março 28, 2009

À noblesse de Noblat

[Amálgama]

À noblesse de Noblat

Posted: 24 Mar 2009 09:50 AM PDT

por Lelê Teles - É um cara-de-pau esse Ricardo Noblat. Espuma como um cão ao falar do rabo sujo dos outros. Mas baba como um bobo ao falar do seu. Escuta essa, minha senhora. A senhora ouve a rádio Senado? Lembra de um programa de Jazz que tem lá, Jazz & Tal?, coisa fina! A senhora sabia que aquilo é um presente do jornalista Ricardo Noblat, não ao senado, mas ao povo brasileiro? E a senhora sabia que o abnegado jornalista resolveu fazer isso para dar mais qualidade na programação da rádio? O que a senhora acha de um jornalista bancar, com dinheiro do próprio bolso, um programa de rádio para o Senadão? A senhora não consegue enxergar aí o dedo do capeta?

E ao refletir sobre as escusas apresentadas pela sagaz blogueiro, a senhora não vê a ponta do rabo do capeta? Vamos olhar juntos pela fechadura da porta do inferno, que é a nota que Noblat soltou em seu blog para se justificar. O capeta lhe pergunta: Filho, por que criar um programa justamente para a rádio Senado? E Noblat se justifica, olhando no fundo do olho do diabo: “Completou 10 anos no último dia 19 o programa semanal Jazz & Tal que faço para a Senado FM. Durante 113 meses, entre março de 1999 e agosto de 2008, paguei do meu bolso todos os custos do programa. Foram 493 programas ao custo mensal de R$ 1.200,00. Devo ser o único brasileiro que até hoje doou dinheiro ao Senado - 135.600,00 (113 meses x R$ 1.200,00). Fi-lo porque qui-lo. Na época era medíocre a programação da Rádio senado…”

Não há dinheiro que pague a missão de tornar menos medíocre a rádio Senado…

Agora eu lhe pergunto minha senhora. O que temos eu, a senhora e o senhor Noblat com isso. Se ele não gosta da programação da rádio Senado, que sintonize outra. Ou use o blog dele em O Globo para fazer as famosas enquetes: “Você acha que a programação da Rádio Senado deve ser melhorada?” Agora, achar a programação ruim e pagar do próprio bolso um programa de jazz para melhorá-la? Melhorá-la pra quem? Para quem gosta de jazz? E quem é que gosta de jazz? O senhor Noblat? Pois que ouça jazz em seu carro e em sua casa. Ou será que Noblat é um desses nefelibatas que crêem que o jazz é mais gostoso quando compartilhado? Se for este o caso, por que diabos o ilustrado escriba não se satisfez com o programa de rádio hospedado em seu blog? Ora, ali ele compartilha com os seus. Isso não é o bastante?

Mas satanás é curioso, e coçando o queixo rubro estoca uma nova pergunta: Estou confuso, o senhor promovia o jazz ou a produtora que produzia o programa? Noblat, que conhece bem a língua do capeta, pois teve aulas com o Demo Demóstenes, respondeu desenvolto e sem sotaque: “Procurei uma produtora em Brasília - a Linha Direta. Ela cuida do programa. Gosto das coisas bem feitas e topo pagar por elas. Paguei pelo capricho de ter um programa de jazz. Pude pagar e paguei.” Satã sorriu com os olhos de fogo. Lambeu os beiços com a incandescente língua bifurcada e pespegou: E por que, dez anos depois, resolver cobrar do Senado por um programa que o senhor doou de livre e espontânea vontade e amor à cultura e à arte? Não é bem assim, obtemperou o pernambucano, “… em setembro último, sugeri à direção do Senado que a rádio arcasse com os custos do programa pagando diretamente à produtora. Do contrário suspenderia o programa. Disseram-me que não era possível. Que seria possível me pagar como pessoa física para que então eu pagasse à produtora”.

Veja a senhora, Noblat faz uma chantagem com o Senadão, ou pagam ou eu me retiro do ar. Não parece Faroeste? Minhas perguntas são ingênuas, mas o Demo é impiedoso. Fala o diabo: Ricardo, ouça-me filho, a emissora sucumbiu à sua chantagem, ponto pra você. Agora me conta, como foi firmado esse contrato? Noblat vê os seus olhos dentro das labaredas dos olhos do capeta e responde animadamente: “Firmaram um contrato comigo no valor mensal de R$ 3.360,00. Descontados pela própria rádio os impostos (R$ 560,00 de INSS e mais R$ 560,00 de IR), e abatido o que eu pago à produtora (R$ 1.750,00), restam-me por mês a fortuna de R$ 490,00. Preciso de mais 23 anos a R$ 490,00 por mês para recuperar os R$ 135.600,00 que gastei do meu bolso durante 9 anos e meio. Não viverei tanto tempo. E não imagino fazer o programa por mais 23 anos.”

Mas com o diabo, disse o diabo, que merda de matemática é essa? E Satã sacudiu as asas e se foi. Minha senhora, continuemos nós outros o trabalho que o diabo deixou de lado. Perguntemos ao senhor Noblat: E o senhor também ajuda o Senado em seu blog? O senhor Gilmar Mendes, aquele que é a cara do deputado da Praça é Nossa, interferia na programação do seu programa? O senhor também costuma dizer “deu na Veja” em seu programa, como o faz insistentemente em seu blog? O senhor doaria um programa para a rádio evangélica que toca aqui perto?, é que a programação é ruim à beça. O senhor tem alguma proposta para a CBN no horário em que aparece a senhora Lúcia Hipólito? O senhor já pensou em doar um programa de valsa para o lugar do Roda Viva? E senhor já propôs pôr trilha sonora nos podcasts da urubóloga Miriam Leitão? O senhor está de brincadeira comigo?

Em tempo, o Supremo Ministro, Gilmar Mendes, felicita o blog: “Leio porque sendo a transparência um dos pilares da democracia, nunca será demais ressaltar a importância da mídia responsável na consolidação do Estado de Direito. Assim, diante da excelência com que vem desempenhando o ofício de bem informar os cidadãos brasileiros, congratulo o Blog do Noblat pelos cinco anos de compromisso com a verdade e com a democracia no país”, Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal.

Embrulhou-me o estômago.
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