junho 29, 2011

CMM discute "combate" às drogas e jornal omite as vozes dissonantes

PICICA: Mensagem para o Julinho (não reparem a intimidade que não tenho com o autor do texto jornalístico, salvo nos encontros sociais onde ele costuma ser afetuoso para com este escriba). Causou-me estranheza a cobertura dada ao evento da Câmara dos Vereadores. Em nenhum momento são citados os quatro discursos que destoaram da maioria dos oradores - e foram muitos. Tamanha foi a perplexidade com o volume de informações, que deixou atordoado o propositor da audiência pública, vereador Homero de Miranda Leão. "São tantas informações... eu, pelo menos, não as conheço", declarou ao final do encontro. Ora, se foi estabelecido o contraditório, porque elas não foram parar nas páginas do jornal. Considero a omissão um desserviço à opinião pública. Os autores contrários ao discurso quase hegemônico da mesa são, por ordem: a representante do Conselho Regional de Psicologia, psicóloga Iolete Ribeiro, este escriba, uma representante do pessoal que trabalha com Redução de Danos e o ativista Alexandre Victor, que participou da organização da Marcha da Liberdade. Em sua fala, Iolete, que compunha a mesa, fez a mais importante das comunicações que o jornal omitiu: não se faz política anti-drogas sem ouvir os usuários, cuja ausência na audiência era notória. Trata-se da mesma posição defendida pelo Conselho Federal de Psicologia. De minha parte, critiquei a falta de políticas públicas para o setor, que resultam em subsídio financeiro das eufêmicas comunidades terapêuticas, cuja irregularidade no seu funcionamento não é desconhecido das autoridades sanitárias: em sua maioria o quadro de profissionais é insuficiente e incompleto. Curiosamente, a proposta de Política de Saúde Mental, aprovada pelo Conselho Estadual de Saúde Mental, previa um orçamento de 200 milhões de reais para atender a ampla demanda por serviços de saúde mental, inclusive às relativas aos abusadores de álcool e outras drogas. Só a construção do novo estádio de futebol, para a Copa do Mundo 2014, está orçada em 600 milhões. Há alguma coisa errada nessa lógica perversa. A representante da Redução de Danos fez críticas sutis ao perigo de manicomializar as demandas por cuidados dos abusadores de drogas: nem o estado, nem o município assumiram responsabilidades com este segmento, e, como se não bastasse, depois de repassar recursos financeiros para terceiros, o estado quer construir um centro para internação de dependentes na contra-mão da política nacional anti-drogas. Pior é que Dilma Rousseff, pressionada pela mídia, contribuiu para confundir o cenário liberando verbas para as comunidades terapêuticas. Mais um pouco e ela cede ao modelo proposto no Amazonas. Era só o que faltava. Finalmente, Alexandre Victor desconstruiu as insinuações pseudo-científicas que costumam sustentar o debate sobre dependências: afinal sexo causa tanta dependência quanto café. Diria, pra finalizar, que até os poderes causam dependência, sobretudo as relações promíscuas com o poder. O que nos falta, além de políticas concretas para o setor, é uma cobertura jornalistíca atenta aos novos discursos no enfrentamento das questões que a produção e o consumo de drogas assumiram na sociedade contemporânea. Fale quem quiser falar mal de FHC. Aos oitenta anos de idade, ele se ombrea ao lado do imortal Jefferson Peres, que em páginas de A Crítica saudou a descriminalização da maconha, como um instrumento importante para por fim à hipocrisia e inaugurar o novo período que se abre com o fracasso da Guerra às Drogas, política norte-americana que mal disfarça seus interesses geopolíticos na América Latina. Como se vê, meu caro, o volume de informações é caudaloso e profundo. Pena que você tenha colaborado para que elas não viessem à luz nas páginas de um veículo que tem obrigações éticas para com a circulação da informação. Não me queira mal, Julinho, pela crítica fraterna tão necessária para espantar a passividade que, felizmente, parece ter seus dias contados em nossa amada terra.

CMM discute campanha de combate às drogas

Ideia de vereadores é realizar campanha maciça para dar abertura ao diálogo entre pais e filhos sobre as consequências das drogas

Manaus, 21 de Junho de 2011

Júlio Pedrosa

Tramita na CMM projeto de lei que deve ser votado até agosto e visa a criação do Conselho Municipal de Combate às Drogas
Tramita na CMM projeto de lei que deve ser votado até agosto e visa a criação do Conselho Municipal de Combate às Drogas (Bruno Kelly )
 
Uma audiência pública realizada nesta segunda-feira (20), na Câmara Municipal de Manaus (CMM), marcou o início da programação de atividades alusivas à Semana Nacional de Combate às Drogas em Manaus.
O evento visa chamar a atenção do poder público para a questão das drogas, com destaque para a necessidade da criação de uma campanha maciça de divulgação junto à população de informações sobre o consumo de entorpecentes e os seus efeitos. 

A ideia é que, a exemplo de campanhas voltadas para a massificação de conhecimentos sobre doenças como dengue, paralisia infantil e gripe, sejam postas à disposição da sociedade também informações sobre as drogas e como os pais podem abordar o assunto com os filhos.

Leia mais em A Crítica

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