março 16, 2009

Eleições na UFAM: artigo do professor Ademir Ramos

Campus da UFAM

Nota do blog: Abro espaço para quem desejar manifestar-se sobre as eleições na UFAM.

Segunda-feira, 9 de Março de 2009

ELEIÇÕES UFAM - “O CAMPUS NÃO FOI FEITO PARA PASTAR”

Os candidatos a reitoria da UFAM apresentam-se juntos com os pretensos pró-reitores, defendendo suas propostas de variadas matizes ideológicas e operacionais. Entretanto, tudo não passa de um jogo de cena, como se fosse de fato uma eleição parlamentar, identificando-se como honestos, justos, competentes, operacionais e até revolucionários. Nessas horas, são todos moradores do Céu e que o Inferno é morada do Outro, passando a desandar sobre os vícios dos seus oponentes e da situação. A cegueira de alguns candidatos é notável, quando febril pelo calor da retórica, esquecem de submeter à comunidade a aprovação do seu Projeto Político Acadêmico.

Ademir Ramos*

O professor Darcy Ribeiro tinha umas sacadas orgásticas que faziam pensar sobre as práticas do oficiante no exercício do poder. A máxima referenciada bem que poderia está afixada nos murais das Instituições de Ensino Superior do País, em particular, no Campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O dito, em regra, poderia servir de alerta aos mestres e doutores de ofício, alunos, servidores e, principalmente aqueles, que acham ser o próprio “bicho da goiaba”, prontos para governar os destinos da UFAM.

No entanto, é necessários lembrar que o Campus é um todo orgânico constituído de equipamentos acadêmicos e, sobretudo, de pessoas animadas ou desanimadas inseridas ou não, num projeto institucional. Aliás, tem gestor que reduz o Projeto Político Pedagógico da instituição a compras e construções dos equipamentos, comparado a um consumidor contumaz e a um velhaco empreiteiro da construção civil, depredando o verde para literalmente pastar no Campus com suas raposas.

Os candidatos a reitoria da UFAM apresentam-se juntos com os pretensos pró-reitores, defendendo suas propostas de variadas matizes ideológicas e operacionais. Entretanto, tudo não passa de um jogo de cena, como se fosse de fato uma eleição parlamentar, identificando-se como honestos, justos, competentes, operacionais e até revolucionários. Nessas horas, são todos moradores do Céu e que o Inferno é morada do Outro, passando a desandar sobre os vícios dos seus oponentes e da situação. A cegueira de alguns candidatos é notável, quando febril pelo calor da retórica, esquecem de submeter à comunidade a aprovação do seu Projeto Político Acadêmico.

E nós “bicho do mato” o que faremos para cumprir o exercício da cidadania universitária, votando e escolhendo o melhor candidato para Universidade Federal do Amazonas. Será que tem parâmetros de avaliação? Quais são os critérios e valores que devemos optar para garantir a governança da UFAM? Os pró-reitores indicados ajudam ou atrapalham na escolha? Qual a Universidade que queremos construir no Amazonas? O que estamos fazendo para construí-la? O que tem haver a eleição do reitor com o desempenho dos alunos e dos professores em sala de aula? Quais são as propostas dos candidatos para a extensão e a pesquisa? E, finalmente, quais são os meios e modos dos candidatos para a consecução de suas propostas?

As perguntas são chaves de leituras, que possibilitam a todos decifrar a viabilidade das propostas. No entanto, tem candidato bom de bico, que há anos vem se preparando para esse embate, passando a usar a viseira do poder como adereço pessoal. Por isso, pode e vai fazer tudo para ganhar o leitor no grito, dando respostas de “traz pra frente” e de forma arrogante para intimidar o leitor. Tem até reitorável que deve usar o discurso da competência para dizer que “eu já fiz e vou fazer de novo”. Mas, saibam que os tempos são outros e o mel não tem mais o mesmo sabor da chupeta do passado.

Resta- nos, portanto, recorrer à imaginação sociológica, segundo Wright Mills, para avaliar e analisar “as perturbações pessoais originadas no meio mais próximo e as questões públicas da estrutura social” formuladas nas propostas dos candidatos.

