março 03, 2009

Morar com dignidade

Foto: USU - Serviço Residencial Terapêutico - Belo Horizonte-MG, julho/2005
Nota do blog: A fotografia acima foi feita por ocasião de uma visita que fiz, em Belo Horizonte, a uma das moradias para usuários de longa permanência em hospitais psiquiátricos (também conhecidas como Serviços Residenciais Terapêuticos), na companhia de duas companheiras do Ceará. Morar com dignidade depois de ter comido o pão que o diabo amassou em manicômios é um direito de cidadania dos usuários de saúde mental garantido pela autoridade municipal de Belo Horizonte. O mesmo não acontece em Manaus, onde o silêncio do setor de saúde mental compactua com a omissão do gestor de saúde. A proposta de criação de SRT no interior da imensa propriedade do hospital psiquiátrico, além de ser um descalabro, deve ser entendida como fruto da impotência no enfrentamento ora do autoritarismo, ora da indiferença histórica dos gestores de saúde para com o destino das pessoas que vivem em sofrimento psíquico. Isente-se os cursos de formação em saúde mental oferecidos até agora, de onde todos costumam sair preparados ideologicamente para defender a reforma psiquiátrica brasileira. O que não deu certo em Manaus nada tem a ver com os tais cursos, mas com um nexo cultural que intriga os cientistas sociais barés: a decantada leseira-nossa-de-cada-dia. Lástima!

CIDADANIA

Uma casa diferente


Quase 30 anos depois do início da luta pela reforma psiquiátrica, algumas dessas pessoas que passaram grande parte da vida morando em manicômios hoje batalham, em casa, para viver dignamente

Por Giedre Moura.

A residência não é o que se pode chamar de convencional. Ali vivem oito pessoas que passaram boa parte de suas vidas atrás das grades de um manicômio. O vizinho chegou a sugerir a instalação de tapumes para proteger a casa dos olhares externos. Ou seria o contrário, e o vizinho queria mesmo era proteger seu próprio olhar daqueles habitantes malucos. O “não” respondido pela psicóloga Ruth de Amorim Cerejo, coordenadora do serviço de Residências Terapêuticas da cidade de Campinas (SP), veio acompanhado de um questionamento ao morador: “Afinal de contas, o que o senhor não quer ver?”.

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