caipiras desse “interiorzão” paulista, porque conheço muito sobre eles por ser um dos remanescentes caipiras e que carregava nos erres não com a aridez nordestina, mas passando “banha de porco” nos seus finais. Por isso mesmo considero afilhado dos parceiros do Rio Bonito. Outra coisa que chamou minha atenção nessa conversação foi o interesse do autor pelos passos do Teatro Nô, anunciado nos realeses de divulgação da peça. Para mim fica mais fácil ver sobre o quê estão falando os contadores de “causos”, e foi o que mais me interessou nessa empreitada.

Nos primeiros minutos, não ficou muito claro como transcorreria a encenação, o que começou aparecer já no segundo episódio. “Verdade verdadeira” e que incomoda a qualquer cidadão que anda enroscado em celulareslap-topsiPods, iPads, é ficar olhando àquele pessoal com a preguiça que mais parece Macunaíma (mas não é). É gente (os atores) que ganha a vida de forma mais confortável, cada um do jeito que melhor encontrou, ao contrário dessas besteiras de teatro que “os desocupados, como Cláudio, Andréia e o próprio Luis Alberto” (risos) ficam inventando todos os dias.Verdade, para ser justo, é que depois dos quinze minutos não desgrudei “os zóios” da sanfona e do proseado meloso dos seis atores que não sai de cena nenhum minuto sequer. O curioso é que entre um arrumar de saia e de viola, ainda tive tempo e “garrei” numa besteira pra pensar: “vai que dá uma caganera num deles, cumé que ficaPara tudo?” Verdade é que eles ficaram o tempo todo trocando a roupa diante do público, sempre usando àquelas ceroulas por baixo que não dava pra ver nem uns cinco centímetros de carne viva. Com é que esse teatro pode sobreviver, sem mostrar “as carnes?” Não é que mostraram que pode, sim?  A narrativa, que pra mim é uma boa prosa, foi se ajustando como teatro e a coisa enroscou que nem cachorro no cio, e assim foi até o final.

Não deu pra fugir que um passo em direção ao encantamento esse grupo conseguiu, em relação ao trabalho anterior - Maria Peregrina, do mesmo autor e Grupo. Como se vê, a coisa tem dado certo: Benzadeus!!!

Aí veio o nó da questão - A Vingança! De onde surgiu isso, tão arraigado na cultura sertaneja? Penso que dos tempos de Antão. É do modo de ser e estar do português, carcamano, voltado como um “tatu-peba” para o seu núcleo familiar. Para eles a família é tudo e o que vem de fora é nada, ou quando muito forasteiro. Se perder o “seu bem querer para outro”, o único caminho é bala nele, “nela, essa disgramada que não reconhece meu amor”. As três histórias assim contadas, embaladas pelas melodias tristes de Tonico e Tinoco traçam um painel de nossas origens. Mas, quem está interessado em conhecer nossas origens e nossa história congelados nos objetos e expostos como um altar ao final da representação? Só o tempo dirá, se isso tem a ver com todos os “nós” do hoje em dia. O teatro serve pra isso, para ajudar a gente a encontrar um significado em cada vida errante ou agarrado ao chão que nasceu, como se viu nos personagens femininos. Os homens se locomovem, enquanto as mulheres acompanham ou ficam lamentando o passado. A cena final é um sopro de esperança de que essa sina pode mudar.

Para melhor localizar o conteúdo cênico e da vida do caipira paulista e seu contexto histórico e social, a jornalista Suely Pinheiro fez uma pequena resenha que pode melhor orientar o leitor de primeira viagem.


Material de apoio:




Um comentário:

adesantus disse...

eu VI A PEÇA , E RECOMENDO ..E FANTASTICA .,.