PICICA: "De qualquer forma, uma análise sobre os acontecimentos na
Bolívia não pode deixar de considerar o recuo de Morales atendendo os
apelos dos seus irmãos índios. Em qual país da América Latina e do resto
do mundo tal fato acontece?" Em tempo: No Brasil, nós tamo pebado, maninho! Tão cedo não teremos um indígena na presidência da república.
Um presidente que sabe voltar atrás
Por Mario Augusto Jakobskind (*)
O Presidente boliviano Evo Morales deu exemplo para os demais dirigentes de como se pode voltar atrás em determinadas circunstâncias. Uma estrada que passaria pelo Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS) foi contestada por indígenas que consideravam a obra, financiada pelo brasileiro Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), atentatório ao meio ambiente e divisória de suas terras.
Uma dura repressão, segundo informaram as agências de notícias, não ordenada por Morales se abateu sobre os manifestantes. Morales não pensou duas vezes, suspendeu a obra e agora quer que seja submetida ao julgamento popular através de um plebiscito. O Presidente boliviano garantiu que não foi dele a ordem da repressão, fato que será investigado e os responsáveis punidos.
Embora em um primeiro momento a culpa tenha recaído sobre Evo Morales, quem se lembra de como os movimentos sociais na Bolívia eram reprimidos não poderia acreditar que a ordem da repressão tenha partido dele. Afinal, como líder dos cocaleiros antes de ser Presidente, conheceu de perto a repressão ordenada por governos neoliberais em episódios que remontam o ano 2000, como, por exemplo, a Guerra da Água em Cochabamba e assim sucessivamente.
É possível que a construção da tal estrada sem consultar os indígenas da região tenha sido precipitada. Deve-se cobrar do BNDES como liberou verbas para uma obra que seria executada pela empresa brasileira OAS e é denunciada como atentatória ao meio ambiente. Isso é contra os princípios e a legislação que regula o próprio banco de fomento. Como o BNDES ainda não tinha propriamente liberado a verba para a construção, agora se espera que os técnicos responsáveis do setor sejam mais prudentes e voltem atrás, bem como daqui para frente analisem melhor os projetos polêmicos na hora de dar o sinal verde para a sua execução.
Se assim procedesse no caso da estrada na Bolívia, críticas ao Brasil do tipo expansionista e único interessado na obra em questão poderiam ter sido evitadas. E não percam por esperar, a mídia de mercado do Rio e São Paulo provavelmente vai cair em cima de Morales acusando-o de não respeitar compromissos assumidos e coisas do gênero. Claro, os editoriais deverão defender os interesses da empreiteira OAS. Faz parte do DNA da mídia de mercado.
De qualquer forma, uma análise sobre os acontecimentos na Bolívia não pode deixar de considerar o recuo de Morales atendendo os apelos dos seus irmãos índios. Em qual país da América Latina e do resto do mundo tal fato acontece?
O acontecimento na Bolívia remete à usina de Belomonte, onde indígenas e movimentos sociais estão denunciando que os moradores do local não foram consultados para a realização das obras e mesmo assim elas estão sendo tocadas sem obedecer preceitos de conservação do meio ambiente, o que o IBAMA nega.
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Já na Espanha, segundo o jornal El Pais, depois de 75 anos foi descoberta uma vala comum com restos de republicanos assassinados sumariamente pelas forças do fascista Francisco Franco, que acabou vitorioso na guerra civil e governou o país ibérico por mais de 40 anos. Familiares de vítimas de massacres em lugarejo próximo de Cádiz e Málaga não desistiram das buscas dos restos mortais, finalmente encontradas.
Tal fato também remete ao Brasil, onde familiares das vitimas da repressão da guerrilha do Araguaia não desistem de encontrar os restos de opositores que foram mortos fora de combate. O Estado brasileiro por sinal tem até o mês de dezembro para responder uma petição da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos sobre onde se encontram os restos das vítimas do Araguaia.
A luta de 75 anos dos espanhóis serve para demonstrar os que pensam ao contrário, ou seja, como é importante não desistir no meio do caminho, mesmo que o Estado não se mostre tão interessado em desvendar os mistérios sobre vítimas da repressão. Esse raciocínio é válido para todos os quadrantes do mundo onde a repressão truculenta predominou. O Brasil do pós 64 está enquadrado nesse contexto.
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Nem bem o líder palestino Mahmoud Abbas
apresentou formalmente na Assembleia geral da ONU o pedido de
reconhecimento com Estado membro das Nações Unidas, o governo extremista
de Benyamin Netanyahu ordenou a construção de 1.100 casas na parte
oriental de Jerusalém, em Gilo, área os palestinos residem e Israel
ocupa.
Nem preciso dizer que se trata de uma
pura provocação de quem não quer a criação do Estado Palestino e usa de
sofismas do tipo que em vez de pedir o reconhecimento na ONU os
palestinos deveriam negociar com os israelenses. Trata-se de uma mentira
deslavada, porque negociações ocorrem desde 1990 e os resultados são
praticamente nulos. É o caso também de perguntar: que tipo de negociação
deseja o troglodita político Netanyahu e seus correligionários?
Este teatro do absurdo tem o respaldo do
governo estadunidense, que não exerce nenhum tipo de pressão sobre
Israel e na prática também não quer a criação de um Estado Palestino
livre e soberano. O que querem Israel e os Estados Unidos é apenas um
Estado que nasça condenado a ter seu território dividido e totalmente
submisso aos interesses sionistas.
Esta é uma realidade que não se pode
fugir e que Israel tenta evitar utilizando como argumento que críticas
ao desempenho de qualquer governo do país, seja ele Netanyahu ou
trabalhista, é de tendência antissemita. Este é o exemplo típico de como
o oprimido de ontem vestiu hoje a camisa do opressor.
Fonte: Quem tem medo da democracia?
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