PICICA: "No Brasil, a ação do pobre
não precisa ter materialidade para ser acusada de crime, basta que fique
exposta sua condição de pobreza, que fique evidente a partir das
músicas que se canta, das roupas que se veste ou da imutável cor da sua
pele para que sua trajetória pelas ruas, shoppings e
estacionamentos de qualquer cidade seja barrada por uma horda feroz de
policiais e agentes de segurança."
A grama do vizinho é sempre mais… popular!
Texto por Fernando Monteiro
O rolezinho mexe com o medo, tudo não passa de uma “ameaça”. Quando temos medo costumamos até projetar coisas que não aconteceram de fato para legitimar o autoritarismo subsequente. Nosso profundo respeito ao rolezinho que aterroriza a sociedade sem quebrar nada, sem machucar ninguém, apenas expondo (na prática) as contradições que existem na sociedade. Podemos ver – e muito bem – policiais pagos pelo Estado com o dinheiro dos impostos de todos, atuando no interior de propriedades privadas para protegê-las de um suposto risco. Suposto, pois não há ocorrência de violência, roubo ou depredação por parte dos integrantes dos rolezinhos. Podemos ver a obtenção de liminares na “justiça” que proíbem a entrada e circulação de pessoas em espaços de convívio coletivo, escancarando o verdadeiro caráter privado e seletivo desses mesmos espaços.
No Brasil, a ação do pobre não precisa ter materialidade para ser acusada de crime, basta que fique exposta sua condição de pobreza, que fique evidente a partir das músicas que se canta, das roupas que se veste ou da imutável cor da sua pele para que sua trajetória pelas ruas, shoppings e estacionamentos de qualquer cidade seja barrada por uma horda feroz de policiais e agentes de segurança. Os rolezinhos muito provavelmente vão continuar, pois o cerceamento do direito à cidade continua em processo de avanço sobre as zonas centrais e periféricas. A classe média se esconde nos shoppings, mas os de baixo querem entrar nessa festa e não estão dispostos a mudar seus hábitos. Cuidado, quando as contradições viram antagonismo, as coisas costumam ficar bem quentes. Qualquer bom acadêmico sabe disso.
Saudações Libertárias.
Fonte: Das Lutas
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