março 27, 2009

Vaudeville provinciano

Foto publicada no site da PMM

Vaudeville provinciano

Por Zefofinho de Ogum, sociólogo

Morro do Querosene – Batuco essas mal-traçadas, enquanto desopilo o fígado, em plena pracinha central do Querosene. Aqui sou tratado que nem príncipe da realeza nagô. É que, além de reduto de bambas, é aqui que, periodicamente, mammy sai do meu Rio de Janeiro em desobriga para com um dos terreiros mais concorridos do pedaço.

Em verdade, estou a trabalho. Fui docemente condenado a passar os dias santos aqui em Sampa. Não vejo a hora de me reencontrar com a Festa do Boi do Morro do Querosene, organizada pelo Grupo Cupuaçu do maranhense Tião Carvalho.

Além disso, meus prezados, costuma rolar por aqui um tambor de crioula regado a catuaba da boa, sem contar as rodas de capoeira e muita gente bonita e animada. A festa começa em torno de 3 da tarde mas o boi só sai lá pelas 8 da noite.

O Morro é um reduto da cultura popular brasileira, palco de manifestações como o bumba-meu-boi, a capoeira, mamulengos, grafites, entre outros. Desde 2001 a comunidade trabalha para impedir a degradação de uma área de 44.000 m2, nas proximidades do Instituto Butantã, com árvores nativas e uma nascente de água cristalina em um espaço para atividades de educação, esporte, saúde, arte e lazer.


A efervescência cultural da comunidade do Querosene é grande. Desde o início da década de 90, no século passado, o Grupo Cupuaçu mantém viva a tradição do bumba-meu-boi, com festas que reúnem 5 mil pessoas noite adentro, na pracinha central do Morro. Nas tarde de domingo é possível ouvir Dinho Nascimento (Prêmio Sharp de Música) y otras cositas mas. É a vocação cultural do bairro que me encanta, e que é capaz de me tirar do morro homônimo no Rio de Janeiro, onde passo algumas domingueiras agradáveis. Ah, vida dura!

Do morro para o lago do Aleixo – Depois de ter ido verificar in loco as peripécias de um tal Gianni Punzo, na região de Nola, na Itália, e as (im)prováveis relações entre o empreendimento conhecido como Porto Intermodal de Nola e a construção de um porto intermodal na região das Lajes, que gerou um imbróglio nas comunicações da minha querida Manaus, onde nasceram minhas filhas amadas, eis que agora me deparo com um fato, no mínimo, inusitado.

Enquanto pega fogo o debate sobre o impacto ambiental e social que a mal-fadada obra causará na região, sobretudo no lago do Aleixo; enquanto o cidadão rala para pagar seus impostos, garantindo o pagamento do salário e do cafezinho de ilustres autoridades, uma delas silencia diante do clamor da sociedade contra o desastre ambiental anunciado, e surge, no noticiário de um órgão público, à tiracolo dos empresários da Login Intermodal S/A, para zelosamente anunciar que estarão garantidas mais duas audiências para discutir com a comunidade o funesto projeto do Porto das Lajes. É de comover o coração... dos incautos.

A personagem em questão ocupa o cargo de Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas, e, ainda por cima, preside a Comissão Estadual de Meio Ambiente. Não é a primeira vez que a ilustre senhora dá demonstrações de aliança com o capital predatório. Em audiência pública, cometeu a façanha de se pronunciar favoravelmente à construção do porto, o que é, no mínimo, incoerente, para quem tem o dever de garantir a idoneidade dos processos que dizem respeito a impactos ambientais e sociais.

O que a ilustre personagem não se dá conta é que nem no governo a quem serve se fala com a mesma veemência em defesa de uma obra que a cada dia vem sendo rejeitada pela opinião pública. Embora, dessa vez ela não tenha pronunciado uma palavra sequer em defesa do monstrengo arquitetônico, é com sutileza elefantina que a fotografia do encontro na SEMMA revela o que já não se diz publicamente. Há um jogo perverso entre os ditos e os não ditos, leitura que qualquer mortal comum sabe ler nas entrelinhas. Até minha mãe, que não teve escolaridade. Lá fui meter o nome de minha santa mãezinha nesse vaudeville provinciano.

O contra-senso dessa gente que despreza matrizes culturais em favor do capital predatório é que elas jogam contra o próprio governo. Onde fica a imagem do governador que mais recebeu elogios internacionais por políticas ambientais até então nunca apresentadas em toda a história do Amazonas, ainda que haja restrições dos mais sérios ambientalistas?

Como se aproxima a quadra da malhação do Judas, Manaus já tem a personagem da hora.

Recomendo a leitura da notícia publicada no site da Prefeitura Municipal de Manaus, que me causou espécie, sem perder o foco das sutilezas contidas no registro fotográfico acima.

Aproveito o ensejo para oferecer este textículo de minha lavra aos que lutam contra os baba-ovos de todos os tempos. Eles continuam entre nós. Je regrette!

Porto das Lajes
24/03/2009 15:53

Empresa Lajes Logística apresenta projeto à Semma

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) recebeu nesta terça-feira, 24, a visita dos diretores da empresa Lajes Logística S.A. que foram apresentar o projeto Porto das Lajes e anunciar que dentro de 15 dias estarão concluindo o estudo de impacto ambiental e de vizinhança, juntamente com todos os projetos navais e de terra, que estão sendo aperfeiçoados.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Marcelo Dutra, recebeu também a secretária estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Nádia Ferreira, que anunciou que mais duas audiências públicas estão previstas para acontecer na Colônia Antonio Aleixo e no Careiro com o objetivo de discutir o projeto com a comunidade.

“Nos colocamos como órgão executor da política municipal de meio ambiente, membros do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) e preparados para entrar na discussão assim que for necessário”, afirmou Marcelo Dutra. Ele destacou a importância da presença da comunidade no debate acerca do projeto.

Informações: Assessoria de Comunicação
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Telefone: 3236-8815


Fonte:
PMM

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