PICICA: Valter Calheiros, fotógrafo do movimento SOS Encontro das Águas, captura os novos fluxos desejosos da Multidão na manifestação histórica de 20 de junho de 2013. O que se viu nas ruas de Manaus, e de todo o Brasil, foi a expressão livre da vontade comum, expressão da potência em busca de novas formas de organização social, política e estética, muito além da representação. No ar um desejo de comunicação, no sentido da criação do 'comum', que não se reduziu a uma alegoria, mas a uma expressão da potência da restauração da linguagem do corpo e do cartaz em sua apropriação político instrumental.
20 DE JUNHO DE 2013: DIA QUE UM BANZEIRO HUMANO ALAGOU DE CIDADANIA AS RUAS DE MANAUS
(*) Valter Calheiros
Neste momento de mobilizações e manifestações populares, muitas cidades do Brasil se transformaram em um belo alvorecer de jovens com rostos novos a protestar nas ruas e praças contra a corrupção, gerada e patrocinada por um modelo de política que empobrece o bolso e rouba as esperanças de dias melhores para a maioria da população, nos faz lembrar das palavras proféticas de Santa Tereza que em seus ensinamentos alertava “em tempos raríssimos, em tempos belos, que devem ser simultaneamente tempos de muito compromisso, de muita esperança”.
Esperança, compromisso, ética, justiça social, dignidade, ecoam nas palavras de ordem, nos cartazes e faixas, anunciando que o tempo belo e oportuno chegou, que a senha para sair de casa e caminhar com as multidões parece ser “a paciência com os políticos acabou!” O Educador Paulo Freire em uma de suas ultimas entrevistas nos deixou seu ponto de vista sobre caminhar, protestar, manifestar-se: “Eu acho que essas marchas nos afirmam como gente, como sociedade querendo democratizar-se”.
Afogados em tantas injustiças, corpos uniram-se formando um imenso banzeiro humano, naufragando mentes e corações que a muito estavam nas margens apenas vendo o barco passar! Assim, sem lideres ou bandeira, como em todo o Brasil, no dia 20 de junho mais de 100 mil amazonenses desfilaram democracia pelas principais avenidas de Manaus, tendo como motivo do levante o alto preço da passagem do transporte coletivo.
As vozes democráticas das ruas de Manaus surgem como a força criadora de uma criança no ventre materno, quando seus ossos ainda estão recebendo forma, seu sangue está sendo feito e seus sentidos estão sendo desenvolvidos. Momento que apesar de parecer frágil, revela-se crucial e indispensável para o nascer de uma nova vida!
A hora é agora, pois mais de 100 mil vozes incomodaram e causaram desconforto aos governantes, deixando a certeza que quanto mais difícil for o tempo, mais forte deve ser a nossa esperança de fazer acontecer e mudar. Chega de falsas promessas em palanques eletrônicos em tempos de eleição!
As vozes, cartazes e faixas que desfilaram pela Eduardo, 10 de julho, Getulio, Joaquim Nabuco, Djalma, Constantino e em tantas outras ruas e avenidas de Manaus, revelam o sentimento de um povo que está convencido que não serão governos com baixa democracia “corrupção e nepotismo” que enfrentarão os desafios de promover com dignidade a educação, transporte coletivo, saúde, como também políticas que promovam a agricultura familiar, piscicultura e turismo ecológico regional.
O tempo é hoje! Chega de esperar e deixar para o amanhã! Jesus Cristo, com seu testemunho de vida nos convoca no evangelho de Mateus: “Façam isso em memória de mim”. Isso mesmo, Ele disse, dêem a vida em memória de mim, dêem a vida aos pobres, aos pequenos!
No banzeiro humano que tomou contas de ruas e avenidas um cartaz anunciava: “Amigos ribeirinhos e beiradeiros. Também é por vocês!!!”, frase que declara o apoio em favor das Comunidades Tradicionais Ribeirinhas que lutam para preservar suas terras, localizadas na margem esquerda do rio Amazonas, zona rural de Manaus, onde governos e empresários planejam implantar o projeto pólo naval.
20 de junho de 2013: dia que um banzeiro humano alagou de cidadania as ruas de Manaus!
(*) Educador Salesiano, pesquisador e fotografo do Movimento Socioambiental SOS Encontro das Águas. Graduado em Teologia pela Universidade Católica Santa Úrsula / Centro de Estudos do Comportamento Humano/CENESC/AM, Pós-Graduado em Pesquisa e Ação Social pela Faculdade Tahirih – Manaus / Amazonas.
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