julho 22, 2013

"Luiz Orlandi comenta “Anota aí: eu sou ninguém” de Peter Pál Pelbart" (Laboratório de Sensibilidades)

PICICA: "[...] suas frases estão num outro nível de combate. Elas dão a impressão de assegurar que as manifestações que acontecem atualmente no Brasil desenrolam-se num patamar ou nos entremeios de desejos transformadores que não precisam ser prematuramente adjetivados. Entretanto, é também claro que os afetos que vivemos numa multíplice manifestação acabam ganhando nomes que tentam apreender até mesmo suas mínimas diferenças. Não é à toa que Deleuze, para citar um pensador presente na sua escrita, salienta que o devir revolucionário das gentes não é marcado apenas pelo ser contra algo, mas também pelo agir contra si mesmo, no sentido de estar atento para que não emerja o fascista que podemos estar carregando em nós mesmos ao nos manifestarmos, conforme atestam certas coreografias policiais e contra policiais."


Luiz Orlandi comenta “Anota aí: eu sou ninguém” de Peter Pál Pelbart


Meu caro filósofo húngaro.
Anoto, embevecido, o ser ninguém da sábia manifestante que você coloca no centro deste seu movimento escritural.
Também as suas são belíssimas expressões. Vigorosas e convidativas.
Sei que você não está pedindo uma adesão cega (como se dizia antigamente) ao que se passa quando as multidões se movimentam. Imposssível esquecer que houve multidões nazistas fervendo de desejos engordados cada vez mais de poderes diabólicos.
Mas suas frases estão num outro nível de combate. Elas dão a impressão de assegurar que as manifestações que acontecem atualmente no Brasil desenrolam-se num patamar ou nos entremeios de desejos transformadores que não precisam ser prematuramente adjetivados. Entretanto, é também claro que os afetos que vivemos numa multíplice manifestação acabam ganhando nomes que tentam apreender até mesmo suas mínimas diferenças. Não é à toa que Deleuze, para citar um pensador presente na sua escrita, salienta que o devir revolucionário das gentes não é marcado apenas pelo ser contra algo, mas também pelo agir contra si mesmo, no sentido de estar atento para que não emerja o fascista que podemos estar carregando em nós mesmos ao nos manifestarmos, conforme atestam certas coreografias policiais e contra policiais. Não são os adjetivos, mas essas mínimas diferenças é que acabam marcando as manifestações como multiplicidades substantivas. São essas clivagens internas que nos obrigam a pensar e a agir em prol, não do oba-oba, mas de um comum vital criador de melhores conviviabilidades.
Vejo que um fio de segurança invade suas frases. Ele nos chega chega de uma noção comum, a da vida em comum, diversamente marcada por uma ‘singularidade qualquer’, e que você orienta no combate capaz de abrir possibilidades no carcomido molde de exercício dos poderes políticos e outros mais. À medida que leio e releio sua escrita, prezado Ulices, algo em mim adere cada vez mais a ela, ao ardil que a compõe. Só não sei qual é, precisamente, esse ardil.
Mas o que importa é que ele está me forçando a agradecer a você por mais essa escrita.
Abraços de Orl van Andi

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