PICICA: "Entraram em cartaz primeiro em São Paulo, depois no Rio. Fizeram
grande sucesso no Brasil, ganharam seguidores que largavam o emprego, a
família, que se restruturavam e desestruturavam. O grupo sacudia o
dispositivo da sexualidade que Foucault descreve no livro A História da Sexualidade I (.pdf).
[...]
Homens ou mulheres? Mais. Ou nenhum. A resposta do grupo para essa pergunta era: “Não somos homens, nem mulheres, nós somos gente”.
E quem iria dizer que não? Eram gente. Gente fazendo política. Gente
que mexia com as estruturas sexuais e de gênero. Gente que não se
agarrava as identidades, gente que se relacionava com outras pessoas.
Gente como a gente."
Dzi Croquettes
Nos anos 70, em plena ditadura militar, nasceu o grupo Dzi Croquettes. Depois de um encontro no bar em que comiam croquete e falavam sobre o grupo americano The Croquettes, Wagner Ribeiro finalmente iniciou o grupo que idealizava há tanto tempo. Com a chegada de Lennie Dale no Brasil, dançarino americano que sambava ao estilo da Broadway como ninguém, logo entrou no grupo e passou a ajudar nos ensaios.
Dzi Croquettes – Show na TV Alemã.
Purpurinas no bigode e no peito cabeludo, corpos musculosos e sunga fio dental. Os Dzi Croquettes mexiam com todos os significados do que é ser homem e ser mulher, mexiam com a sexualidade e com a heterossexualidade, não havia mais identidade sexual. Ali, todas e todos se atraiam por aquelas pessoas que estavam no palco, fazendo cenas memoráveis, usando seu corpo de forma política.
Homens ou mulheres? Mais. Ou nenhum. A resposta do grupo para essa pergunta era: “Não somos homens, nem mulheres, nós somos gente”. E quem iria dizer que não? Eram gente. Gente fazendo política. Gente que mexia com as estruturas sexuais e de gênero. Gente que não se agarrava as identidades, gente que se relacionava com outras pessoas. Gente como a gente.
As pessoas que faziam parte do grupo Dzi Croquettes não estavam ligadas a nenhuma política institucional. Eram uma família, com mãe, tias, filhas, primas. Eram livres, faziam seus próprios personagens e assim passavam a mensagem da liberdade purpurinada. Mesmo sem estar ligado a nenhuma instituição política, o grupo usava o próprio corpo como forma de resistência. Dava uma nova cor política para o Brasil.
O grupo Dzi Croquettes contava com inúmeras fãs mulheres que também os seguiam, dessas fãs formou-se o grupo Dzi Croquettas, que não ficou muito famoso. Desse grupo surgiu As Frenéticas que se inspiraram em Dzi Croquettes. Wagner Ribeiro compôs algumas músicas para as Frenéticas.
Mesmo sem entender o que significava todo aquele ato político, o AI-5 (Ato Institucional – número 5) proibiu o espetáculo. O grupo Dzi Croquettes foi para Europa e fez muito sucesso, obrigada. Mas, a saudade do Brasil falou mais alto e acabaram aceitando a proposta de um fazendeiro para fazer um show na Bahia. Sem dinheiro e envolvidos com drogas pesadas, o grupo acabou se separando.
Vieram novas formações do grupo Dzi Croquettes, mas o espírito revolucionário e explosivo da primeira formação não voltaria mais. Não porque as novas formações não fossem boas, mas porque o momento e as relações não eram mais a mesmas. O que importa é que a primeira formação deu um curto-circuito em inúmeras pessoas que saíram por aí inspirando outras e outras e mais outras.
Pessoas ensinando que o mais importante de tudo é ser gente. Gente que vai além dos binarismos de gênero, da heteronormatividade e da cor da pele. As pessoas que faziam Dzi Croquettes tinham essa magia de subir no palco e pausar o preconceito. Eu, particularmente, toda vez que vejo uma pessoa preconceituosa uso meu novo verbo: vou croquettear você. Porque nós precisamos mesmo é de menos coxinhas e mais croquettes, não é mesmo?
Para saber mais assista o documentário Dzi Croquettes:
Documentário Dzi Croquettes (2009).
Fonte: Blogueiras Feministas
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