PICICA: "O caminho da violencia pela
violencia (seja justificada pelos autores ou não) tende a se tornar um
ciclo vicioso de crescimento em exponencial que pode nos levar a um
futuro muito delicado ou ao não-futuro. Estamos diante de um momento
crucial, onde armas letais já estão sendo utilizadas, o que se constrói
com isso? Seguiremos o mesmo rumo que nos levou a incorporar como parte
da cidade a guerra do tráfico? Inserir o conceito de classificar quem
vai aos atos como grupo criminoso, organizado, e deixar inserido no
território uma constante de conflito armado? diante de um panorama que
era de pedras e balas de borracha, surgem tiros de pistola, é este
movimento que o estado pretende?"
Falta de diálogo abre espaço para a guerra.
Terça Feira, 15 de outubro, dia dos professores, centro da cidade do Rio de Janeiro de São Sebastião.
Um imenso ato marca a data, de dentro da manifestação, grupos de diversos movimentos caminhando juntos, individuos , instituições, sindicatos, partidos, ideologias, todo seguindo da Candelária até a Cinelândia.
É legítimo dizer que manifestar-e já se tornou parte da paisagem urbana, bancos com suas fachadas de tapumes de compensado, lojas liberando seus funcionários mais cedo, há um novo padrão de comportamento, estar no ato, aplaudir o ato, e o melhor, entender o ato é a nova rotina da cidade.
Acaba oficialmente, por parte do sindicato, o ato dos professores por volta das 20h. A multidão permanece firme na rua, alguns começam a partir, mas ainda há muita gente na hora em que iniciam-se as ações diretas mais radicais na guerra entre Black Blocs e Polícia Militar, o conflito segue em meio a pedras e bombas de gás, num dado momento flagra-se por parte da PM tiros de arma letal, em outro momento e outra situação, um carro da polícia militar é incendiado, a cidade se torna realmente palco de uma guerra, uma explosão de stress e revolta de ambos os lados cujo fim é o mais inesperado de todos.
Em um momento onde ambos os lados estão mais calmos, é dado voz de prisão a centenas de manifetantes que estavam sentados na escadaria da câmara dos vereadores que também poderia ser chamado de ocupa câmara, e todos estes são levados a diversas delegacias dentro de ônibus da polícia.
Assim tem-se seguido o rumo dos atos, em uma constancia de falta de diálogo, e maior valorização da ostensividade anti-vandalismo, onde o estado tenta buscar os meios de punir e eliminar aquilo que não tem controle, tentar hierarquizar aquilo que não tem hierarquia, tenta buscar organização e liderança naquilo que não é organizado, e criminalizar coisas que não podem ser definidas como crime.
O caminho da violencia pela violencia (seja justificada pelos autores ou não) tende a se tornar um ciclo vicioso de crescimento em exponencial que pode nos levar a um futuro muito delicado ou ao não-futuro. Estamos diante de um momento crucial, onde armas letais já estão sendo utilizadas, o que se constrói com isso? Seguiremos o mesmo rumo que nos levou a incorporar como parte da cidade a guerra do tráfico? Inserir o conceito de classificar quem vai aos atos como grupo criminoso, organizado, e deixar inserido no território uma constante de conflito armado? diante de um panorama que era de pedras e balas de borracha, surgem tiros de pistola, é este movimento que o estado pretende?
Assim no dia 15, um ato que deveria ser findado com uma proposta de abertura de diálogo entre os professores e a secretária de educação do governo (estadual e municipal) preferiu a abertura de combate direto, pondo de um lado uma juventude altamente revoltada e cansada da situação deste governo, e de outro lado uma tropa policial altamente estressada com todo este excesso de trabalho, e nos deixa aberta uma questão maior:
- Por que um soldado ou oficial da PM tem que resolver as questões que cabem a secretária de educação?
Cada ausencia de diálogo com representatividades sociais por parte das instituições de poder faz ampliar ainda mais o espaço para a descrença em qualquer tipo de poder e representatividade, e por sua vez abre o caminho para a violência e a guerra.
Talvez por isso vemos: De um lado tiros, de outro pedras, urge a abertura de um canal de comunicação e uma proposta de entendimento, por parte dos dois lados desta moeda antes que venhamos todos a chorar um morto nisto tudo; lembrando também que tanto de um lado como de outro, algumas pessoas buscam um morto para chamar de seu.
Fonte: Linhas de Fuga
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