Foto: Rogelio Casado - Geraldo Peixoto, Encontro Nacional de Saúde Mental, Belô, jul/2006
NOTA: Quando o Programa de Volta para Casa foi lançado Geraldo Peixoto estava lá, como convidado a dar seu depoimento. Agora, leia o texto que está emocionando seus companheiros por ocasião do I Seminário Nacional do Programa de Volta Para Casa, que rolou entre os dias 8 e 9 de maio deste ano de 2007, em Brasília, dez dias antes da celebração de uma das datas mais importantes do calendário da Reforma Psiquiátrica brasileira: o Dia Nacional de Luta Antimanicomial, celebrado no dia 18 de maio.
NOTA: Quando o Programa de Volta para Casa foi lançado Geraldo Peixoto estava lá, como convidado a dar seu depoimento. Agora, leia o texto que está emocionando seus companheiros por ocasião do I Seminário Nacional do Programa de Volta Para Casa, que rolou entre os dias 8 e 9 de maio deste ano de 2007, em Brasília, dez dias antes da celebração de uma das datas mais importantes do calendário da Reforma Psiquiátrica brasileira: o Dia Nacional de Luta Antimanicomial, celebrado no dia 18 de maio.
I SEMINÁRIO NACIONAL DO PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA
"VOLTAR PARA CASA: OS DESAFIOS DA DESINSTITUCIONALIZAÇÃO"
Data: 08 e 09 de maio de 2007
Local: Brasília
08/05/2007
8h00: Credenciamento
9h00: Cerimônia de abertura com a presença do Senhor Presidente da República e do Senhor Ministro da Saúde, recebendo beneficiários do Programa de Volta para Casa.
Abertura de exposição de fotografias dos beneficiários.
10h00 – 11h30: (20min para cada exposição)
Mesa 1 – O Programa de Volta para Casa no Contexto da Reforma Psiquiátrica
A que veio o Programa de Volta para Casa? Um resgate histórico - Domingos Sávio Alves
Humanização e os desafios na reorientação do modelo assistencial em Saúde Mental – Adail Rollo
Como se articulam os programas de Saúde Mental – um mapa da desinstitucionalização no Brasil – Pedro Gabriel Delgado
Conquistando a cidade – experiências de um beneficiário do PVC – Beneficiário (a confirmar)
11h30 – 12h30h: DEBATE
12h30: Almoço
14h00 – 15h10: (15 min para cada exposição)
Mesa 2 – A experiência da desinstitucionalização sob a ótica dos beneficiários
Coordenadora da Mesa : Simone Chandler
Beneficiários do Programa de Volta para Casa
15h10 – 15h30 - Coffee Break
15h30 – 17h00 (20 min para cada exposição)
Mesa 3: Garantia de Direitos: propostas em curso
Coordenador da Mesa: Karime Pôrto
Registro Civil – uma questão dos Direitos Humanos – Leilá Leonardos (SEDH)
Interdição e a cultura da tutela – Ella Wiecko – Procuradora da República
Desafios de uma política de inclusão – Eduardo Vasconcelos - UFRJ
Saúde Mental e a garantia de direitos humanos: uma questão de humanização – Regina Benevides
17h00 – 18h00 - DEBATE
09/05/2007
9h00 – 10h30 (20 min para cada exposição)
Mesa 4 - Estratégias para superação do modelo asilar
Coordenador da Mesa: Antônio Lancetti
A rede substitutiva e o enfrentamento dos hospitais psiquiátricos - Miriam Abou-Yd
Modelo em transição: aspectos da regulação, avaliação e monitoramento da rede hospitalar – Karime Pôrto
Serviços Residenciais Terapêuticos: estratégias para avançar a rede - Cristina Hoffmann
Saúde Mental e Economia Solidária: políticas públicas de inclusão social - Fábio Sanchez. Secretário Adjunto - Secretaria Nacional de Economia Solidária/SENAES/TEM
10h30 – 11h30: Debate
11h30 – 12h30: Mini Conferência com Augusto Boal
12h30: Almoço
14h00 – 15h30 (15 min para cada expositor)
Mesa 5 – Voltar para Casa: experiências municipais de desinstitucionalização.
Coordenador da Mesa: Roberto Tykanori
Experiências Brasileiras de Desinstitucionalização – Fernando Kinker
A experiência de Barbacena/MG – Flávia Vasques
A experiência de Paracambi/RJ – Cristina Vidal
A experiência de Campinas/SP – Elza Guarido
15h30 – 15h45: Coffee Break
15h45 – 17h45: Oficinas simultâneas
Trabalho, Saúde mental no Território e Economia Solidária: Construindo Itinerários de Emancipação - Fernanda Nicácio (USP), Rita Martins (MS), Gabriela Cunha (SENAES/MTE) e Fernando Kinker (Consultor MS)
Serviços Residenciais Terapêuticos – Juarez Furtado e Cristina Hoffmann
Desafios na expansão do Programa de Volta para Casa – Sandra Fagundes e Ana Amstalden
Cultura, Diversidade e Inclusão Social – Paulo Amarante e Márcia Rollemberg
17h45: Encerramento
Pacto pela desinstitucionalização – Carta de compromisso entre os participantes do seminário
Organização:
Coordenação Nacional de Saúde Mental – MS/SAS/DAPE
Coordenação Nacional do Programa de Humanização no SUS
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(texto)
DE VOLTA PARA CASA
Foi uma honra para mim, ter sido convidado a participar, lendo o meu texto, no lançamento do programa "De Volta para Casa", Lei No. 10708, de 31 de julho de 2003, na presença do Presidente da República, do Ministro da Saúde, bem como, de tantas outras autoridades e companheiros que comungam dos nossos mesmos ideais.
