PICICA: "Ainda mais preocupante é o fato da participação deste comitê ter sido
negada pela representante da CNV, Maria Rita Kelh, em sua visita à Terra
Indígena Waimiri-Atroari entre os dias 5 e 6 de julho de 2013. Por outro lado,
os trabalhos da CNV foram acompanhados pelo Programa Waimiri-Atroari (PWA), que
ainda determinou todo o contexto em que seriam ouvidos os indígenas, incluindo
data e local de realização dos trabalhos da CNV, que já haviam sido protelados
por mais de meio ano e, ainda, teve como principal interlocutor um indigenista
da Eletrobrás."
Egydio Schwade
Nota à Comissão Nacional da Verdade
O Comitê Pela Memória Verdade e Justiça do Amazonas vem a público
manifestar sua preocupação quanto ao andamento das investigações da Comissão
Nacional da Verdade (CNV) a respeito dos massacres sofridos pelo povo indígena
Waimiri-Atroari que, entre os anos de 1967 e 1986, foi reduzido a aproximadamente
10% do que era no início da construção da BR-174.
É preocupante que a CNV ainda desconheça o conteúdo do Relatório
encaminhado em outubro de 2012 pelo Comitê da Memória Verdade e Justiça do
Amazonas no qual são descritos os mecanismos encontrados por agentes da Ditadura
Militar para manter encobertos estes atos de genocídio.
Ainda mais preocupante é o fato da participação deste comitê ter sido
negada pela representante da CNV, Maria Rita Kelh, em sua visita à Terra
Indígena Waimiri-Atroari entre os dias 5 e 6 de julho de 2013. Por outro lado,
os trabalhos da CNV foram acompanhados pelo Programa Waimiri-Atroari (PWA), que
ainda determinou todo o contexto em que seriam ouvidos os indígenas, incluindo
data e local de realização dos trabalhos da CNV, que já haviam sido protelados
por mais de meio ano e, ainda, teve como principal interlocutor um indigenista
da Eletrobrás.
É preciso lembrar à CNV que o PWA é comandado pelo indigenista da
Eletrobrás, José Porfírio de Carvalho, que exerceu um dos principais cargos
indigenistas da Ditadura Militar no Amazonas durante o período mais crítico,
quando ocorreram centenas de assassinatos de pessoas no Território
Waimiri-Atroari, em meados da década de 1970. Portanto, José Porfírio de
Carvalho não é o mais indicado interlocutor para o caso. Ele esteve envolvido,
desde a década de 1980, na expulsão da terra indígena de todos os pesquisadores
e professores que se dedicaram a ouvir os relatos dos índios sobre os massacres.
Essa relação do PWA com a ditadura está detalhada no relatório encaminhado a CNV
e que é de domínio público.
Sabendo da enorme importância que terão os documentos gerados pala CNV, o
Comitê também se preocupa com a falta de tempo dedicado a pesquisa deste caso,
pois segundo indicou a representante da CNV, Maria Rita Kehl, este foi o
primeiro e último momento dedicado à escuta dos sobreviventes Waimiri-Atroari.
É preciso atenção para que esses documentos gerados pela CNV não se fragilizem
na superficialidade e inverdades de informações que vão ao encontro do discurso
que, por motivos óbvios, primam pela ocultação dos crimes e seus responsáveis.
O que os Waimiri-Atroari precisam, imediatamente, é voltar a serem
escutados com liberdade total, para que possam continuar a revelar os crimes
que o Regime Militar e a própria FUNAI, atendendo a interesses privados,
perpetraram contra o seu povo, relacionando os seus parentes mortos e as
circunstâncias dos assassinatos.
Manaus, 14 de julho de 2013.
Egydio Schwade/ Coordenador de pesquisa do Comitê do Amazonas.
Egydio Schwade/ Coordenador de pesquisa do Comitê do Amazonas.
(via e-mail)
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