novembro 12, 2009

Tragédia Americana

Foto postada em dialogosuniversitarios.com.br
Tragédia Americana

Escrito por Edmar Oliveira

Aconteceu de novo. Já tinha falado aqui neste espaço da tragédia de Virginia Tech, quando os alienistas contemporâneos pediam medidas preventivas para evitar o massacre provocado por um migrante com passado psiquiátrico. E agora me preocupo como eles vão reagir, pois desta feita foi um psiquiatra, especializado em stress, quem abriu fogo matando 13 colegas e ferindo 31 numa base militar. O major Nidal Malik Hassan, americano descendente de mulçumanos, estressado em véspera de ser mandado ao Afeganistão, para uma guerra em que teria de enfrentar seus familiares do outro lado do mundo, abriu fogo ali mesmo antecipando a guerra e escolhendo o lado em que teria de lutar. O curioso é que ele era um especialista em curar estes traumas nos soldados americanos mandados à guerra. Já se disse que à guerra são enviados os negros, os amarelos, os latinos, os árabes e seus descendentes, americanos de segunda categoria. Até para que eles defendam literalmente o país a que querem pertencer. Enquanto os americanos legítimos só são convocados quando a coisa complica e as cornetas anunciam a cavalaria que massacraram os índios.

‘No caso anterior os alienistas reivindicavam um saber psiquiátrico para resolver preventivamente a questão. E agora, quando um psiquiatra é o doido da vez? Mas lembremos que ele é cidadão de segunda categoria e o que pode acontecer é uma onda de preconceito fascista aos migrantes não legítimos americanos. Ninguém vai enxergar a causa do fato numa sociedade que determina como deve ser a vida de cada ser pertencente; e que tem no individualismo o ideal de sucesso, onde só vence quem se destaca do vizinho, um inimigo em potencial.

No jornal do dia seguinte, ainda dedicado a compreender a atitude do major psiquiatra, uma notícia, sem tanto destaque, dizia que em Orlando, Flórida, um engenheiro de 40 anos entrou num escritório de uma consultoria, de onde havia sido demitido, e abriu fogo matando uma pessoa e ferindo cinco. Perguntado por uma repórter porque cometera o ato insano, respondeu se justificando: “porque eles me deixaram apodrecendo”. Simples assim. O engenheiro parece que levou para a vida real o filme de Costa Gravas, O Corte, em que o protagonista, para recuperar o emprego perdido passa a eliminar os concorrentes.

Eu, com meus botões, penso que essas tragédias americanas acontecerão mundo afora quando todo o planeta assume a concorrência, o individualismo, a competição, como os valores necessários ao mercado, aposentando os antigos ideais de cooperação, solidariedade, trabalho em equipe, que nortearam uma sociedade onde ainda se encontravam as utopias. Sem elas, as utopias que guiaram a minha geração, teremos uma nova sociedade. E, acho, absolutamente cruel como enunciam estas tragédias...

Fonte: Coluna do Edmar
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