outubro 09, 2013

"Ocupações são usinas produtivas", por Rodrigo Modenesi

PICICA: "A convivência nas ocupações não expressa a tolerância, mas uma nova forma de viver,  mais amorosa.

As ocupações têm atuado como tubos de ensaio experimentando outras maneiras possíveis de viver em sociedade.

São espaços de exceção onde as barreiras sociais “invisíveis” são suspensas.

E onde as ideias, os corpos (as vozes) podem circular, se relacionar, trocar.

Em todas as ocupações o clima é de extrema solidariedade e construção coletiva."

Ocupações são usinas produtivas

08/10/2013
Por Rodrigo Modenesi


Por Rodrigo Modenesi
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Nas ocupações não existe nenhum tipo de preconceito contra cor de pele, origem social, orientação sexual ou outros: os negros, os heteros, os pobres, os brancos, os gays, os idosos, os índios, as lésbicas, os jovens convivem sem problema.

Mas não confundam: esta convivência não é a expressão do “politicamente correto” atual.

Os black blocs na OcupaCabral costumavam dizer: “Sem moralismo!”.

Esta não é apenas uma frase. É, sim, uma postura, uma visão de mundo, uma ética.

A convivência nas ocupações não expressa a tolerância, mas uma nova forma de viver,  mais amorosa.

As ocupações têm atuado como tubos de ensaio experimentando outras maneiras possíveis de viver em sociedade.

São espaços de exceção onde as barreiras sociais “invisíveis” são suspensas.

E onde as ideias, os corpos (as vozes) podem circular, se relacionar, trocar.

Em todas as ocupações o clima é de extrema solidariedade e construção coletiva.

E para quem critica dizendo que nas ocupações só tem vagabundo, é bom lembrar que estes espaços são verdadeiras usinas de produção.

As ocupações produzem textos, imagens (fotos e vídeos), cartazes, ações, atos, palestras,  encontros, manifestações, música, peças de teatro, aulas públicas, assembleias e mais.

O fato destas atividades não serem remuneradas financeiramente não quer dizer que esta produção não seja trabalho.

Trabalha-se e produz-se muito nas ocupações.

Estes trabalhos tentam aproximar o desejo da produção e re-unir o trabalho com o amor.

Segundo o filósofo Gilles Deleuze, ao criticar a noção de força de trabalho: “Em primeiro lugar a noção mesma de força de trabalho isola arbitrariamente um setor, corta o trabalho da sua relação com o amor, a criação e mesmo a produção.” (Conversações, p. 59, tradução nossa).

O trabalho principal das ocupações é tentar dar voz àqueles que não têm este direito reconhecido na nossa sociedade.

“Então, como conseguir falar sem dar ordens, sem pretender representar alguma coisa ou alguém, como conseguir fazer falar aqueles que não têm o direito, e dar ao som seu valor de luta contra o poder?” (idem, p. 61).

Este é o nosso trabalho.

Cultura se faz nas ruas.

Vem pra rua!

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Fonte: Universidade Nômade

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