Perturbações são transtornos vividos e representados pelos reitoráveis, que farão tudo para nos convencer de que, o que ele vê, sente e sofre representa uma ameaça para todos. Tal como um determinado candidato fascista, que para unir o povo entorno de seu nome elege um inimigo externo, sendo capaz de lhe dar até incentivo fiscal para garantir a vitória nas urnas. A manipulação é tanta que pode levar o candidato, senhor dessa natureza, a se fazer de vítima, dando tiro no pé na busca do reconhecimento público.

Pode também, o candidato “perturbado socialmente” sentir que é o próprio “messias” e que só ele, somente ele, está ungido para resolver todos os problemas da UFAM. A postura desse ator é diluviana, maniqueísta e acrítica. Isso quer dizer que só ele sabe, tudo inicia com ele depois do dilúvio, maniqueísta porque a sua visão se reduz a “preto e branco” (bem e mal), quem não está com ele é contra ele, é traidor e por isso deve ser perseguido e extirpado como erva daninha. Por sua vez, é contrário a qualquer postura crítica, entendendo-a como se fosse peça acusatória, que põe a prova a sua competência profissional e, em resposta, começa a falar de sua titulação como se fosse credencial absoluta para o julgamento do eleitor sobre a trajetória profissional para decidir a eleição.

Por sua vez, as questões públicas são impessoais, estão acima dessas perturbações subjetivas. No entanto, o gestor tem que trabalhar essas “contradições” nas estruturas de poder, fazendo valer os interesses coletivos, em convergência para o fortalecimento da instituição de origem. Nessa perspectiva, é de suma importância que se discuta a Universidade que queremos e sejamos capazes de construir coletivamente o Projeto Político da UFAM pautado na pesquisa – extensão – ensino, agregados a graduação e pós-graduação como fim último institucional.

A massificação da pós-graduação deve ser repensada imediatamente porque tem transformado a UFAM numa “casa da moeda” fornecedora de título de valor, sem pesquisa de fundo capaz de intervir diretamente no processo difuso do desenvolvimento humano local. Da mesma forma é preciso sacudir os colegiados de curso quanto à qualidade do ensino, o que implica diretamente na avaliação de desempenho dos professores e alunos de forma operacional, rompendo com o corporativismo e a inoperância dos servidores numa perspectiva dialógica com o poder público e privado.

A questão pública deve necessariamente ser formatada em políticas, que por sua vez deve ser transformadas em ação, contemplando a gestão de pessoas, infra-estrutura, investimento na qualidade do ensino, pesquisa e extensão. É sabido também que alguns Departamentos e Colegiados tem feito muito para melhorar os indicadores dos seus cursos, buscando parcerias internas e externas, o que é digno de registro.

No entanto, reclama-se do novo reitor ou reitora um Projeto de fortalecimento institucional, mobilizando todos os Campi para se definir parcerias, estratégias e comprometimento de pessoas na realização de um Projeto Político Pedagógico, que seja indutor do desenvolvimento humano na Amazônia. Simultaneamente, como parte de um planejamento participativo, deve-se também ampliar a captação de novos recursos, criando receitas e buscando outras fontes para se investir em Programas Institucionais que agreguem professores, alunos e servidores em atenção às demandas estruturantes da sociedade amazonense.

O novo reitor ou reitora a ser escolhido pela comunidade universitária, no dia 02 de abril, tem que ser uma pessoa comprometida com a autonomia da universidade para efetivar as “questões públicas” da academia, qualificando a UFAM a concorrer na formulação de Programas de Formação para o Desenvolvimento holístico pautados na inovação, pesquisa e capacitação profissional. Para esse fim, novas práticas terão que ser certificadas e inseridas no processo, promovendo o repensar do presente na perspectiva de se construir um novo conceito de Universidade Federal na Amazônia Brasileira.

*Professor, antropólogo e coordenador geral do Núcleo de Cultura Política da UFAM.

Fonte: Núcleo de Cultura Política do Amazonas


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