janeiro 30, 2011

Picicanálise de um discurso impermeável à racionalidade: o discurso de MR Lopes

PICICA: Na fotografia abaixo, estou cercado por defensores da construção do terminal portuário na região das Lajes, projetado para ser erguido em frente do majestoso Encontro das Águas, no dia em que o Ministério Público, de "saco cheio" com as manobras e o abuso econômico por parte de empresa construtora, resolveu suspender um dos debates públicos, anunciado para acontecer na comunidade de S. Francisco, à margem direita do rio Amazonas, local onde foi feita a referida fotografia. A suspensão decorreu após meses de enxurrada de uma custosa propaganda nos meios de comunicação, que tratava os amazonenses como se fossem um "bando de lesos". Aqui estão dois dos defensores do fatídico empreendimento, ocasião em que representava a Universidade do Estado do Amazonas. Machado veste camisa azul-piscina e MR Lopes, camisa branca. É deste último o artigo venenoso publicado no jornal Amazonas em Tempo, e que aqui reproduzo com comentários não menos ferinos deste PICICA. Afinal, quem com ferro fere...
Foto: Marisa Lima
Artigo Em Tempo 23 01 2011
Brincadeira tem hora
Alfredo MR Lopes (*)
alfredo.lopes@uol.com.br

Para remover dúvidas, explicitar propósitos e descrever compromissos e responsabilidades, o governador Omar Aziz instruiu a área jurídica do Estado para anular na justiça o processo administrativo de tombamento do Encontro das Águas. Na prática isso traduz um chega prá lá no ambientalismo mal intencionado que está brincando com coisa séria, a serviço sabe-se lá de quem. (Esse tipo de desqualificação do contraditório não é recomendável num debate público, MR Lopes. Todo governo é sensível às pressões empresariais. Veja o governo federal pressionado por interesses do setor na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que vem recebendo críticas do movimento socioambiental brasileiro. Não surpreende a decisão do governo amazonense. Uma hora dessa ela viria. Com a rede de apoio que obtivemos, estamos certos de que a construção de um terminal portuário não se dará diante da majestosa natureza que enche nossos olhos de beleza e nosso estômago do jaraqui-nosso-de-cada-dia. Justiça será feita. De uma coisa fique certo: não temos compromissos com empresários com interesses pequenos, nem com seus grandes interesses. Nossos compromissos de classe são de outra natureza, e é com a população com quem estamos metidos até o pescoço) O procurador-geral, Frânio Lima, responsável pela desmontagem do aparato circense, um técnico de primeira grandeza, foi enfático: “O Estado não é contra o tombamento”. Aliás, ninguém de bom senso, no exercício de discernimento, o é. (No entanto, almas generosas como a sua, e outros “técnicos de quinta gradeza",  não foram capazes sequer – diante das ameaças reais apontadas por respeitados cientistas, que você insiste em depreciar – de propor o tombamento do nosso maior patrimônio natural, paisagístico y otras cositas más) O que está em jogo e precisa ser desconstruído e desmascarado, é o processo nebuloso, propositalmente atabalhoado, que distorceu medidas, corrompeu estudos, escamoteou intenções e, principalmente, desrespeitou o interesse maior da coletividade (Certamente, MR Lopes, você deve estar se referindo à coletividade de empresários do capitalismo predatório, ao qual não faltam agentes subservientes para defendê-los

