junho 12, 2011

"A máscara de Cabral", por Mario Augusto Jakobskind

PICICA: "E nesta história vale também assinalar o papel lamentável de partidos que em anos passados combatiam exatamente o tipo de violência ordenada por Sérgio Cabral. Pois é, PT, PDT, PC do B e PSB, considerados de esquerda, apoiam e participam de um governo que reprime trabalhadores. E usam a dialética para justificar a prática fisiológica. Ficarão mal na história se continuarem com esse procedimento e ainda por cima ocupando cargos na administração estadual."

A máscara de Cabral

Por Mario Augusto Jakobskind (*)
O farsante Governador Sérgio Cabral passou dos limites. Eleito no primeiro turno com uma expressiva votação, proporcional aos milhões de reais gastos em sua campanha, financiado por grupos econômicos que não pregam prego sem estopa, Cabral se indispôs com os bombeiros, que ganham salários aviltantes, o mais baixo do Brasil com R$ 950,00 iniciais, e tentaram durante meses abrir um canal de negociação para reparar a injustiça.
Como não foram atendidos decidiram ocupar o Quartel General da corporação, no centro do Rio de Janeiro, junto com seus familiares e algumas horas depois baixou a repressão, por ordem do Governador, de forma extremamente violenta, exatamente como nos tempos da ditadura. Os bombeiros dizem que o Governador tem raiva da categoria porque em 2008 recebeu uma tremenda vaia em um ato em que a categoria estava presente.
Foram destacados soldados do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) que ao invadirem (aí se aplica o termo) o QG dos bombeiros utilizaram até armas letais ferindo mulheres e crianças. Entraram pelos fundos, jogaram bombas e deram tiros, na base do prende e arrebenta. Saldo: 439 bombeiros presos, que ficaram por seis dias em condições precárias em um quartel de Charitas, em Niterói, mas acabaram soltos por decisão do Tribunal de Justiça do Rio, graças a um habeas-corpus impetrado por três deputados (Protógenes Queiroz, do PC do B de São Paulo, Alessandro Molon (PT-RJ e Doutor Aloyzio (PV-RJ). Mas seguem presos 14 bombeiros num quartel em Jurujuba, Niterói, e nove na Polinter.
Não contente com o que mandou fazer, Cabral ofendeu os bombeiros chamando-os de vândalos. Não é a primeira vez que usa esse linguajar contra trabalhadores. Já havia ofendido os médicos ao considerá-los vagabundos e os professores de preguiçosos.. E fica apoplético quando alguém cobra de que forma adquiriu uma casa num luxuoso condomínio em Angra dos Reis, incompatível com o salário de cargo político.
Os professores do Estado do Rio entraram em greve por tempo indeterminado.  Não será nenhuma novidade se Cabral repetir o que sempre faz quando é contestado, ou seja, ordenar repressão e ofender categorias profissionais.  Já reprimiu também professores nas escadarias da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e tudo ficou por isso mesmo. E ainda tem coragem de dizer que é democrata, repetindo a fala de generais de plantão na época da ditadura.  .
E nesta história vale também assinalar o papel lamentável de partidos que em anos passados combatiam exatamente o tipo de violência ordenada por Sérgio Cabral. Pois é, PT, PDT, PC do B e PSB, considerados de esquerda, apoiam e participam de um governo que reprime trabalhadores. E usam a dialética para justificar a prática fisiológica. Ficarão mal na história se continuarem com esse procedimento e ainda por cima ocupando cargos na administração estadual.
Estes partidos estão perdendo o tempo da história e não perceberam que a opinião pública, mesmo os que votaram em Sérgio Cabral começam a entender que caíram no conto do vigário, ou melhor, de Sérgio Cabral.
Aliás, falando em partidos, o Brasil vive uma situação surrealista. Por exemplo, Aldo Rebelo, do PC do B, usando a sua dialética particular em nome do socialismo, fez o jogo da patota do agronegócio como relator do Código Florestal, recebendo por isso rasgados elogios da senadora Kátia Abreu, agora no PSD, um partido que diz não ser de direita, nem de esquerda, muito pelo contrário. E Sarney filho, digno representante da oligarquia maranhense, é líder do PV na Câmara dos Deputados. É de morrer de rir, se tudo isso não fosse trágico.
PSDB, DEM e PPS voltaram a ficar sem bandeiras. Aproveitaram o embalo do caso Palocci. Estavam fazendo e acontecendo, como se fossem os mais puros do planeta (uma piada, sobretudo se for feito uma checagem dos seus componentes e lá encontrando políticos que desabonam o Congresso), mas foram surpreendidos com a saída do Ministro.
 A revista Veja, linha auxiliar da direita, no seu estilo mentiroso e caluniador de sempre, investiu contra a nova Ministra Chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Ao contrário do vômito da revista contra a senadora, Hoffmann se destacou em cinco meses de mandato por apresentar projetos em defesa das mulheres. Um dos quais é o que prevê a concessão de aposentadoria a donas de casa de baixa renda, porque se trata de um pleito que faz justiça a um setor expressivo da população brasileira.
É verdade que Palocci nunca foi flor que se cheire, mas como ele, existem figuras idênticas aos borbotões, o que demonstra também, a que ponto de deterioração chegou o sistema político brasileiro. Na área econômica, vários ex-manda-chuvas passaram a prestar serviços diretos ao capital financeiro porque antes, ocupando cargos públicos, favoreciam a esses mesmos interesses. E ninguém fala nada a respeito, como se isso fosse padrão de normalidade. Tem até economista, André Lara Rezende, com castelo na Inglaterra.
Faço minhas as palavras do bravo Rui Martins: seja bem-vindo Cesare Battisti. O neofascista Sílvio Berlusconi está esperneando para consumo interno e ainda tenta render o caso que já está encerrado, ameaçando com baboseiras o Brasil. Faz isso para tentar ainda conquistar a opinião pública envenenada por anos de samba de uma nota só, ou seja, de criminalização total de Battisti, sem direito de defesa. As TVs Globo e Bandeirantes, no esquema de total subserviência, fazem a sua parte. Mino Carta também.
*Mario Augusto Jakobskind é jornalista.
=> Artigo publicado originalmente no site “Direto da Redação”


Fonte: Quem tem medo da democracia?

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