julho 29, 2013

"Ninjas, Samurais, Espadachins e Capoeiras", por Rodrigo Bertame

PICICA: "Essa estrutura de cobertura tem que ser disseminada, sobretudo a parte técnica. Os Ninjas já são tão identificáveis pelos policiais quanto os repórteres da globo são pelos manifestantes. Precisamos de Ninjas , samurais, Jirayas, espadachims, clãs e até os Yojimbos. Liberdade para eles e para a comunicação."

Ninjas, Samurais, Espadachins e Capoeiras


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"Minha mãe tá no pc vendo a neve em Curitiba e o sequestro da irmã do Vitor Belfort, meu pai tá vendo na TV noticiários esportivos que falam o dia inteiro de futebol e meu irmão tá escutando sem fone de ouvido as várias filmagens que vêm das ruas. Do meu pc estou lendo aqui o aviso da Pmerj chamando de criminoso a quem estiver compartilhando material na internet apoiando o vandalismo, também sobre a prisão de dois repórteres da Mídia Ninja e de 4 feridos de arma letal nas manifestações em Laranjeiras. Tudo isso é gravíssimo. Meus pais ainda consomem as mesmas informações, meu irmão é criminoso, eu também. Prender hoje, antes de molhar todo mundo, o canal de comunicação que têm tido mais repercussão nesse período de retomada das ruas como espaço de lutas quer dizer muita coisa, mas sobretudo que todas as vozes serão caladas, menos a de Francisco. Essa estrutura de cobertura tem que ser disseminada, sobretudo a parte técnica. Os Ninjas já são tão identificáveis pelos policiais quanto os repórteres da globo são pelos manifestantes. Precisamos de Ninjas , samurais, Jirayas, espadachims, clãs e até os Yojimbos. Liberdade para eles e para a comunicação." – por Carlos Meijueiro



Dois dias após abrir aqui uma reflexão sobre as midias alternativas e os movimentos, a principal rede midiática que cobre as manifestações anuncia uma exclusiva com o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

A tão esperada entrevista animou toda a militancia, que via nesta finalmente a possibilidade do prefeito ter sua gestão balançada mediante todas as questões que tanto nos incomodam, porém o que foi visto não correspondeu as espectativas. Repórteres mal prepados, diante de um Eduardo Paes que simplesmente os engoliu, e transformou o que seria um golpe contra em um palanque a favor.
Com desenvoltura, Paes transformou a entrevista em uma conversa de cumpadres, se sentiu a vontade, disse o que queria, sobre o que queria. Os comentários pós entrevista se tornaram um mix de acusações descréditos que levaram a midia ninja a uma pequena via crucis durante o fim de semana. 

As manifestações e movimentos porém não param, e no ato Papal de segunda feira dia 22 de janeiro de 2013, a primeira grande ação da polícia foi uma prisão irregular, irresponsável e inconstitucional dos repórteres da midia ninja, uma boa estratégia policial, enxergar quem é o canal de comunicação e visibilidade de itnernet do ato e simplesmente exclui-lo do ato, garantindo que o mesmo não seja acompanhado em tempo real para os que militam de suas casas. 

Com isto, em um perído de 4 dias,  pudemos ver a queda e ressurreição deste canal, e o abalo císmico que este provocou dentro do movimento, e voltamos aqui a tentar refletir o porque de tal abalo císmico, e em nossa concepção passa por um simples ponto: Depositamos nosso olhar fundamentalmente na mídia ninja, em um veículo só em uma única fonte, e o grande risco disso consiste neste ponto, quando esta fonte se abala, não temos um lado B, não temos outra ginga por onde escapar.  


270441_308405202627633_357153898_nDizer que não temos é um erro deste que escreve, pois sim, temos, temos jornais, temos zines, temos blogs, canais de youtube, perfis de facebook, e muitos outros meios midiáticos em ação, que apesar de não ter o apelo do streaming, ou uma gama grande de disseminadores, está aí na luta também com trabalho, temos uma pluralidade de gente que põe seus equipamentos e ferramentas em risco para relatar e dar visibilidade a tais ações, alguns articulados a partidos, outros totalmente independentes.
Só para remeter, o jovem Bruno, outra prisão irresponsável da Polícia, tem claras imagens o inocentando que são fotos, videos pós-fato postados em youtube, divulgações de facebook, é nisto que habita a pluralidade de ações, não nos prendermos em um único instrumento de divulgação é o que garantiu ao Bruno ter material que demonstra sua inocencia no caso dos molotov.

O ideal é que todos tenhamos acessibilidade para sermos produtores de mídias alternativas, porém é uma realidade ainda um pouco cara quando vislumbramos como mídia apenas as possibilidades que a “muderninade” nos garante, observemos com clareza os meios e ferramentas mais “rudimentares” para produzir um canal de streaming vemos por exemplo que o mesmo precisa minimamente de um smartphone razoável e um bom plano de 3G,  os custos de um equipamento destes exclui por exemplo a realidade de que moradores de Acari e Costa Barros, (pior IDH do Rio),  possam ser sua própria mídia ao vivo e divulgar os abusos que sofrem diante. Como ser um produtor de midia alternativa diante deste impecilho estrutural (escolher entre comer e pagar um plano 3G)? 

Amarildo Poderia ter sido um midiativista de streaming de seu próprio desaparecimento com uma renda familiar de R$300,00 reais mensais? 

Resposta a pergunta acima, quase impossível, porém o caso Amarildo está sendo debatido, e por quais mídias? constantes mensagens de facebook e twiter, boca a boca, cartazes, faixas, placas. Amarildo repercute, ecoa do movimento para além do movimento, e nos diz que em meios a Iphones, Ipads, Aplicativos cool, Banksy ainda continua potente e atual.

Não podemos esperar que todos tenham uma ONG por trás para dar apoio estrutural e logístico, ou seria esta a única forma de se viabilizar uma nova rede de mídias alternativas? Será que temos que admitir que o único meio de construir uma midia alternativa e independente deverá passar diretamente pelo financiamento do estado, ou de alguma corporação, ONG, ou outro tipo de organização? Será esta  uma proposta real de midia livre ou uma simples troca de canal, repetirmos o mais do mesmo?
Particularmente cremos que uma boa rede de mídias alternativas depende da valorização e utilização de todos os meios e sistemas possíveis, desde cartas manuscritas até um canal de tv próprio, temos de atuar em todas as matizes que nos alcançam, e fortalecer a todas estas, quanto mais plural for  o sistema, mais vozes falantes são produzidas, mais pontos de vista e debate é produzido, mais teses e antiteses são elaboradas e maior é a evolução do discurso. 


Cremos que mídias alternativas plurais, devem ser disseminadas em todo o seu aparato, para que possam ser replicadas, sem obstruções legais ou técnicas,  devemos por sua vez debater e reformular sistemas que vemos não funcionar como deveriam, podemos citar como exemplo os sistemas de rádios comunitárias, devemos questionar a capacidade de sustentabilidade da produção midiática para além da necessidade de verba, e também de constar que quanto mais locais conseguirmos levar tal mídia tão mais forte será o som do tambor desta, e por consequencia mais importancia a voz dela terá para a sociedade.

O importante é ter sempre em mente que a verdadeira potencia está naquele que frequenta o embate, que filma  in loco, que escreve, que dissemina, e não na ferramenta deste; sendo assim, quanto mais livre de alguma amarra, de capturas, de alguma mega-estrutura  tiver, tanto mais vivo vai ser o discurso. 

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Fonte: Linhas de Fuga

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