Pesquisa visa criação de orquestra do séc. XVIII
Financiado pela Fapeam, por meio do Programa Pró-Estado, o estudo foi dividido por etapas e consiste no mapeamento de obras musicais, redigitalização de partituras, restauração de patrimônio sonoro e seleção de peças musicais para reprodução
Platéia formada por senhores e senhoras ansiosos por assistir a mais uma produção de ópera. Engana-se quem imagina que a cena se passa durante o Festival Amazonas de Ópera. O cenário é a Amazônia do século XVIII, palco de apresentações de grandes produções líricas, desconhecidas (quase que) totalmente do grande público nos dias atuais. Desconhecidas, mas não por muito tempo. Pesquisa desenvolvida por professores e alunos do curso de Música, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pretende resgatar o patrimônio musical da Amazônia daquele século e propiciar a criação da primeira orquestra fixa com instrumentos de época do país.
A escolha daquele período para estudo foi feita pelo próprio coordenador do projeto e professor do curso de Música, da UEA, Márcio Páscoa. Ele comenta que já havia realizado pesquisa similar tomando como referência os séculos posteriores, contudo, as investigações levaram à comprovação de que houve apresentações líricas em Belém e Cuiabá no século XVIII, por isso, ele resolveu aprofundar a pesquisa. "A formação de pequenos grupos instrumentais em vilas, fazendas e núcleos comunitários maiores, como Tefé e Barcelos, por exemplo, favoreceu o surgimento de um ambiente propício para o desenvolvimento musical, o que fez com que essa atividade passasse a ser vista como sendo vital no contexto cultural do período", explica o coordenador.
Contemplado com recursos da ordem de R$ 540 mil, oriundos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Pró-Estado (Programa de Apoio à Consolidação das Instituições de Ensino e Pesquisa), o estudo foi dividido por etapas e consiste no mapeamento de obras musicais, redigitalização de partituras, restauração de patrimônio sonoro e seleção de peças musicais para reprodução.
Apesar de estar em fase inicial, algumas descobertas importantes já foram feitas. Uma delas indica que a Amazônia foi palco de diversas "óperas de circulação", chamadas dessa forma porque eram montadas em diferentes locais, apresentadas por grupos de artistas itinerantes, mas também por grupos de músicos genuinamente amazônidas. Outro detalhe se relaciona à sofisticação das produções musicais e a adoção de técnicas bastante apuradas. "As pessoas não imaginam a riqueza musical brasileira daquela época", afirma Páscoa.
Um dos pontos de destaque do estudo é a restauração do patrimônio sonoro, uma vez que possibilitará identificar os instrumentos usados e, sobretudo, as técnicas adotadas por músicos naquele século. "Assim como a própria música, os instrumentos se modificam ao longo do tempo. A idéia é saber quais instrumentos eram usados, como eram usados e como soavam. Precisamos nos apoiar em uma pesquisa que, esteja fincada na prática musical historicamente informada, o que enriquece a formação do músico e a recepção do público", frisa o professor da UEA.
Contudo, o coordenador ressalta a proposta de formação da orquestra fixa com instrumentos de época - a primeira no país dedicada ao repertório e contexto brasileiros - como o resultado esperado mais importante da investigação, seguindo a tendência moderna adotada principalmente na Europa, Estados Unidos, Austrália e Japão, onde isto já ocorre comumente. "A intenção é que, ao final da pesquisa propriamente dita, possamos realizar apresentações das óperas selecionadas e estudadas, tocando instrumentos os mais próximos possíveis do que aqui se usou no século XVIII, assim como seguindo a mesma estética e técnica utilizadas", afirma Páscoa, esclarecendo que a iniciativa propiciará inserir novos dados no mapa cultural do Brasil. "Essa situação vai permitir que se tenha um grupo de pesquisa, tocando material brasileiro desconhecido do grande público".
Páscoa ressalta o incentivo dado pela direção da UEA à iniciativa, que segue a tendência inovadora implantada pela instituição desde sua criação. Ele também chama a atenção para o fato de que se trata do primeiro projeto na área de música financiado pela Fapeam e destaca que, sem o financiamento da entidade, não seria possível levar à frente a proposta. "Isso é interessante porque as pessoas passam a descobrir que música também é ciência e que possui a mesma profundidade e consistência das demais (ciências)", finaliza.
Lisângela Costa – Agência Fapeam
Publicado em : 10/07/2008
Fonte: Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas
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