setembro 23, 2011

Audiência com o Minc sobre o tombamento do Encontro das Águas: de novo só o fim do silêncio do PT

PICICA: Finalmente, o PT saiu da letargia e patrocinou uma audiência com a Ministra da Cultura para tratar da questão do tombamento do Encontro das Águas, cuja homologação vem sendo retardada por manobras dos agentes interessados na construção do terminal portuário das Lajes, entre eles o deputado Sinésio Campos (o paradoxo do PT). Patrocinar não é bem o caso, já que apenas um representante do movimento socioambiental SOS Encontro das Águas, mal nomeado como coordenador de um movimento que conta com a participação de dezenas de entidades da sociedade civil organizada (que já não se norteia por hierarquias centralizadoras), foi a única representação desse vigoroso movimento. Ora, temos cinco parlamentares no PT: dois vereadores, um deles omisso; dois deputados estaduais, um omisso e outro favorável à construção do porto das Lajes; e um deputado federal que estava esperando a banda passar. Custa crer que não pudessem disponibilizar mais uma passagem para pelo menos uma representação comunitária. Ao final, uma declaração modesta do deputado federal Francisco Praciano, com um discurso no plenário da Câmara que acerta ao criticar os agentes a serviço do capital predatório, mas escorrega no lugar comum ao invocar a proteção daquele patrimônio cultural com um surrado bordão. Sucede que o Encontro das Águas é  muito mais do que um cartão postal. Espera-se mais de quem deve assumir a prefeitura de Manaus, conduzido pela maioria do voto popular. O surpreendente silêncio do PT durante todo o processo de luta pelo tombamento - que teve uma única e isolada manifestação do ex-senador João Pedro, ao abrir diálogo com o Minc -, e só agora quebrado pela referida audiência, às vésperas do processo eleitoral, some-se o incrível desconhecimento parlamentar do que está em jogo no processo de tombamento desse importante patrimônio natural. Talvez o proprio movimento SOS Encontro das Águas tenha que fazer uma autocrítica, ao deixar de incorporar no seu discurso o cenário que se projeta sobre a zona rural da cidade. É nele que se estende o Encontro das Águas, fenômeno em cuja extensão vem se processando a ocupação irregular do solo, em razão da expansão da região metropolitana da cidade. São empresários construindo portos e fábricas, loteando terras, destruindo o cinturão verde da cidade, aterrando igapós. É o Exército nacional estendendo sua área de treinamento militar para o território onde habitam historicamente comunidades tracionais de ribeirinhos, deixando um rastro de dor, morte, desmandos e autoritarismo. O mesmo Exército impede o acesso do programa Luz Para Todos, da comunidade do Mainã até a última comunidade antes da comunidade de Santa Luzia do Tiririca, que só tem energia porque integra o município de Rio Preto da Eva. E o PT em silêncio. É hora de cuidar da criação da Unidade de Conservação de Uso Sustentável do Encontro das Águas. É mais do que tratar de um "cartão postal", imagem muito utilizada por intelectuais que não descolam a bunda da cadeira. Alguns deles e, ao que parece, a maioria dos nossos parlamentares, desconhecem ou ignoram a geopolítica da região. A bióloga Elisa Wandelli (de camisa branca, na imagem abaixo) precisa ser mais ouvida, sobretudo nas questões socioambientais. Mas não a chamem de coordenadora de movimento algum - um vício da mídia que reduz o alcance de uma organização popular. Ela é apenas uma militante do movimento socioambiental Encontro das Águas, entre tantos outros valorosos(as) companheiros(as) que amam o povo dessa região da Amazônia.

          
Enviado por em 23/09/2011
Empresa blefa pela quarta vez ao anunciar a construção do terminal portuário das Lajes, no Encontro das Águas entre os rios Negro e Solimões, em Manaus. A mídia local vem sendo usada para confundir o opinião pública. O clima de suspense, tão ao gosto da mídia comercial, não se sustenta diante da verdade dos fatos. Neste vídeo o escritor Tenório Telles relata para os militantes do movimento SOS Encontro das Águas o diálogo que manteve que o Iphan e o Minc quanto este em Brasília, em agosto, na companhia do poeta Thiago de Mello.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Rogélio, no conjunto tens razão, porém me parece que mais adequado seria dizer que parte da bancada do PT esteve e continua omissa em relação ao tema, já que como bens lembrou o João Pedro, então Senador e presidente do PT do Amazonas se manifestou em defesa do movimento SOS Encontro das Aguas. É mais, desde aquela primeira foto (história) em que dezenas de militantes seguravam a bandeira do movimento se é possível identificar muitos petistas, de modo que afirmar genericamente que o PT estava calado não corresponde aos fatos. Como um do fundadores do PT bem sabe que o PT é plural e dinâmico e com uma estrutura de base, mesmo que atualmente tenha algumas caracteristas centralista em parte dos seus dirigentes (sobretudo na Municipal).
É isto, um abraço fraterno.
Luiz Antonio

PICICA disse...

Meu querido professor Luiz Antonio, se acertei no atacado e escorreguei no varejo, ainda assim o saldo é positivo. A questão do terminal portuário das Lajes é apenas a ponta do iceberg do silêncio a que o PT se obrigou com a política "desenvolvimentista" para a Amazônia. Um desastre, sobre a qual a letargia petista é pior, ressalvadas as exceções de praxe. É no que dá militantes - latu sensu - virarem torcedores e não críticos dos nossos dirigentes. Que o PT do Sul Maravilha se encante com a política energética para a Amazônia é perdoável. Eles não sabem o que dizem. Já o PT do Norte, às voltas com sua pluralidade, convive entre a letargia e o deslumbramento, com ampla vantagem para os últimos.