julho 04, 2012

"E a cidade onde fica?", por José Aldemir

PICICA: "Como não é possível fazer tudo deve-se estabelecer, de início, prioridade (no singular), mobilidade urbana, moradia, recuperação do patrimônio arquitetônico e ambiental, e com isso articular as funções da cidade propondo a ruptura urbana para construir uma cidade com qualidade de vida para todos os seus habitantes."  EM TEMPO: Dos nomes que postulam a prefeitura de Manaus nenhum deles se manifestou a favor da participação democrática da sociedade civil organizada sobre o futuro da cidade. A expansão da zona metropolitana da cidade, por exemplo, está sendo gestada à revelia das nossas organizações. Como nunca se viu nenhum deles manisfetando-se a favor, fazê-lo agora soaria oportunismo, posto que a história é um processo em que os antecedentes políticos pesam na balança. Ou, pelo menos, deveriam. Pobre Manaus, o planejamento da cidade continuará sob o signo da "tecno-burocracia" e seus arremedos pseudo-democráticos. Se dependesse dos candidatos a alcaide de Manaus, o porto privatizado das Lajes teria sido construído no Encontro das Águas não fosse a resistência popular. NENHUM DOS CANDIDATOS MANIFESTOU-SE CONTRÁRIO ÀQUELE DESCALABRO. Conveniências político-partidárias impediram-nos de assumir este e outros compromissos. Dado os "interésses" - como diria Brizola - que os unem aos grupos políticos dominantes, nada garante qualquer mudança nesse cenário. Lástima! A luta continua.

E a cidade onde fica?








Nas últimas semanas abundam discussões sobre aqueles que deveremos escolher para administrar Manaus. Não tenho competência muito menos interesse em fazer análises das questões políticas, porém como citadino chamou-me a atenção um dado: onde estão as propostas para administrar a cidade que nortearam as escolhas dos candidatos e candidatas?
Como citadino alinhavo aqui algumas questões que deveriam orientar a todos aqueles que se apresentam para administrar a cidade.
 A primeira, o que é a cidade contemporânea? A segunda, qual é o significado de uma cidade de quase dois milhões de habitantes localizada na zona equatorial e situada no meio da floresta e à margem de dois dos maiores rios do mundo?


Para a primeira, pode-se alinhavar que a cidade contemporânea é por excelência o lugar das contradições que lhe conferem multiplicidades de olhares entrecruzados na busca de explicações dos inumeráveis significados, cidade-problema, cidade-representação, cidade-empresa, cidade-plano, cidade-sustentável. Seja como for, a cidade aparece e se impõe como multiplicidade das demandas de como morar, trabalhar, circular, cuidar do corpo e do espírito. Ou seja, a cidade deve ser pensada como um lugar múltiplo que necessita de diagnóstico e prognóstico – O Plano, que deve ser discutido e apoiado pela sociedade para que ultrapasse a agenda eleitoral, pois os graves problemas de Manaus não serão resolvidos em quatro anos.


Como não é possível fazer tudo deve-se estabelecer, de início, prioridade (no singular), mobilidade urbana, moradia, recuperação do patrimônio arquitetônico e ambiental, e com isso articular as funções da cidade propondo a ruptura urbana para construir uma cidade com qualidade de vida para todos os seus habitantes.

É preciso ter coragem para pelo menos discutir que a magnitude da crise contemporânea demanda um projeto de cidade que transcende as fronteiras do mercado. O próprio discurso da cidade sustentável, em sua origem, pressupõe a articulação complexa que integra a multiplicidade de aspectos sociais. Assim, a sustentabilidade liderada pelo mercado e apoiada somente em mudanças técnicas será sempre reducionista e, portanto, necessariamente insustentável.


Para a segunda questão, é necessário compreender que a natureza é importante na configuração dos espaços, todavia o determinante é o que se lhe acrescenta a sociedade. A Manaus de hoje é um lugar bem diverso da cidade pretérita, não só porque o conjunto arquitetônico, a infraestrutura e a natureza foram profundamente modificados, mas, sobretudo, mudaram as demandas de uma cidade que continua com a mesma localização, mas conectada com e no mundo.


A complexidade de uma cidade como Manaus não pode prescindir da objetivação construída pela racionalidade da ciência e da técnica visando criar alternativas de ações que servirão ao desvendamento da realidade. Mas só isso não basta, é preciso o conhecimento e as expressões que emergem das pessoas simples que tem ritmo próprio e diverso do que lhes é imposto.


Estas poucas reflexões me remetem a uma pesquisa com moradores de rua, em que um deles falou que a vida, (apontando para uma planta próxima ao viaduto), está na flor solitária (a flor era a única no cinzento dos prédios ao redor). E onde está a esperança, retruquei? Ele respondeu, mais ou menos assim: é preciso não perder a cabeça. Ainda podemos errar tudo de novo. Quem sabe um dia dê certo.


Aquele homem tem todo o tempo, nós não o temos mais.

Fonte: Diário do Amazonas

Nenhum comentário: