PICICA: "Sem
entender absolutamente porque, milhares foram retirados das margens do
Rio Javari e outros afluentes, e levados para as sedes do município onde
vivem em péssimas condições, de tudo."
Terra de Fronteira - Benjamin Constant - Foto: Renato Pitanga
Os extraídos. Salve o dia da independência!!!
por Renato Pitanga Souza, quarta, 7 de setembro de 2011 às 09:55
Há pouco mais de um ano uma epidemia se alastrou por Benjamim Constant, eram os batedores de carteira, dedo fino, mão leve e (nesse caso que vou narrar nada românticos) covardes, atacavam velhinhos de preferência, sem serem notados. Bater carteira de velhinhos, pobres? Sim! E de preferência antes de entrarem no banco. Só mesmo na fronteira, o que queriam então?
A resposta veio meio por acaso. É que durante uma semana, final de mês, não sei bem qual o mês, do ano de 2009, todos os dias dois ou três idosos adentravam o estúdio da Rádio, pedindo pra anunciar a perda dos documentos, e, lógico, do cartão do Bradesco, que todos eles costumam deixar anexado o papel com “senha” e tudo. Que m a r a v i l h a! No descuido, tomavam a carteira, se dirigiam ao banco e sacavam o que tinha na conta. O detalhe é que sem o cartão a vitima se quer pensava em ir a agencia bancária, fazer o que lá? Nem passava pela cabeça denunciar o roubo, não sabiam, pensavam ter perdido o documento.
Cada um no isolamento do seu problema, e eu como ponto convergente. No terceiro que chegou, com a mesma história, detectei, no meio do anuncio, indaguei: já foi no banco pedir o cancelamento? Não senhor, disseram pra ir primeiro à delegacia e etc, etc, etc, me responderam. Ainda no Ar, eu fui taxativo: queria lhe dizer que vocês foram roubados e o banco, negligente, que pra mim é cúmplice, porque além de não ter uma câmera, umazinha sequer, deram o tempo que os meliantes precisavam pra fazer o saque, com a sempre desnecessária omissão.
De imediato me interessei pelo assunto, queria saber quem eram e porque estavam na mira. Eram homens, idosos, desses que a burrice sarcástica aprendeu chamá-los de melhor idade, desses encontrados em filas “sociais” (parece bonitinho) em busca do beneficio das “bolsas e amparos. Esses senhores, exclusivamente, esses cidadãos, eram os excluídos ou extraídos do paraíso e jogados no meio do inferno urbano que é a periferia das pequenas cidades do interior. Que horror! Vocês não sabem, mas essas pessoas foram retiradas, por força da (in) Justiça, dos lugares onde haviam nascido, muitos deles há mais de sessenta anos.
Sem entender absolutamente porque, milhares foram retirados das margens do Rio Javari e outros afluentes, e levados para as sedes do município onde vivem em péssimas condições, de tudo. Era pra sair só os madeireiros, mas a Lei, cega, mandou todos saírem. São milhares, entre eles pessoas que nunca haviam saído de lá, por nada, pra nada. Esses, sem proteção de ONGS ou do Governo, foram ludibriados e caíram nas garras de advogados espertalhões que embolsaram suas indenizações. Milhares de processos foram concluídos, milhares de indenizações foram pagas, centenas delas não chegaram as mãos dos verdadeiros donos, e os que receberam, ficaram com menos da metade do valor, tenho documentos, recibos, inclusive de ONGS e advogados.
Essa movimentação criou uma onda de pedidos. A mesma “gang“ começou a recolher assinatura para uma ação coletiva, ao custo de R$ 12,00 por pessoa, foram mais de 20 Mil, não saiu mais nada pra ninguém, nem para os que foram extraídos do seu beiradão!
Na minha emissora, Encanto do Rio FM, faço minha parte, recolhi provas, recibos e depósitos bancários,mais de quinhentos ao todo, e ao longo desses dois anos venho denunciando, apresentando o problema a Deputados Federais, Senadores, à Grande mídia e não consegui nada, e hoje, meio que por acaso, estou desabafando aqui, na grande rede, quem sabe esse assunto repercuta, ecoe pelo mundo. Quem sabe devolvam a essas pessoas o direito de viver e cuidar do paraíso, afinal, temos que protegê-los, também contra a extinção.
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