PICICA: O filósofo esloveno Slavoj Zizek é uma negação quando o tema é ambientalismo. Alguém diria o mesmo do seu ateísmo? Indiferente a estes e outros ismos, Zizek perde público, mas não perde a piada. Falando sério! Bem que a esquerda radical poderia adotar a visão "teológica" de Zizek: a do Deus que se fez homem, crucificado entre os excluídos. Sem salvacionismo, só a teologia da libertação nos livra da teologia da prosperidade.
O ator Enrique Irazoqui (Jesus) e o diretor Pier Paolo Pasolini, em locação de O Evangelho segundo Mateus (Itália, 1964), um filme materialista e ateu dirigido por um comunista e ateu, com temática e assunto religiosos, dedicado à memória do papa João XXIII
Abaixo, versão livre da piada contada por Slavoj Zizek em Vivendo no fim dos tempos [Living in end times] (2010, Verso, p. 401):
Um comunista talentoso, propagandista da Revolução Russa, morre nos confrontos com as forças leais ao czar e, ateu, é mandado pro Inferno. Mas ele rapidamente consegue reverter a situação, convencendo os guardas do Céu a deixá-lo entrar. Quando o Diabo dá falta do novo súdito, resolve pedir satisfação. Mas assim que começa a se dirigir a Deus, iniciando por “Meu Senhor…”, Deus o interrompe, dizendo: “Em primeiro lugar, não me trate por Senhor mas por você, somos todos camaradas. Segundo, não me venha com essas ficções — eu não tenho nenhum poder sobrenatural. E terceiro, seja breve senão perco a próxima reunião do Partido!”
E o filósofo esloveno comenta:
“Este é o tipo de Deus que a esquerda radical precisa hoje: um Deus que plenamente ‘se fez homem’, um camarada entre nós, crucificado junto com os socialmente excluídos. Se a teologia está novamente emergindo como um ponto de referência à política radical, não é tanto por prover um divino grande Outro, que poderia garantir o sucesso das ações, mas, ao contrário, como lembrete que a nossa liberdade radical está em não possuir um grande Outro para nele confiar. Foi Dostoievski quem mostrou como Deus nos concede tanto liberdade quanto responsabilidade — ele não é um mestre benevolente conduzindo-nos à segurança, mas um que nos lembra que estamos totalmente entregues a nossas coisas mundanas. Precisamos de um Deus que não apenas ‘não existe’, mas que também sabe que não existe, aceita seu próprio anonimato, convergindo inteiramente no amor que liga todos os membros do ‘Espírito Santo’, ou seja, do Partido ou coletivo emancipatórios.”
Sequência de Idade da Terra (Brasil, 1980), onde Gláuber Rocha desenvolve sua cristologia terceiromundista, estética da fome e delírio tropicalista
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