PICICA: Um ciclo da história do PT se encerrou, segundo o historiador Lincoln Secco, autor do livro "A história do PT". Nele estavam contidas a defesa da Amazônia e o respeito aos povos indígenas. Ao deixar intacta a politica energética, concebida no regime militar, que prevê a construção de sessenta hidrelétricas na Amazônia, o PT se descompromete com os compromissos assumidos, ignora os indígenas (segmento que ficou fora das cotas diretivas, decididas no último encontro nacional), e, se abre um novo ciclo para a Amazônia, sob sua bandeira, aprofunda o começo do fim da Amazônia que conhecemos. Lástima! Exceções de praxe, o PT do Norte Deslumbrado com o ciclo de desenvolvimento inaugurado na era Lula aquiesceu com a tese lulista, para quem o desenvolvimento da região só é difícil por causa de um detalhe: "tem muita comunidade indígena e quilombos na Amazônia". Vitória do PT do Sul Maravilha. Ou seja, teses liberais passaram a ser adotadas em detrimento do socialismo que embalou os militantes dos tempos pioneiros. Em questões socioambientais, o PT levou um susto de 20 milhões de votos com a candidatura de Marina Silva. Levará outro nas próximas eleições se insistir em por sua assinatura em projetos de interesse do capital predatório. Cresce no país a consciência ambiental. O mais grave é que grande parte do PT está cego, surdo e mudo, o que torna ainda mais difícil as tarefas da esquerda petista em romper o silêncio mortífero que se abateu sobre a militância, reduzida majoritariamente a torcedores dos seus dirigentes. E pensar que o fim da Amazônia levaria a assinatura do PT!... É constrangedor. Taí o tema que ficou fora do livro de Lincoln Secco. Será necessário um outro livro.
“Eu quis fazer uma história social do PT, a partir das bases”
Em entrevista à Carta Maior, o historiador Lincoln Secco fala sobre seu novo livro, "A história do PT". "O PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda", diz o autor.
Gilberto Maringoni
Nesta entrevista à Carta Maior, o historiador Lincoln Secco, 43, autor, entre outros de Caio Prado Júnior: O Sentido da Revolução (Boitempo, 2009) e de 25 de abril de 1974 - A Revolução dos Cravos (Compahia Editora Nacional, 2005) conta o que o levou a escrever História do PT.
Leia também: O PT, entre a militância e o poder
Carta Maior - Quando e por que o senhor decidiu escrever o livro?
Lincoln Secco - Eu decidi escrever a obra quando Lula terminou o segundo mandato. Achei que somente agora seria possível uma história abrangente do PT, pois só o teste do poder permite avaliar a trajetória de um partido. Penso que um ciclo da história petista se encerrou. Agora era o momento. Antes não dava e, no futuro, isso será tarefa de teses acadêmicas e obras coletivas.
Carta Maior - Por que optou em não entrevistar os principais dirigentes?
Lincoln Secco - Eu conversei com alguns dirigentes, assessores, quadros intermediários e muitos ex-militantes. Dois motivos me guiaram. Em primeiro lugar, eu queria fazer uma história social do PT, a partir das bases e não estudar a evolução eleitoral, do discurso, das resoluções ou as mudanças ideológicas dos dirigentes. Não me interessava a história das ideias. Em segundo lugar, quis ficar distante de uma história oficial, comprometida com o PT. Eu até sonhava em seguir uma ideia basista: escrever a história do PT sem citar nenhum nome. Mas aí, quando comecei a redigir, escrevi no caderno, sem querer, o nome do Lula. Percebi que seria impossível ignorar os dirigentes.
Carta Maior - Quanto tempo levou sua elaboração?
Lincoln Secco - A redação demorou só seis meses. Aproveitei algumas coisas já escritas, anotações antigas. Eu guardei sempre recortes de jornais desde os anos 1980 e anotava em cadernos frases de dirigentes petistas e “falações” de reuniões. Mas o principal é que eu tinha muita documentação em casa ou com amigos próximos. A consulta de teses foi mais fácil ainda porque muitas estão na internet. Contou a meu favor também o fato de que eu conhecia a trajetória petista. Fui também testemunha ocular, ainda que na condição de bagrinho. Só que um bagrinho numa época em que a diferença entre dirigentes e dirigidos não era tão grande.
