fevereiro 02, 2014

‘Mancheteiros’ e ‘explicadores’, por Carlos Castilho

PICICA: “Queremos redatores obcecados por sua área de conhecimento, que sejam capazes de noticiar, explicar e também de investigar. Precisamos de hackers [programadores] e outros gênios em processamento de dados que possam explicar as notícias de um jeito melhor do que as palavras. Precisamos de produtores de vídeo que possam fazer animações de dois minutos sintetizando temas complexos. Precisamos de designers que possam construir o primeiro projeto híbrido combinando notícia e enciclopédia”

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‘Mancheteiros’ e ‘explicadores’

Por Carlos Castilho em 30/01/2014


Uma nova migração de grandes nomes do jornalismo norte-americano sinaliza uma tendência inovadora, alimentada pela internet, no mercado da notícia. Trata-se de uma segmentação das prioridades editoriais em duas áreas diferentes: a da noticia dura (números, fatos ou eventos), base de manchetes que atraem o público; e a dos “explicadores”, profissionais experientes que acumularam conhecimentos em temas específicos.

Nos últimos meses, pelo menos doze grandes nomes do jornalismo impresso nos Estados Unidos migraram para projetos nascidos na internet, trocando salários altos e estabilidade por risco e liberdade de criação. A troca de emprego pode ter sido determinada por interesses puramente pessoais, mas ela revela uma mudança mais profunda e que altera o panorama da imprensa tradicional pré-internet.

O fenômeno dos “explicadores” resulta da combinação da crescente complexidade dos fatos noticiados em manchetes e com a frustração de profissionais capazes de explicar o contexto ampliado do que anunciamos nos veículos de comunicação jornalística. Perplexo e desorientado pelo bombardeio diário de notícias, o público começa agora a procurar referências capazes de ajudá-lo a entender o caos informativo da era digital.

Trata-se de um novo nicho de mercado surgindo na área jornalística que, curiosamente, está sendo mais explorado por independentes e por empresas de base tecnológica do que pela imprensa convencional. Os explicadores, em sua quase totalidade, foram formados nas redações de grandes jornais, revistas ou emissoras de televisão.

As empresas onde trabalhavam, ou ainda trabalham, bem que tentaram se adaptar aos novos tempos da interatividade e da avalancha informativa, mas a rigidez e a centralização vertical das estruturas corporativas entraram em conflito com o individualismo e com o deslumbramento dos novos profissionais/empreendedores diante das novas tecnologias de comunicação e informação. O resultado foi a migração de nomes como David Pogue, Nate Silver, Andrew Sullivan e agora Ezra Klein para projetos na internet.

O crescimento do setor dos “explicadores” na mídia sinaliza o surgimento de um novo paradigma na imprensa, tanto online como offline. O novo segmento não tem a agilidade, a amplitude e imediatismo informativo das redações voltadas para a cobertura das chamadas notícias duras (hard news). Assim, a tendência é a complementaridade entre “mancheteiros” e “explicadores”, uma divisão de tarefas e responsabilidades em pé de igualdade.

A notícia dura é tão importante quanto a contextualização e a explicação. A notícia dura chama a atenção do público porque altera o universo cognitivo de um indivíduo ao introduzir um número, fato ou evento novo e desconhecido. As alterações do universo cognitivo provocadas pelo noticiário diário geram incertezas ou curiosidade que alimentam a necessidade de contextualização para entender o que está acontecendo.

Até agora, os veículos tradicionais de comunicação jornalística procuraram atender, num único ambiente, tanto a demanda por notícias duras como a busca de explicações. Tudo indica que, agora, o público vai diversificar as suas fontes de informação. O hard news já está onipresente na internet, redes sociais, smartphones, tablets, outdoors, emissoras de rádio e de TV. Contrastando com a concentração da produção de notícias duras em poucos veículos, começa a se esboçar uma pulverização dos “explicadores”, tanto entre jornalistas de grife, famosos por seus conhecimentos e estilo personalizado, como entre os curadores de informações (jornalistas profissionais e praticantes do jornalismo) que recomendam fontes e abordagens para temas específicos.

O projeto Vox Media investe forte na atração de explicadores para seu site afirmando: “Queremos redatores obcecados por sua área de conhecimento, que sejam capazes de noticiar, explicar e também de investigar. Precisamos de hackers [programadores] e outros gênios em processamento de dados que possam explicar as notícias de um jeito melhor do que as palavras. Precisamos de produtores de vídeo que possam fazer animações de dois minutos sintetizando temas complexos. Precisamos de designers que possam construir o primeiro projeto híbrido combinando notícia e enciclopédia” [texto original aqui].

Fonte: Observatório da Imprensa

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