outubro 30, 2013

"O PSOL e a OcupaCâmara (Rio)", por Luiz Cotinguiba

PICICA: "Vale a pena fazer um adendo ao texto que postei e que diz respeito ao fato de algumas pessoas ligadas ao PSOL terem condenado a atitude dos que decidiram sair e impor a saída aos outros lá dentro. Não foram muitas, é verdade, mas são pessoas que desde o início repudiaram o que foi feito lá dentro e que até hoje estão juntos conosco no Ocupa Câmara (Ocupa Câmara de laços humanos, porque o espaço físico como sabem foi destruído); pessoas que conseguem conciliar ter uma linha partidária e participar de um movimento sem querer cooptá-lo ou dominá-lo; pessoas que, mesmo sendo de um partido, estão naquele movimento porque acreditam nele e respeitam a horizontalidade que ele propõe."

O PSOL e a OcupaCâmara (Rio)

30/10/2013
Por Luiz Cotinguiba


Por Luiz Contiguiba(29/10)
contiguilo

Republicamos o comentário postado pelo autor no canal da UniNômade (FB), ao texto do Juntos!, ligado ao PSOL: Eu não escondo o meu rosto. O texto repercute a experiência pessoal do autor, que esteve acampado por direitos durante doze dias na Câmara dos Vereadores do Rio, e é elemento importante para contribuir no debate sobre as relações entre as formas da representação e a autonomia dos movimentos. Foi publicado, ainda, o comentário em adendo do mesmo autor.



Gente, esse texto do PSOL só corrobora com a impressão que eu, enquanto ocupante da parte interna do Ocupa Câmara Rio por 12 dias, bem como provavelmente todos os outros amigos que decidiram permanecer com a ocupação no dia 10 tivemos desse partido em especial.

No dia que eles saíram da ocupação estávamos muito fragilizados e por isso decidimos não denunciar o que eles fizeram lá dentro conosco, mas acho importante falar.

Era o segundo dia de ocupação (dia 10) e já ficamos satisfeitos com o fato de o presidente da Câmara ter aceito se reunir para discutir conosco a ocupação. Tínhamos uma pauta de 5 pontos que foi levada até ele. Como ele não queria receber as mais de 40 pessoas que se encontravam lá até esse momento, 12 voluntários se disponibilizaram para ir (desses 12, que eu me lembre, apenas eu, o Ciro e o Ninja não éramos de nenhum partido ou movimento estudantil). Fomos à reunião e o Jorge Felippe agiu conforme se esperava: negou o tempo todo poder fazer alguma coisa, adotou uma postura dita legalista e não discutiu nossa pauta.

Eu, que até então não tinha nenhuma experiência com ocupação e discussões em assembleias, saí da reunião achando ao menos positivo o fato de termos conseguido estabelecer um primeiro diálogo, imaginando que, com pressão popular nos próximos dias pudéssemos avançar o que queríamos (essa pauta inicial era restrita à questão da CPI dos Ônibus).

No entanto, ao sair de lá, umas figuras de “destaque” da galera das juventudes do PSOL e outros movimentos de esquerda aparentemente tiveram outra impressão. Uma delas disse que “precisava digerir tudo aquilo” e, por isso, ao voltarmos ao Plenário, sugeriu que fizéssemos uma pausa de 2 horas para comermos e depois nós 12 que havíamos ido à reunião contaríamos como havia sido. As pessoas concordaram e foi o que fizemos.

Porém, as coisas ficaram estranhas nesse ínterim. Sentei-me para comer no fundo da sala e conversar com um pessoal reunido ali. Não conhecia ninguém, estávamos ali conversando e eles me perguntaram: “você tá pensando em sair?” Eu disse que obviamente não, e perguntei o motivo da questão, ao que me disseram que “andaram perguntando” para várias pessoas se elas “ainda queriam ficar”. Achei aquilo esquisito, mas não dei muita bola, afinal o saldo da conversa com o Jorge Felippe não havia sido ruim.

Quando nos organizamos para falar sobre a reunião, veio a surpresa: praticamente todos os que haviam participado da reunião se colocaram a favor de desocuparmos naquele dia mesmo, pois a ocupação – que tinha pouco mais de 24 horas – “já havia atingido seu ápice na sociedade carioca”. Foi-nos repetido inúmeras vezes que ali dentro estávamos de mãos atadas e não teríamos como mobilizar do lado de fora e foram invocando um discurso jurássico de massificar o movimento na base da classe operária (nas linhas do texto desse cara aí). Ora, um argumento fraco, pois havíamos acabado de entrar dispostos a ocupar e sabendo das limitações de saída. Além disso, todo mundo ali tinha celular, tínhamos internet, uma página recém-criada e cada um dos ocupantes com certeza conhecia muitas outras pessoas que iriam, por sua vez, ampliar aquela rede de mobilização.

Enfim, criaram o alarme de que era melhor desocupar e propuseram votação acerca disso. Basicamente, nós que queríamos ficar expomos nossas posições uns para os outros, porque os “destaques” partidários já tinham posição formada, então pra quê debate, né? Ficaram lá no fundo comendo e rindo, enquanto eu e as pessoas incríveis que vim a conhecer (os Amarildos que decidiram permanecer) articulávamos argumentos para fortalecer aquilo em que acreditávamos.

