Estimado amigo e amiga do MST,
A Revista Sem Terra está completando 50 edições neste bimestre de maio e junho de 2009 e por isso gostaríamos de agradecer a cada leitor e leitora pelo apoio ao MST. Esta publicação é uma conquista não apenas da luta pela Reforma Agrária ou dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mas da classe trabalhadora. São 12 anos nos desafiando a levar para a sociedade nossas lutas e conquistas. São 50 números de enfrentamento com o monopólio das informações em nosso país.
O MST tem hoje duas publicações periódicas que vêm cumprindo um importante papel na democratização da comunicação, ao apresentar as vozes que não costumam falar nos meios "convencionais" de comunicação e publicar notícias e temas em uma perspectiva diferente da linha do pensamento único imposto pelos meios de comunicação de massa empresariais. O Jornal Sem Terra (JST) é uma publicação mensal que circula há 27 anos, desde antes da fundação oficial do próprio Movimento, e a Revista Sem Terra (RST) há 12 anos é publicada bimestralmente.
As publicações Sem Terra são instrumentos que buscam estabelecer diálogo tanto com leitores do próprio Movimento Sem Terra quanto com leitores externos que apóiam ou mesmo buscam informações sobre as questões ligadas à luta pela terra e Reforma Agrária. As publicações também trazem informações sobre as conquistas dos trabalhadores organizados, omitidas pela imprensa, como a conquista da terra, de meios de viabilizar a produção, da cooperação, da educação, da saúde, entre outras.
Para que a sociedade defenda a Reforma Agrária e apóie as mobilizações sociais e ações contra a existência e perpetuação do latifúndio, é essencial que os cidadãos das cidades compreendam tais problemas e caminhem junto com os habitantes do campo, na busca de soluções justas e legítimas. Neste aspecto, as publicações do MST são instrumentos eficazes para alcançar professores, parlamentares, lideranças, profissionais liberais, sindicatos urbanos, igrejas, organizações não-governamentais, partidos políticos, apoiadores internacionais e tantos outros.
Somente os ideais de construção de uma sociedade socialista poderia nos dar forças para superar as dificuldades que enfrentamos para continuar assegurando essa conquista. Viva os 50 números da Revista Sem Terra! Viva a Luta pela Terra!
Junte-se a essa luta. Faça já sua assinatura. Anual R$ 50 (6 edições) R$ 80 (12 edições). Assine também o Jornal Sem Terra R$ 25 (12 edições) R$ 45 (24 edições).
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Nesta edição, contamos com uma entrevista exclusiva do historiador Eric Hobsbawm. Socializamos abaixo um trecho dessa entrevista.
Boa leitura.
Secretaria Nacional do MST
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Hobsbawm: a Era das Incertezas
Verena Glass
Em entrevista exclusiva à Revista Sem Terra, o historiador Eric Hobsbawm apresenta ao leitor sua avaliação das origens, efeitos e desdobramentos da crise mundial.
Desde que sua magnitude se fez sentir, com seus capítulos ambiental, climático, energético, alimentar e, por fim, econômico, acadêmicos, sociólogos, economistas, políticos e lideranças sociais procuram entender e explicar suas causas, e analisar e prever suas conseqüências. Muitos têm buscado respostas e soluções apenas no próprio universo econômico. Outros concluíram que vivemos uma crise civilizatória, e que o capitalismo implodiu por seus próprios desmandos. Mas ninguém parece ter respostas definitivas sobre o que nos prepara o futuro. Assim também Hobsbawm, o maior historiador marxista da atualidade. Aos 92 anos, o autor de algumas das mais importantes obras acerca da história recente da humanidade, como "A Era das Revoluções" (sobre o período de 1789 a 1848), "A Era do Capital" (1848-1875), "A Era dos Impérios" (1875-1914) e "A Era dos Extremos - O Breve Século 20", lançado em 1994, não arrisca previsões sobre como será o mundo pós-crise.
Nesta entrevista, concedida por e-mail de Paris, porém, Hobsbawm apresenta suas opiniões como contribuição ao debate. De certezas, apenas a de que, se a humanidade não mudar os rumos da sua convivência mútua e com o planeta, o futuro nos preserva maus agouros. Cético e ao mesmo tempo esperançoso, não acredita que uma nova ordem mundial surgirá das cinzas do pós-crise, mas acha que ainda existem forças capazes de propor novas formas de organização e cultura políticas e sociais, como o MST.
Revista Sem Terra - O planeta vive hoje uma crise que abalou as estruturas do capitalismo mundial, atinge indiscriminadamente atores em nada responsáveis pela sua eclosão, e que talvez seja um dos mais importantes "feitos" da moderna globalização. Na sua avaliação, quais foram os fatores e mecanismos que levaram a esta situação?
Eric Hobsbawm - Nos últimos quarenta anos, a globalização, viabilizada pela extraordinária revolução nos transportes e, sobretudo, nas comunicações, esteve combinada com a hegemonia de políticas de Estado neoliberais, favorecendo um mercado global irrestrito para o capital em busca de lucros. No setor financeiro, isto ocorreu de forma absoluta, o que explica porque a crise do desenvolvimento capitalista ocorreu ali. Apesar do fato de que o capitalismo sempre - e por natureza - opera por meio de uma sucessão de expansões geradoras de crises, isto criou uma crise maior e potencialmente ameaçadora para o sistema, comparável à Grande Depressão que se seguiu a 1929, mesmo que seja cedo para avaliarmos todo o seu impacto. Um problema maior tem sido que a tendência de declínio das margens de lucro, típico do capitalismo, tem sido particularmente dramática porque os operadores financeiros, acostumados a enormes ganhos com investimentos especulativos em épocas de crescimento econômico, têm buscado mantê-los a níveis insustentáveis, atirando-se em investimentos inseguros e de alto risco, a exemplo dos financiamentos imobiliários "subprime" nos EUA. Uma enorme dívida, pelo menos quarenta vezes maior do que a sua base econômica atual foi assim criada, e o destino disso era mesmo o colapso.
RST - Como resposta à crise econômica, governos e instituições financeiras estão concentrados em salvar os sistemas bancário e financeiro, opção que tem sidoconsiderada uma tentativa de cura do próprio vetor causador do mal. No que deve resultar este movimento?
EH - Um sistema de crédito operante é essencial para qualquer país desenvolvido, e a crise atual demonstra que isso não é possível se o sistema bancário deixa de funcionar.
Nesse sentido, as medidas nacionais para restaurá-lo são necessárias. Mas o que é preciso também é uma reestruturação do Estado por exemplo, através das nacionalizações, a "desfinanceirização" do sistema e a restauração de uma relação realista entre ativos e passivos econômicos. Isso não pode ser feito simplesmente combinando vastos subsídios para os bancos com uma regulação futura mais restrita. De toda forma, a depressão econômica não pode ser resolvida apenas via restauração do crédito. São essenciais medidas concretas para gerar emprego e renda para a população, de quem depende, em última instância, a prosperidade da economia global.
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