PICICA: "Na manhã de ontem (25), uma equipe de
pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA),
que vem realizando trabalho de campo nesta região e acompanhou o ato de
mobilização coletiva, em torno da reivindicação da posse de terra,
designado pelos participantes como "ocupação", esteve no local. De modo
recorrente, a abordagem jornalística classifica essas pessoas como
"invasores" ou "supostos índios", o que coloca em dúvida o caráter
étnico deles e enfraquece o movimento indígena como um todo. Ao
conversar com os representantes da Polícia Militar, da Fundação Nacional
do Índio (Funai) e da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas
(Seind), que integravam a operação, constatou-se que as representações
sobre os indígenas feitas pela imprensa local reproduzem o discurso das
agências oficiais. Isso contribui para que o público tenha uma visão
equivocada sobre os indígenas. Camufla o problema da distribuição de
terra na região metropolitana de Manaus. Na verdade, essas manifestações
surgem como resultado de um modo de apropriação desigual da terra que
vem definindo a configuração da cidade."
Índios são agredidos por Polícia Militar no Amazonas
- Sex, 27 de Setembro de 2013 11:46
Foto: Glademir Sales dos Santos (25.09.13)
"Eles disseram: vocês tem arco e flecha;
a gente tem é bala". De acordo com uma Kokama, essas foram as palavras
de um policial durante a operação com intenção "pacífica", iniciada na
última segunda-feira (23), para impedir o acesso a uma área ocupada por
indígenas e não-indígenas, desde o mês de julho deste ano, no km 05, da
rodovia Manoel Urbano (AM-070), no município de Iranduba, na região
metropolitana de Manaus. Entre os indígenas, havia quem se
autodesignasse Miranha, Kokama, Apurinã e Baré, Sateré-Mawé, Tuyuka,
Tikuna, inclusive famílias que se autodefinem Mura, que se deslocaram do
rio Urubu, Itacoatiara-AM; e, entre os não-indígenas, agricultores e
ribeirinhos.
Na manhã de ontem (25), uma equipe de
pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA),
que vem realizando trabalho de campo nesta região e acompanhou o ato de
mobilização coletiva, em torno da reivindicação da posse de terra,
designado pelos participantes como "ocupação", esteve no local. De modo
recorrente, a abordagem jornalística classifica essas pessoas como
"invasores" ou "supostos índios", o que coloca em dúvida o caráter
étnico deles e enfraquece o movimento indígena como um todo. Ao
conversar com os representantes da Polícia Militar, da Fundação Nacional
do Índio (Funai) e da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas
(Seind), que integravam a operação, constatou-se que as representações
sobre os indígenas feitas pela imprensa local reproduzem o discurso das
agências oficiais. Isso contribui para que o público tenha uma visão
equivocada sobre os indígenas. Camufla o problema da distribuição de
terra na região metropolitana de Manaus. Na verdade, essas manifestações
surgem como resultado de um modo de apropriação desigual da terra que
vem definindo a configuração da cidade.
Casos de violência física cometidos pela
Polícia Militar foram relatados à equipe de pesquisadores. Muitos deles
ligados à estratégia de isolamento da área, uma vez que quem estivesse
fora não poderia mais entrar. Um Tuyuka, de 16 anos, mostrou as marcas
no corpo da agressão sofrida ao tentar retornar para o local na manhã de
segunda-feira (23). "Me algemaram, me jogaram dentro do camburão, e me
levaram. Quando chegou lá dentro, o policial me trancou com ele sozinho
dentro da sala, e disse: 'agora nós vamos conversar'. Puxou o cassetete
dele. O delegado [de Iranduba] chegou. [Eles] me seguraram e me deram um
murro", disse o menor.
O rapaz também contou que foi ameaçado.
"Eu me senti ameaçado, por [ele] dizer que vai descarregar uma pistola
na minha cara". Em seguida, segundo ele, uma equipe do Conselho Tutelar
apareceu e impediu que a violência continuasse. "Começaram a me dar
guaraná, café, bolacha pra comer. Aí queriam me dar um monte de recurso,
bolsa escola; bolsa família; minha casa, minha vida; e eu falei que não
queria nenhuma dessas coisas. Falei que eu queria o meu direito. Que
eles não podiam ter me batido. Não estava fazendo nada".
Casas foram destruídas por tratores. Sem
poder entrar, as pessoas se aglomeravam do lado de fora, dizendo não
saber o que fazer. E mais casos de uso de força bruta da polícia eram
relatados. "A polícia está batendo no pessoal. Uma jovem, aqui, foi
apoiar a mãe dela, e um policial do Iranduba bateu nela. Todo mundo viu,
agora ninguém pode falar nada, porque, se falar, ele volta de tarde e
bate na pessoa", afirmou Sr. J., cuja casa e objetos pessoais foram
destruídos. "Estão quebrando tudo. Minhas coisas lá dentro estão
quebradas. Dá até vontade de chorar. Já pensou um homem de 51 anos
chorando? Mas é triste. A gente não tem onde morar", continuou.
Um Kokama, de 20 anos, conseguiu fugir
depois de ter sido agredido e algemado, quando tentava retirar seus
pertences de sua casa. "Saí fora daqui, aí deu um tapa na minha cara. No
descuido deles, eu puxei meu braço e sai correndo. Pulei a cerca e eles
correndo atrás de mim. Só não me pegaram por causa do resto dos
guerreiros que fecharam a rua para eles não passar", explicou o jovem.
Foto: Marcia Meneghini (25.09.13).
Foto: Marcia Meneghini (25.09.13).
Manaus, 26 de setembro de 2013.
Glademir Sales dos Santos e Marcia Meneghini.
Fonte: Nova Cartografia Social da Amazônia
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