junho 12, 2008

O aborto em discussão

Nota do blog: Para melhor visualizar o mapa do aborto no mundo acesse http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/29/AbortionLawsMap.png

Mulheres de Olho

Observatório da Imprensa repercute reportagem de Claudia

11 Jun 2008

O Observatório da Imprensa publicou ontem, 10 de junho, artigo de Ligia Martins de Almeida que chama atenção para a isenção e o conteúdo progressista da reportagem que a revista Claudia publicou este mês sobre a questão do aborto, na seção Atualidades e Gente.
Assinada pelas jornalistas Alessandra Roscoe e Patrícia Zaidan, a matéria de Claudia oferece uma cobertura ampla mostrando como a lei brasileira está entre as mais retrógradas; dados epidemiológicos e de opinião pública; o panorama no Congresso Nacional com seus riscos de retrocesso legislativo por força da atuação religiosa e a postura avançada do Ministério da Saúde e da Secretaria de Política para as Mulheres. Cita também o perfil das mulheres que abortam de acordo com pesquisa recente da UnB/ UFRJ/ MS e o caso do indiciamento em bloco do Mato Grosso do Sul.

Temos uma correção a fazer. O mapa publicado por Claudia -por uma leitura equivocada provavelmente pela imprecisão do original [que pode ser visto aqui]- mostra parte do Chile como região que permite o aborto por razões econômicas, quando na verdade o aborto é considerado crime neste país sob qualquer circunstância. Nem mesmo nos casos de estupro ou risco de vida para a mulher a lei chilena abre exceção.

O mapa também não indica que na Cidade do México o aborto está descriminalizado e legalizado.

Publicamos a seguir o artigo de Ligia Martins de Almeida, na íntegra, seguido dos links para acessar a reportagem da revista Claudia. Boa leitura!

O ABORTO EM DISCUSSÃO

A revista Claudia parece ter reencontrado sua vocação de pioneirismo na discussão dos temas femininos com “O mapa do aborto”. A matéria – seis páginas da edição de junho – é ilustrada por um infográfico que mostra a situação mundial em relação ao aborto: de países (em vermelho) onde é proibido aos países (em verde) onde é permitido sem restrições. E, em um convite para as leitoras, toma posição: “Leia esta reportagem e entre no debate para pressionar o Congresso Nacional – se depender dos parlamentares, nossa legislação vai andar para trás”.

Sem tratar de casos pessoais e sem apelar para argumentos emocionais, a revista presta um serviço às leitoras com as estatísticas que revelam os efeitos dos abortos clandestinos, mostra os projetos relacionados ao tema e explica o que está acontecendo hoje no Brasil:
“O Projeto de Lei nº 1.135/91, que elimina a pena de prisão (de um a três anos) para quem aborta e que pode tirar o Brasil da zona vermelha para alinhá-lo com os países modernos, corre risco de engavetamento. Depois de ser rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família, aguarda um parecer na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, onde a possibilidade de vitória é remota: quem a preside é o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da bancada evangélica e um dos signatários da proposta que torna o aborto um crime hediondo.”

Um problema que é de todos

Além de discutir a pressão religiosa no Congresso, a revista fala de propostas que classifica como “pérolas do atraso”: a concessão do pagamento de um salário mínimo por mês (por dezoito anos) para mulheres vítimas de estupro que tenham o filho e o projeto quer criar um registro público de gravidez. E mostra o que o governo tem feito para ajudar mulheres vítimas de práticas inseguras.

Sem discutir aspectos éticos, religiosos ou morais da opção pelo aborto, a revista preferiu discutir a realidade – os dados sobre a prática ilegal, a situação no resto do mundo e convocar as leitoras ao debate, argumentando:

“Mesmo que você seja contra o aborto e tenha certeza de que jamais irá praticá-lo, deve entrar nessa discussão, já que a proibição não impede que, a cada ano, conforme estimativas, 1 milhão de abortos sejam realizados no Brasil, sendo que 220 mil deles levam a infecções graves e perfurações no útero, entre outras complicações. Concordar com a descriminalização não é endossar a prática como método de planejamento familiar. Trata-se de respeitar o direito de quem pensa diferente, numa sociedade diversa e plural como a nossa.”

Sem dúvida, uma maneira jornalisticamente eficiente de trazer para suas páginas um assunto que diz respeito às leitoras e a todas as mulheres: um assunto sério, discutido com seriedade, sem menosprezar a inteligência de quem lê.

Fica agora, além do convite para as leitoras de Claudia, um convite para os demais veículos da mídia, principalmente aqueles que se autoclassificam como preocupados com os problemas da sociedade como um todo: que sigam o exemplo da revista e também discutam, sem entrar no terreno da religião, um problema que é de toda a nação.

Ligia Martins de Almeida, no Observatório da Imprensa, 10/6/2008

***

Links para leitura da reportagem de Claudia:

As leis do aborto no Brasil e no mundo

Pérolas do atraso

Pressão religiosa

Polêmica aberta

(Des) esperança/ A ação clandestina provoca…/ Correndo por fora

Perfil de quem aborta/ Mulheres sob ataque

Angela Freitas/ Instituto Patrícia Galvão
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