TAQUI PRA TI
UM DIÁRIO DE MAIO DE 68
José Ribamar Bessa Freire
01/06/2008 - Diário do Amazonas
O poder instituído organiza a memória coletiva, inventando lembranças e, em conseqüência, determinando o que deve ser esquecido. Ergue monumentos a alguns personagens, que passam assim a ser ‘atores da história’, e silencia sobre outros, que deixam de existir, mergulhados no olvido. Nesse processo de memória seletiva, muita coisa é escondida, ocultada, jogada debaixo do tapete. “O passado é aquilo que não passou do que passou”, nos ensina o poeta João Cabral de Mello Neto. Nesse sentido, o passado não está antes, mas dentro do presente, a memória é construída.
O Museu Paulista, por exemplo, erguido lá, nas margens plácidas do Ipiranga, exibe estátuas gigantescas de mármores dos bandeirantes, apresentando-os como heróis nacionais: estão lá esculturas de Raposo Tavares, Fernão Dias e de todo o Esquadrão da Morte, convivendo com a estátua de bronze de D. Pedro I e com estatuetas que decoravam as mansões da elite brasileira. Suas vitrines mostram dezenas de estojos contendo cachinhos e mechas de cabelos de senhoras da Casa Grande, mas não tem nada da senzala, nem sequer um pentelho de um índio ou de um negro.
Existe assim uma intenção deliberada de apagar a resistência e a contribuição de negros e índios para a formação do Brasil. E não é por falta de ‘atores da história’. Em sua tese de doutorado sobre a Amazônia, David Sweet apresenta uma longa lista com nomes de 98 índios que lutaram contra o poder colonial português só nos rios Negro e Urubu. Nenhum deles é oficialmente lembrado. Não existe sequer um beco com o nome deles. Não foi por mera coincidência que o zoólogo Hermann von Ihering, diretor do Museu do Ipiranga no final do século XIX, propôs o extermínio físico dos índios.
A memória é um campo de disputas acirradas. Aquilo que uns querem esquecer, outros lutam para lembrar, como vimos recentemente com as comemorações do movimento de maio de 1968, na França. De um lado, o presidente Sarkozy declarou que quer apagar o que chamou de “herança maldita”, mas de outro acabam de ser editados os arquivos inéditos sonoros da RTL, com as gravações dos programas de rádio que cobriram os acontecimentos da época: viaturas da polícia incendiadas, barricadas, prisões, centenas de feridos, a Sorbonne ocupada, depois de declarada “comuna livre” com o hasteamento de uma bandeira vermelha.
Leia o texto na íntegra em Taquiprati
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