Carta Maior – O senhor acha que o PT cumpriu as principais metas que se propunha quando foi criado?
Lincoln Secco - Remetendo aos socialistas do inicio do século XX, eu diria que o PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Nominalmente, ele continua nas resoluções congressuais, mas não dialoga mais com a prática partidária. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda.
Carta Maior – O senhor militou no PT. Segue filiado até hoje?
Lincoln Secco - Militei no PCB entre 1984 e 1986 e, desde então, no PT. Nunca tive cargo remunerado no partido ou em gabinetes. Continuo filiado e faço parte do conselho de redação de Teoria e Debate. Não sou mais militante. Considero-me hoje um eleitor crítico.
Leia também: O PT, entre a militância e o poder
Carta Maior - Quando e por que o senhor decidiu escrever o livro?
Lincoln Secco - Eu decidi escrever a obra quando Lula terminou o segundo mandato. Achei que somente agora seria possível uma história abrangente do PT, pois só o teste do poder permite avaliar a trajetória de um partido. Penso que um ciclo da história petista se encerrou. Agora era o momento. Antes não dava e, no futuro, isso será tarefa de teses acadêmicas e obras coletivas.
Carta Maior - Por que optou em não entrevistar os principais dirigentes?
Lincoln Secco - Eu conversei com alguns dirigentes, assessores, quadros intermediários e muitos ex-militantes. Dois motivos me guiaram. Em primeiro lugar, eu queria fazer uma história social do PT, a partir das bases e não estudar a evolução eleitoral, do discurso, das resoluções ou as mudanças ideológicas dos dirigentes. Não me interessava a história das ideias. Em segundo lugar, quis ficar distante de uma história oficial, comprometida com o PT. Eu até sonhava em seguir uma ideia basista: escrever a história do PT sem citar nenhum nome. Mas aí, quando comecei a redigir, escrevi no caderno, sem querer, o nome do Lula. Percebi que seria impossível ignorar os dirigentes.
Carta Maior - Quanto tempo levou sua elaboração?
Lincoln Secco - A redação demorou só seis meses. Aproveitei algumas coisas já escritas, anotações antigas. Eu guardei sempre recortes de jornais desde os anos 1980 e anotava em cadernos frases de dirigentes petistas e “falações” de reuniões. Mas o principal é que eu tinha muita documentação em casa ou com amigos próximos. A consulta de teses foi mais fácil ainda porque muitas estão na internet. Contou a meu favor também o fato de que eu conhecia a trajetória petista. Fui também testemunha ocular, ainda que na condição de bagrinho. Só que um bagrinho numa época em que a diferença entre dirigentes e dirigidos não era tão grande.
Carta Maior – O senhor acha que o PT cumpriu as principais metas que se propunha quando foi criado?
Lincoln Secco - Remetendo aos socialistas do inicio do século XX, eu diria que o PT cumpriu grande parte do seu programa mínimo: melhoria do salário mínimo, diminuição da desigualdade social, reconhecimento das centrais sindicais, criação de um mercado interno de massas, política exterior soberana etc. Mas ele abandonou o programa máximo: um socialismo vagamente definido. Nominalmente, ele continua nas resoluções congressuais, mas não dialoga mais com a prática partidária. Todavia, é preciso lembrar que nas condições brasileiras o programa mínimo já é muito, o que dificulta a tarefa da esquerda petista e de partidos de extrema esquerda.
Carta Maior – O senhor militou no PT. Segue filiado até hoje?
Lincoln Secco - Militei no PCB entre 1984 e 1986 e, desde então, no PT. Nunca tive cargo remunerado no partido ou em gabinetes. Continuo filiado e faço parte do conselho de redação de Teoria e Debate. Não sou mais militante. Considero-me hoje um eleitor crítico.
Fonte: Carta Maior
Um comentário:
Olá!
Parabéns pelo seu blog! Muito bom.
Gostaria de aproveitar a visita para divulgar o meu blog. Trata-se do contra-afronta.blogspot.com, onde temas como política, cultura, comportamento e cotidiano são abordados, tendo como foco principal os problemas da cidade de Salvador.
Estou aguardando a sua visita.
Abraço!
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