Nota do blog: A experiência demonstra que municípios pequenos são mais agéis na implantação de seus CAPS (Centros de Atençãqo Psicossocial). Para isso contribui o tamanho de seu território e da sua população, aliada a uma engenhosa operação - na qual pelo menos um tipo de profissional (o de psiquiatria) desloca-se entre municípios circunvizinhos. Não é que o se observa na geografia do estado do Amazonas, onde o deslocamento mais barato é feito atavés de barcos pela sua imensa bacia hidrográfica. Mas não é só por isso que apenas os municípios amazonenses Parintins e Tefé têm seus respectivos CAPS: faltam especialistas de diversas áreas do conhecimento, e, sobretudo, falta vontade política para enfrentar o desafio de cuidar de pessoas com transtornos psíquicos em seu próprio território. Até porque os CAPS tipo I e II não precisam de médico especializado em psiquiatria; baster ter um clínico com especialização em saúde mental, ou com supervisão permanente.
Telesaúde - O Amazonas está se preparando para atender os profissionais que trabalham no interior através do Sistema de Telesáude da Universidade do Estado do Amazonas (em convênio com a OPAS e USP), através de uma programação que vai de oferta de pequenos módulos com temas de interesse em Saúde Mental até a consulta com especialistas para obter uma segunda opinião. No Rio Grande do Sul, o companheiro Flávio Resmini lidera um serviço desse tipo, tendo inclusive apresentado o resultado desse trabalho num Congresso na Europa. Que venha o do Amazonas!
CartasRadis nº 67 – Março de 2008
Sumário
Saúde mental no Ceará
O Ceará conta com uma população de, aproximadamente, 7,5 milhões de habitantes, dos quais 28% vivem na capital, Fortaleza. Em dezembro de 2007 havia 75 Centros de Atenção Psicossocial instalados, 14 na capital. Em políticas públicas de saúde, é um estado de vanguarda desde o fim do século 19. Nasceu aqui, há mais de 100 anos, a engenharia de territorialização para melhor atender a população. A varíola foi controlada por vacinação — antes da revolta da vacina no Rio — pela persistência de Rodolfo Teófilo. No início da década de 1990 era gestado em Icapuí, posteriormente em Quixadá, o Programa Saúde da Família pelo trabalho de Odorico Monteiro de Andrade.
Na saúde mental também mostra espírito pioneiro. Até o início dos anos 1990 as internações psiquiátricas eram realizadas exclusivamente nos hospitais de Fortaleza, Crato e Sobral. A partir de 1991 vieram os Caps de Iguatu, Canindé e Quixadá (1993), Icó e Cascavel (1995) e Aracati (1997), pela perseverança de profissionais e intelectuais ligados à saúde mental. Havia troca de experiências constante nas Jornadas de Saúde Mental, nos Encontros de Caps, em cursos de aperfeiçoamento e atualização: o processo que evoluía rapidamente em suas práticas e produção de conhecimento, mas lentamente na quantidade de novos serviços.
Quixadá tem 70 mil habitantes, bastante urbanizado, localizado no sertão central do Ceará, pólo comercial microrregional, e vem se destacando como centro universitário. Nas demandas de atenção psicossocial prevalecem “os mal-estares difusos, crises familiares, dificuldades sexuais e estilos de vida favoráveis ao uso de substâncias tóxicas”, segundo o sanitarista Jackson Sampaio. Em 13/12/07, o Caps/Quixadá comemorou 14 anos com sua 15ª Jornada de Saúde Mental e Cidadania. Nosso serviço conta, hoje, com mais de 6 mil clientes ativos (com prontuário), referência regional em saúde mental para diversos municípios em seu entorno.
A equipe é composta por um psiquiatra, dois psicólogos, um arte-terapeuta, uma enfermeira, duas terapeutas ocupacionais, uma assistente social e sete auxiliares de saúde mental, executando atividades como ambulatório de psiquiatria, psicoterapia individual e de grupo, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, atendimento a dependentes químicos, além de palestras, cursos e campo de estágio.
Caíram de 100 para apenas 6 as transferências anuais para hospitais psiquiátricos. Há programas de tratamento de alcoolistas, controle do consumo de medicamentos benzodiazepínicos e pesquisas epidemiológicas.
• Julio Cesar Ischiara, psicólogo, Quixadá, CE
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