julho 03, 2008

O caso Ildebrando

O caso Ildebrando

O CAPS de Manaus, segundo o governador Eduardo Braga, nasceu de uma teimosia. É fato. Da sua criação, em maio de 2006, participaram Wilson Alecrim, Secretário Estadual de Saúde; Pedro Gabriel Delgado, Coordenador Nacional de Saúde Mental, e a Coordenação Estadual de Saúde Mental, por mim representada.

No início de 2006, o Ministério Público determinara a criação de 2 CAPS e 2 Moradias Assistidas. Problema: a criação dos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) passara a ser responsabilidade do Poder Municipal, desde que a municipalização da saúde fôra assinada no final de 2003, depois de mais de uma década de protelação pelos poderes políticos da época (seus responsáveis têm endereço, RG e CPF conhecidos).

O quadro inspirava cuidados: se ao Estado cabiam novos deveres, o que esperar de um Município que não construíra competências no campo da Saúde Mental? Ora, tão cedo os serviços que substituem o hospital psiquiátrico e seus ambulatórios medicalizadores não viriam à luz. E a cidade precisava, desesperadamente, do sinal de que outro tipo de atenção às pessoas em sofrimento mental era possível.

A decisão política do governador retirou Manaus de uma estatística vergonhosa: mais de 30% dos municípios acima de 300 mil habitantes não possuíam CAPS tipo III. Sucede que em 1 ano o CAPS de Santa Etelvina deveria ter sido repassado ao município. Aos novos servidores contratados por concurso público estadual, caberia ao município acrescentar os que faltavam para fechar o quadro de recursos humanos exigidos pelo serviço. Nada disso foi feito.

As tensões decorrentes do compromisso ético assumido pelos novos trabalhadores de saúde mental não poderia resultar em outra coisa: conflitos diários com a gerência do serviço. Nada, porém, justifica o afastamento do único enfermeiro do CAPS Silvério Tundis. Dar-se ao luxo de prescindir de gente como Ildebrando Leite, num cenário de escassas competências técnicas e compromisso ético com a luta por uma sociedade sem manicômios, é retroagir.

Manaus, Junho de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Raio-X do jornal Amazonas em Tempo, que sai todas às quartas-feiras.
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