setembro 25, 2013

"Black (and Red) Bloc (or bird)" - Cotidia(não)

PICICA: "Michel Maffesoli[1] afirma que, depois de Nietzsche, toda a profundidade está na aparência, uma vez que tudo o que existe é a aparência. Qualquer essência é ficção, a começar pelo "eu", pelo sujeito. As máscaras, nesse sentido, são tudo o que há, sejam as negras, do Black Bloc, sejam as sociais. Não as conscientes, que criamos em dadas situações. Falo é daquelas mais naturalizadas, nas quais cremos com maior vigor. Aquelas em que colamos o rótulo de "eu". As que elevamos ao posto de 1a pessoa. A partir daí, o espaço público é tomado pelo privado. É o "meu carro", o "meu plano de saúde", a "minha escola". O "meu dinheiro" nos impostos. Uma coisa não é desconectada da outra. O cercamento da propriedade privada é fruto dos muros erguidos ao redor do indivíduo, das fronteiras que separam o "eu" do "outro". O espaço se torna particular. As lutas se tornam particulares, atomizadas.

Mais uma vez, a individuação irrompe como política pública. Exigir a cara é calar gritos coletivos. Só que o grito não tem cara. É só som. Com fúria. E com amor. Como a vida, que não tem forma alguma. Como a ave sem nome, nômade e linda."

Black (and Red) Bloc (or bird)


Voa, pelos céus dos séculos, uma ave vermelha e negra. É Abeguar. Mas é também Manuel Balaio, Cal, João Cândido. A cada evento histórico toma uma forma humana, ama, luta, morre. E volta. Não se encontram os corpos. Não se deixam vestígios. É só isso a experiência humana. Nada mais. É nessa linha que se desenvolve a animação "História de amor e fúria", de Luiz Bolognesi. Por uma leitura revisitadora, reconstrói-se, sob uma outra perspectiva, a história do excluído e do marginalizado. Esse que não tem cara nos livros. Cara esta que, agora, é tão cara ao governo carioca.

Não espanta a notícia do começo do mês sobre a possibilidade de se levarem os manifestantes mascarados à cadeia. Não se trata apenas de identificar os "desordeiros", os "vândalos", mas também da corroboração de uma necessidade absoluta do poder hoje: dar um rosto, uma história, um número a cada homem. Nome, sobrenome, histórico escolar, criminal, de pagamento. Identidade. N´algum lugar, diz Lévi-Strauss ter sido o sedentarismo uma das causas para o enfraquecimento humano, para seu adoecimento. Das doenças, a maior é sua individualidade, que fixa residência numa única face, acostuma-se a ela. Rende-se a ela. Fixam-se seus limites. Sufoca-se toda sua potência. Domesticado por si mesmo, esse homem diminui e se reduz. A ave se deixa capturar e engaiolar. 

Michel Maffesoli[1] afirma que, depois de Nietzsche, toda a profundidade está na aparência, uma vez que tudo o que existe é a aparência. Qualquer essência é ficção, a começar pelo "eu", pelo sujeito. As máscaras, nesse sentido, são tudo o que há, sejam as negras, do Black Bloc, sejam as sociais. Não as conscientes, que criamos em dadas situações. Falo é daquelas mais naturalizadas, nas quais cremos com maior vigor. Aquelas em que colamos o rótulo de "eu". As que elevamos ao posto de 1a pessoa. A partir daí, o espaço público é tomado pelo privado. É o "meu carro", o "meu plano de saúde", a "minha escola". O "meu dinheiro" nos impostos. Uma coisa não é desconectada da outra. O cercamento da propriedade privada é fruto dos muros erguidos ao redor do indivíduo, das fronteiras que separam o "eu" do "outro". O espaço se torna particular. As lutas se tornam particulares, atomizadas.

Mais uma vez, a individuação irrompe como política pública. Exigir a cara é calar gritos coletivos. Só que o grito não tem cara. É só som. Com fúria. E com amor. Como a vida, que não tem forma alguma. Como a ave sem nome, nômade e linda.




Referência Bibliográfica

[1]MAFFESOLI, Michel. A sombra de Dioniso: contribuição a uma sociologia da orgia. 2. ed. – São Paulo: Zouk, 2005.
Fonte: Cotidia(não)

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