A votação finalmente foi feita e os que decidiram pela desocupação (todos do PSOL, PSTU e movimentos estudantis votaram pela saída + algumas pessoas) venceram por 21 a 18. Em seguida, deveria-se discutir o “quando” da desocupação. Eu fiz uma proposta que saíssemos na terça porque teríamos mais tempo para pensar em uma saída que causasse algum impacto, porque sair 28 horas depois era também desmoralizador. A isso, a “destaque” da juventude do PSOL respondeu me chamando de antidemocrático, mau-caráter e dizendo que eu havia dissimulado o “quando”, uma vez que, segunda ela, todos ali haviam entendido que “quando” só poderia ser sábado ou domingo. Além disso, ela bradou que tinha muita experiência com ocupações e éramos nós que não entendíamos que aquilo ali não iria virar nada. Inclusive, sugeriu que eu buscasse artigos que ela havia escrito na internet para me informar.

Depois dessas agressões verbais e sensação de opressão, saí do plenário e meus amigos ficaram lá testemunhando a “tirania da maioria” imposta por uma ordem de alguém de fora que fechou aquela decisão em bloco. Não eram pessoas de mente independente movidas por uma crença na importância daquilo, mas meros funcionários partidários submissos.

Quando retornei, naturalmente o pessoal que queria continuar a ocupação se reuniu num canto para decidir o que fazer. Uns (poucos) estavam muito certos de querer ficar, e vários de nós não sabíamos o que fazer diante daquilo. Foi aí que um pessoal que soube que queriam terminar a ocupação apareceu nos portões do lado de fora, e os gritos deles nos deram muita força para permanecer.

Os mais ou menos 800/900 reais que havíamos arrecadado entre nós e através de doações de pessoas que apoiavam A OCUPAÇÃO ficou nas mãos dos que decidiram acabar com a ocupação. Deram parte para a ocupação Congo e a outra parte para uma menina (também do PSOL) que havia perdido a câmera dela. Chamaram a bandinha pelega para recebê-los na saída e foram comemorar na Lapa. Deram entrevista para o Estadão dizendo que SÓ SEIS PESSOAS decidiram continuar (éramos 14!!!) e ainda alguém saiu falando que como a ocupação tinha acabado, a nossa configurava uma NOVA ocupação, o que fazia com que a decisão de indeferimento de reintegração de posse feita por uma juíza no dia anterior caísse. O que obviamente não se deu, mas que denota o mau caratismo dos espíritos de porco.

Nunca mais deram as caras na ocupação (ainda bem) e em momento algum fizeram mobilização popular alguma conforme haviam prometido (o que mostra que era mero argumento para acabar com a ocupação simplesmente porque essa havia sido a “ordem”), além de terem qualificado os que decidiram permanecer de “anarcoloucos” publicamente no IFCS naquela semana.

Por fim, coisa que eu e a Joia descobrimos no oitavo dia de ocupação com uma jornalista da EBC: às 13:00 do primeiro dia da ocupação a imprensa já tinha a pauta de reivindicações de 5 pontos que nós supostamente estávamos escrevendo do lado de dentro e, iludidos, ficamos 5 horas discutindo acerca daquilo. Ela deu os nomes das três pessoas que passaram o documento (que para a gente só foi existir 5 horas depois) a ela: todos os 3 da juventude do PSOL.

Enfim, desculpem o relato longo, mas é que diante de tudo isso que sofremos lá dentro, não foi apenas um desmoronamento de ilusões e crenças com relação às instituições estabelecidas, mas também (e novamente) com os partidos de esquerda. Não dá mais para insistir nessas velhas fórmulas…



Adendo (30/10)


Depois daquele momento de fragilidade em que nos sentimos oprimidos e silenciados lá dentro, decidimos não focar nossas energias nesse problema e nos concentramos em trabalhar a página nova que criamos para dar visibilidade pro movimento bem como reconstruirmos a ocupação, dessa vez juntos com o fundamental apoio do pessoal que acampou do lado de fora.

Mas tendo em vista a arrogância e atitude de superioridade que essa galera continua pronunciando aí nesse e em outros posts de blogs contra os que se organizam independentemente, eu acho sim que as coisas precisam ser ditas, porque eles saíram de lá nos humilhando, levando todo o dinheiro da ocupação e nos difamando, e foi como se nada tivesse acontecido.

Vale a pena fazer um adendo ao texto que postei e que diz respeito ao fato de algumas pessoas ligadas ao PSOL terem condenado a atitude dos que decidiram sair e impor a saída aos outros lá dentro. Não foram muitas, é verdade, mas são pessoas que desde o início repudiaram o que foi feito lá dentro e que até hoje estão juntos conosco no Ocupa Câmara (Ocupa Câmara de laços humanos, porque o espaço físico como sabem foi destruído); pessoas que conseguem conciliar ter uma linha partidária e participar de um movimento sem querer cooptá-lo ou dominá-lo; pessoas que, mesmo sendo de um partido, estão naquele movimento porque acreditam nele e respeitam a horizontalidade que ele propõe.

Divulgue na rede

 

Fonte: Universidade Nômade

Um comentário:

Anônimo disse...

O que vejo no PSOl e seus políticos é uma grande estratégia política. A cpi dos ônibus foi instaurada e sua bancada constituída de vereadores eleitos democraticamente. O que fizeram foi bagunçar o coreto para ganhar destaque na mídia!