Revoluciona Rio
Revoluciona Rio
Poema por Henrique Glück*
A multidão é um estranho,
É a boca aberta, o desejo.
É o monstro estético coletivo,
A política dos corpos vivos,
Que horizontaliza, na terra,
Na natureza selvagem das ruas,
No dígito deletério do virtual,
Na imagem sintética da rede social.
Na superfície plena do corpo um toque,
Que contagia como o vírus da troca.
Efetua na inércia do tempo o deslocamento.
Repete de novo o novo como um vício.
O mar e a multiplicidade que emerge
Feminina, lunar e inconstante, oculta muda.
No silêncio emerge potente, como no início,
No ventre do mundo há um outro crescente.
É o inconsciente à flor da pele que arde,
Na bomba incendiária diária que te arrasa.
O Corpo vandalizado pelo trabalho alienado,
Seu tempo sequestrado, vendido barato
E é tarde para pensar em voltar atrás.
O Rio de janeiro nunca foi de paz.
Proibido samba, o funk, mas o sangue não.
Mais ou menos letais as armas estatais não calarão
Os corpos que criam sentido, bandidos que negam teu não.
Violência seletiva vire à esquerda e siga adiante.
Há um encontro não autorizado, é o poder popular.
Pode procurar seu lugar na história e na canção,
Longe da perseguição racial, social ou política,
Reagir ou ser a próxima vítima pacífica?
Eis a questão, temer ou não temer a pressão?
Impacto, vibração, luz e som, estrondo.
Estética e resistência contra o medo profundo.
A paralisia, a correria e o grito de dentro e fora,
Estouram fogos de artifício e artefatos fatais.
Revolucionária evolução do carnaval,
Incendiária explode a palavra de ordem
Na cara do aparato do Estado policial.
Choque de vida na sua ordem vertical.
O caos transforma a ordem caduca,
Reconfigura a cultura e afirma
O corte transversal que traz,
Na guerra, a torre à terra.
*Henrique Glück é integrante DasLutas
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