agosto 08, 2012

Em defesa da arborização, o exemplo do professor de História Henrique Carneiro

PICICA: "Alguns riram de mim, outros até concordaram. As árvores estavam saudáveis, não atrapalhavam a rede elétrica e a ordem era de poda generalizada. Esse tipo de ação é irreparável. Depois de cortadas, nada poderia ser feito", afirma. "A herança brasileira é de destruição do verde, a começar pela Mata Atlântica. Há uma cultura 'antiárvore', as pessoas parecem ter horror ao verde. O que houve aqui foi crime, atentado ao espaço verde e lúdico." EM TEMPO: Isso me lembra um episódio que vivi aqui em Manaus, no início deste século. Saí do consultório numa noite de sexta-feira; ao retornar na segunda-feira, para minha perplexidade, verifiquei que a castanholeira plantada por meu trinta anos passados fora cortada por agentes da prefeitura, segundo as vagas informações que obtive, pois nessas horas prevalece a cultura manauara do "não sei e tenho raiva de que viu... não me comprometa". Estavamos na primeira administração do prefeito Alfredo Nascimento, mais tarde Ministro de Tranportes no governo Lula. Chorei pela violência do ato, mas principalmente pelo silêncio covarde que protege atos contra o bem estar coletivo. Entrei com um recurso no Ministério Público. Até hoje não atribuíram responsabilidade a quem destruiu um bem público. De lá pra cá áreas verdes inteiras vem desaparecendo da paisagem. Recentemente, depois do assassinato de outras árvores, houve uma tentativa de resposta cidadã. Gorou, como se diz por aqui. Ainda não entrou pra valer na pauta dos movimentos sociais a defesa socioambiental. As lutas são pontuais e desarticuladas, cada um defendendo seu territoriozinho e olhe lá! Com o cenário da expansão da região metropolitana vai ser impossível deixar de notar os estragos que vem por aí!

Professor Henrique Carneiro - Foto: Paulo Liebert/AE

Professor sobe em árvore para impedir poda

O historiador e professor da USP Henrique Carneiro, de 52 anos, acordou ontem com o som de motosserras podando árvores da Praça Laerte Garcia da Rosa, perto da sua casa, no Jardim Rizzo, Butantã, zona oeste. Preocupado com os fícus, seringueiras e amoreiras, que, segundo ele, já haviam sido podados indiscriminadamente na sexta-feira, Carneiro saiu correndo, mas era tarde. Uma das árvores tinha perdido três partes do tronco e funcionários da empresa contratada para o serviço seguiam na direção de outra. Como seus argumentos pareciam não convencê-los, o professor subiu na árvore e se recusou a sair até desistirem de cortá-la.

A reportagem é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-08-2012.

"Alguns riram de mim, outros até concordaram. As árvores estavam saudáveis, não atrapalhavam a rede elétrica e a ordem era de poda generalizada. Esse tipo de ação é irreparável. Depois de cortadas, nada poderia ser feito", afirma. "A herança brasileira é de destruição do verde, a começar pela Mata Atlântica. Há uma cultura 'antiárvore', as pessoas parecem ter horror ao verde. O que houve aqui foi crime, atentado ao espaço verde e lúdico."

Segundo a Subprefeitura do Butantã, um pedido de poda foi feito ao Conselho de Segurança do bairro. A poda, no entanto, seria de uma única seringueira e não das 15 árvores podadas pelas motosserras. A justificativa seria garantir a segurança do local com mais luminosidade - argumento compartilhado por alguns moradores.

"Essa praça é uma escuridão só. Ficamos preocupados com assalto. Concordo com a poda", disse a aposentada Claudette Franco, de 66 anos, vizinha de Carneiro e da praça. "Precisamos de ar, verde, mas tudo que é exagerado deve ser questionado", afirmou a também aposentada Marlene Marcondes, de 77.

Para o artista plástico Ivan Pereira, de 72 anos, a segurança é uma preocupação, mas outra solução poderia ter sido encontrada. "Precisamos de iluminação, mas o que fizeram aqui não foi poda, foi estupidez. Tenho uma foto do meu filho brincando naquela árvore quando ainda era uma criança. Cortaram 30 anos de história."

A subprefeitura garante que, antes da execução dos serviços, agrônomos fazem vistoria e elaboram laudo técnico sobre a condição das árvores. Ainda segundo o órgão, podas são feitas quando as árvores apresentam más condições, estão prestes a cair ou interferem na fiação elétrica.

Durante todo o dia, Carneiro e sua mulher, Sílvia Miskulin, de 41 anos, também historiadora e professora universitária, ficaram de prontidão para evitar a poda. Eles procuraram vizinhos para pedir apoio e enviaram denúncia ao Ministério Público. O professor diz que, caso a empresa volte, subirá de novo nas árvores contra o corte. Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, o serviço será feito ainda nesta semana.

Fonte: IHU

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