PICICA: “Queremos
redatores obcecados por sua área de conhecimento, que sejam capazes de
noticiar, explicar e também de investigar. Precisamos de hackers
[programadores] e outros gênios em processamento de dados que possam explicar as notícias de um jeito melhor do que as palavras.
Precisamos de produtores de vídeo que possam fazer animações de dois
minutos sintetizando temas complexos. Precisamos de designers que possam
construir o primeiro projeto híbrido combinando notícia e enciclopédia”
Código Aberto
‘Mancheteiros’ e ‘explicadores’
Por Carlos Castilho em 30/01/2014
Uma nova migração de grandes nomes do jornalismo norte-americano
sinaliza uma tendência inovadora, alimentada pela internet, no mercado
da notícia. Trata-se de uma segmentação das prioridades editoriais em
duas áreas diferentes: a da noticia dura (números, fatos ou eventos),
base de manchetes que atraem o público; e a dos “explicadores”,
profissionais experientes que acumularam conhecimentos em temas
específicos.
Nos últimos meses, pelo menos doze grandes nomes do jornalismo impresso nos Estados Unidos migraram para projetos nascidos na internet,
trocando salários altos e estabilidade por risco e liberdade de
criação. A troca de emprego pode ter sido determinada por interesses
puramente pessoais, mas ela revela uma mudança mais profunda e que
altera o panorama da imprensa tradicional pré-internet.
O fenômeno dos “explicadores” resulta da combinação da crescente
complexidade dos fatos noticiados em manchetes e com a frustração de
profissionais capazes de explicar o contexto ampliado do que anunciamos
nos veículos de comunicação jornalística. Perplexo e desorientado pelo
bombardeio diário de notícias, o público começa agora a procurar
referências capazes de ajudá-lo a entender o caos informativo da era
digital.
Trata-se de um novo nicho de mercado surgindo na área
jornalística que, curiosamente, está sendo mais explorado por
independentes e por empresas de base tecnológica do que pela imprensa
convencional. Os explicadores, em sua quase totalidade, foram formados
nas redações de grandes jornais, revistas ou emissoras de televisão.
As empresas onde trabalhavam, ou ainda trabalham, bem que tentaram se
adaptar aos novos tempos da interatividade e da avalancha informativa,
mas a rigidez e a centralização vertical das estruturas corporativas
entraram em conflito com o individualismo e com o deslumbramento dos
novos profissionais/empreendedores diante das novas tecnologias de
comunicação e informação. O resultado foi a migração de nomes como David
Pogue, Nate Silver, Andrew Sullivan e agora Ezra Klein para projetos na
internet.
O crescimento do setor dos “explicadores” na mídia sinaliza o surgimento de um novo paradigma na imprensa, tanto online como offline.
O novo segmento não tem a agilidade, a amplitude e imediatismo
informativo das redações voltadas para a cobertura das chamadas notícias
duras (hard news). Assim, a tendência é a complementaridade entre “mancheteiros” e “explicadores”, uma divisão de tarefas e responsabilidades em pé de igualdade.
A notícia dura é tão importante quanto a contextualização e a explicação. A notícia dura chama a atenção do público porque altera o universo cognitivo de um indivíduo ao
introduzir um número, fato ou evento novo e desconhecido. As alterações
do universo cognitivo provocadas pelo noticiário diário geram
incertezas ou curiosidade que alimentam a necessidade de
contextualização para entender o que está acontecendo.
Até agora, os veículos tradicionais de comunicação jornalística
procuraram atender, num único ambiente, tanto a demanda por notícias
duras como a busca de explicações. Tudo indica que, agora, o público
vai diversificar as suas fontes de informação. O hard news já está onipresente na internet, redes sociais, smartphones, tablets,
outdoors, emissoras de rádio e de TV. Contrastando com a concentração
da produção de notícias duras em poucos veículos, começa a se esboçar uma pulverização dos “explicadores”,
tanto entre jornalistas de grife, famosos por seus conhecimentos e
estilo personalizado, como entre os curadores de informações
(jornalistas profissionais e praticantes do jornalismo) que recomendam
fontes e abordagens para temas específicos.
Fonte: Observatório da Imprensa
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