Muitas pessoas já fizeram o seu "De Volta para Casa". Eu fiz o meu, há mais de vinte anos. Mas, meu caso, não é único.
Estou escrevendo para falar desse momento, para falar do André e, também, de mim, além de, como fizemos o nosso: De Volta para Casa. Poderia mencionar um inumerável nome de pessoas que tanto nos ajudaram, naquele difícil momento. Parece-me que, realizei minha missão. Consegui tirar o André das brumas da psicose e do manicômio. Vejam bem, não estou falando em cura... Curar o que? Estou falando de alguma coisa intuitiva, assim como, de minha experiência pessoal, sentimentos estes que, sempre tive, desde o momento em que ele saiu do hospital psiquiátrico e foi atendido, pela primeira vez, no CAPS da Rua Itapeva. Lá. começamos nosso aprendizado. Foi um longo caminho, com avanços e retrocessos. Houve, sem dúvida alguma, muita dor, sofrimento, angústia, um sentimento imenso, de impotência, uma decepção por tantas esperanças, expectativas e sonhos desfeitos. Era uma força da natureza, aparentemente impossível, de ser dominada, algo imponderável, que me subjugava totalmente, apesar de terem existido, também, momentos de muita alegria, troca, compartilhamento e intimidade. Mas, lá no fundo do meu ser, sabia existir um ponto ínfimo, que emanava energia, do qual fui tomando consciência, com o passar do tempo, e que foi crescendo e, ficando, a cada dia, mais forte e, mais forte, e, mais forte, até vir à tona, fazendo-me perceber que, encontraria uma saída... E gradativamente, aquele ponto foi ficando para trás, como alguém por quem passamos, em uma distante e deserta estrada de terra, mas que se, olhada pelo retrovisor, vai-se distanciando, conforme o carro avança, até tornar-se um ponto mínimo que se perde na poeira. Aquele ponto, para mim, não se perdeu, continua lá, substituindo aquele outro ponto de dor, aquele de sofrimento. Todas essas coisas que estou relatando são uma afirmação de vida, a crença de que eu não estava errado e que acreditei nas pessoas certas. Tudo isso que vivi, com meu filho, durante todos esses anos, foi imensurável! Por saber que estava certo, nunca desanimei. Antes eu acreditava ser, o André, meu dependente – hoje, não tenho nenhuma dúvida de que, eu, também, sou dependente dele. Não consigo viver sem ele! Quero cumprir esse contrato até o seu final e poder continuar crescendo e aprendendo na companhia dele, mas, se porventura, eu "desembarcar" da nossa viagem, antes do previsto, irei tranqüilo e confiante, pois, acho, com sinceridade, que, minha parte, foi cumprida. Confiei nas pessoas que nos receberam e que nos atenderam, naqueles já distantes anos. Foi um longo e apaixonante caminho.
Contrariando a máxima que diz que, as aparências enganam, para mim, foi ao contrário que aconteceu, as aparências, com raríssimas exceções, não enganam, não... Foi o que descobri quando entramos, pela primeira vez, no inesquecível CAPS Dr. Luís da Rocha Cerqueira, da Rua Itapeva.
Meu reconhecimento comovido e a minha solidariedade a esses tantos e tantos pais, irmãos, e até, amigos que, já tiraram seus familiares dos manicômios, recebendo-os em casa e, assim, antecipando o que viria a ser chamado de programa "De Volta para Casa". Em minha casa, muitas vezes, abriguei muitos dos usuários que pediam guarida, sem ter uma família que os aceitasse. Portanto, não estou falando, apenas, da família nuclear, desse tipo de família que, muitas vezes, pode ser até, desagregadora. O que estou afirmando é que, família, na saúde mental, pode se constituir ou se formar, de diversas outras formas: a partir do encontro de pessoas, do De Volta para Casa, dos Lares Abrigados e etc.
Este texto abrange a todos com os quais tenho convivido por todos estes anos e, aos quais. quero estender, meus agradecimentos.
Que bom foi aquele dia em que atravessamos aquele jardim e adentramos aquela casa, da Rua Itapeva, 700, o CAPS Dr. Luís da Rocha Cerqueira – o 1º CAPS brasileiro – o início de tudo!
Obrigado
Geraldo Peixoto
Familiar, Presidente da Associação "Maluco Beleza", de São Vicente e
membro da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial
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