A decisão do tombamento, assumida pelos conselheiros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, se deu em cima de um parecer impreciso e encomendado, que desconsiderou estudos e ponderações da superintendência local daquele órgão. (O argumento caiu por terra, MR Lopes, depois das declarações comprometedoras e incompatíveis com a ética requerida pelo cargo em nível local. Atabalhoadamente, o projeto de construção de um porto terminal diante do majestoso Encontro das Águas foi objeto de uma defesa que não lhe competia – se buscar a fonte dessa defesa inconsistente, você a encontrará no parlamento amazonense – tanto assim que, depois desse episódio grosseiro, advertido pelo Iphan nacional o local “meteu o rabo entre as pernas”, perdoe-me o uso do português claro) Desde 2009, a direção do IPHAN regional apresenta três cenários de tombamento, expressos em poligonais que restringem ou acolhem atividades econômicas na área próxima ao fenômeno, propiciando medidas de compensação para os empreendimentos existentes ou em implantação. (Fenômeno que você, MR Lopes, tem um falso respeito ao reproduzir a “conversa pra boi dormir” das medidas compensatórias. Queremos ver as compensações destinadas à área onde os jaraquis fazem desova, à montante da construção pretendida do terminal portuário. Já não basta a empresa SOVEL despejar resíduos químicos comprometendo a fauna ictiológica do lago do Aleixo, à jusante do referido empreendimento? Mil vezes multada, tais multas irrisórias não impedem que ela continue a cometer crime contra o meio ambiente, diante de um sistema falido de fiscalização, sobre o qual sua pena não se detém) Afinal, ali está situado e se movimenta o cerne da atividade econômica da qual depende mais de 90% da receita pública estadual, e geração de emprego. Dali o Amazonas recolhe 54% dos recursos da ZFM para a União, mais de R$ 7 bilhões/ano. (Modelo que, além de deixar os municípios amazonenses fora de perspectivas reais de crescimento, pode se esgotar de acordo com os ventos que sopram da globalização da economia, e que nos deixa vulnerável à falta de discussão de outros modelos para a região, e que ainda não vimos qualquer comentário seu a propósito) Pois bem. Sem a presença dos interessados, ou seja, toda a tribo, e indiferente aos alertas e implicações de seus gestos, escolhas e acordos os tais conselheiros adotaram a poligonal mais restritiva. Uma carta marcada de acordo com a encomenda obscura. Associar tombamento a engessamento é, no mínimo, sintoma de insanidade e/ou má-fé (O argumento da insanidade não nos constrange, MR Lopes. É preciso ser louco para lidar com os que integram a segunda expressão, perfil que lhe cai muito bem. Em caso contrário, o que lhe faz crer que sua “boa-fé” lhe isenta de responsabilidades com o desastre anunciado?

Algumas perguntas precisariam ser respondidas pelos autores da bravata pseudo-paisagística e ambiental. (Caros leitores, por esta pérola própria da mais abjeta indigência intelectual perdoem MR Lopes. É espantoso. Ele não sabe o que diz. O tema é corriqueiro entre a juventude estudiosa de Manaus) Por que os conselheiros alteraram a poligonal original, encaminhada pelo IPHAN regional, originada de estudos técnicos rigorosos e ponderações em torno dos interesses do Estado? Por que o Estado, a Suframa, as entidades de classe de empreendedores e trabalhadores não foram consultados? Com que autoridade, tão nobres senhores, numa sala confortável do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, absolutamente ausentes dos percalços, demandas e necessidades cotidianas do Estado, se erigem juízes absolutistas de uma decisão tão delicada e abrangente na rotina social e econômica dos que aqui vivem? (Porque existem outras alternativas que sua cegueira ideológica não permite ver. Tais alternativas desprezadas pela visão imediatista de alguns agentes públicos, sabidamente ignorantes da matéria socioambiental. Não é o parecer dos conselheiros que está em questão, mas o alcance das suas medidas, que a todo custo gente como você quer reduzir) E mais inquietante: decidem o prazo de 15 dias para manifestação de eventuais interessados em propor qualquer tipo de questionamento. Tenha santa paciência! Tombamento, aqui entendido como manejo equilibrado e responsável, sustentável e proativo, do espaço urbano e do patrimônio natural, é coisa muita séria, desejo de todos, pauta e desafio de ações consistentes e pra valer. Brincadeira, mesmo de mau gosto, tem hora e não é agora. Enfim, o Estado se posicionou e tem credencial popular para sacudir, de vez, esse jogo de insensatez. (Consideramos que invocar um tombamento “equilibrado e responsável”, no vácuo criado pelo movimento social, a quem cabe o mérito da iniciativa, é de um oportunismo deslavado. Certamente, não é uma brincadeira nem um ato de insanidade, mas esta é uma bandeira que não lhe pertence. Portanto, só lhe resta o discurso perverso da desqualificação do conhecimento que a sociedade científica produz entre nós, amazonenses. O seu discurso MR Lopes é impermeável à racionalidade, tal qual o discurso do empresariado ligado ao capital predatório. O movimento socioambiental SOS Encontro das Águas é nossa melhor resposta para quem, como você, usa de argumentos anêmicos e simplórios. Nem os ingleses acreditam mais nessa visão míope das questões ambientais, MR Lopes

(*) Alfredo é filósofo e consultor ambiental

Um comentário:

Unknown disse...

Caro amigo Kaamirã,

O lançe é radicalizar. Junta uma galera e passa aquele filme Avatar e põe a galera para discutir aquela ficção transportada para a realidade amazonense. Dessa maneir a galera vai ver como os donos do capital não conseguem sustentar os discursos mentirosos por muito tempo. Mostra para a galera como os donos do capital lucram até para mostrar a lógica do capital. Acredito que este é o caminho.

Um abraço fraternal.