PICICA: "[...] suas frases estão num outro nível de combate. Elas dão a
impressão de assegurar que as manifestações que acontecem atualmente no
Brasil desenrolam-se num patamar ou nos entremeios de desejos
transformadores que não precisam ser prematuramente adjetivados.
Entretanto, é também claro que os afetos que vivemos numa multíplice
manifestação acabam ganhando nomes que tentam apreender até mesmo suas
mínimas diferenças. Não é à toa que Deleuze, para citar um pensador
presente na sua escrita, salienta que o devir revolucionário das gentes
não é marcado apenas pelo ser contra algo, mas também pelo agir contra
si mesmo, no sentido de estar atento para que não emerja o fascista que
podemos estar carregando em nós mesmos ao nos manifestarmos, conforme
atestam certas coreografias policiais e contra policiais."
Luiz Orlandi comenta “Anota aí: eu sou ninguém” de Peter Pál Pelbart
Meu caro filósofo húngaro.
Anoto, embevecido, o ser ninguém da sábia manifestante que você coloca no centro deste seu movimento escritural.
Também as suas são belíssimas expressões. Vigorosas e convidativas.
Sei que você não está pedindo uma adesão cega (como se dizia
antigamente) ao que se passa quando as multidões se movimentam.
Imposssível esquecer que houve multidões nazistas fervendo de desejos
engordados cada vez mais de poderes diabólicos.
Mas suas frases estão num outro nível de combate. Elas dão a
impressão de assegurar que as manifestações que acontecem atualmente no
Brasil desenrolam-se num patamar ou nos entremeios de desejos
transformadores que não precisam ser prematuramente adjetivados.
Entretanto, é também claro que os afetos que vivemos numa multíplice
manifestação acabam ganhando nomes que tentam apreender até mesmo suas
mínimas diferenças. Não é à toa que Deleuze, para citar um pensador
presente na sua escrita, salienta que o devir revolucionário das gentes
não é marcado apenas pelo ser contra algo, mas também pelo agir contra
si mesmo, no sentido de estar atento para que não emerja o fascista que
podemos estar carregando em nós mesmos ao nos manifestarmos, conforme
atestam certas coreografias policiais e contra policiais. Não são os
adjetivos, mas essas mínimas diferenças é que acabam marcando as
manifestações como multiplicidades substantivas. São essas clivagens
internas que nos obrigam a pensar e a agir em prol, não do oba-oba, mas
de um comum vital criador de melhores conviviabilidades.
Vejo que um fio de segurança invade suas frases. Ele nos chega
chega de uma noção comum, a da vida em comum, diversamente marcada por
uma ‘singularidade qualquer’, e que você orienta no combate capaz de
abrir possibilidades no carcomido molde de exercício dos poderes
políticos e outros mais. À medida que leio e releio sua escrita, prezado
Ulices, algo em mim adere cada vez mais a ela, ao ardil que a compõe.
Só não sei qual é, precisamente, esse ardil.
Mas o que importa é que ele está me forçando a agradecer a você por mais essa escrita.
Abraços de Orl van Andi
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