janeiro 18, 2014

"Entidades lançam manifesto de apoio aos rolezinhos e diversos atos pelo país estão previstos" (Brasil de Fato)

PICICA: "A forma como instituições públicas e privadas responderam aos chamados “rolezinhos” na capital paulista expôs a maneira racista e segregatória com que as mesmas vêem determinada parcela da sociedade. A fim de denunciar esta realidade, entidades e movimentos estão divulgando um manifesto de apoio aos jovens que promovem os ‘rolezinhos’ e de ‘repúdio’ às reações dos Shoppings e da Justiça."

Entidades lançam manifesto de apoio aos rolezinhos e diversos atos pelo país estão previstos

Reprodução/Youtube 
“Com a liminar que garantiu o direito ao JK Iguatemi e a outros diversos Shoppings de impedir a entrada de jovens negros, pobres e funkeiros, percebe-se a reafirmação da missão da policia, da justiça e do Estado: a proteção à iniciativa privada”, diz o documento


17/01/2014

Da Redação

A forma como instituições públicas e privadas responderam aos chamados “rolezinhos” na capital paulista expôs a maneira racista e segregatória com que as mesmas vêem determinada parcela da sociedade. A fim de denunciar esta realidade, entidades e movimentos estão divulgando um manifesto de apoio aos jovens que promovem os ‘rolezinhos’ e de ‘repúdio’ às reações dos Shoppings e da Justiça.

“Com a liminar que garantiu o direito ao JK Iguatemi e a outros diversos Shoppings de impedir a entrada de jovens negros, pobres e funkeiros, percebe-se a reafirmação da missão da policia, da justiça e do Estado: a proteção à iniciativa privada e aos seus valores civilizatórios tendo, como sempre, um alvo bem definido: negros e pobres. Trata-se, sobretudo de um precedente legal perigoso a medida que promove e formaliza uma prática análoga ao aparthaid”, diz o documento.

Já assinaram o documento entidades e movimentos como Circulo Palmarino, Uneafro Brasil, Conen, Núcleo de Consciência Negra na USP, Instituto Luiz Gama, Quilombo Raça e Classe, Coletivo Negro USP, entre outros.

Atos pelo país

Diversos “rolezinhos” foram marcados pelo país em apoio aos jovens e a liberdade “de ir e vir” na cidade. Em São Paulo, por exemplo, neste sábado (18) centenas devem se reunir na entrada do Shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia.

Na Bahia, cerca de 220 participantes aceitaram participar do ‘Rolezinho das Antigas’, que está previsto para acontecer no dia 1º de fevereiro no shopping da Barra. No Ceará, outras centenas confirmaram presença por evento criado nas redes sociais que está marcado para o dia 9 de fevereiro no Shopping Iguatemi, na capital cearense.

Na capital federal, mais de mil pessoas também já confirmaram presença no “Rolezinho no Xópim Iguatemi do Lago Norte”. No Rio de Janeiro, mais de 8 mil disseram que estarão presentes no Shopping Leblon, neste domingo (19), em apoio à São Paulo.

Leia abaixo a íntegra do Manifesto:

APOIO À JUVENTUDE NEGRA, POBRE E DAS PERIFERIAS DA CIDADE DE SÃO PAULO!

PELO DIREITO À CIRCULAÇÃO E A EXPRESSÃO DE SUA ARTE E CULTURA.

"É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo o cidadão brasileiro, independente da etnia ou cor da pele, o direito à participação na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiososo e culturais" (Art. 2o. do Estatuto da Igualdade Racial)

O Racismo brasileiro já foi amplamente denunciado por movimentos e intelectuais. Em dezembro de 2013 a ONU, através de uma comissão especial em visita ao Brasil, mais uma vez declarou: “Os afro-brasileiros não serão integralmente considerados cidadãos plenos sem uma justa distribuição do poder econômico, político e cultural”, reforçando a ideia do racismo como estruturante das desigualdades em nosso país.

A barbárie social expõe sua face racista em especial através dos números dos homicídios, em especial aquele promovido pelas forças de repressão do Estado. A realidade das prisões brasileiras, agora simbolizada pela revelação dos acontecimentos no presídio de Pedrinhas no Maranhão ou a carnificina promovida por policiais em Campinas reforça o que sempre denunciamos: o caráter racista do Estado e de seus dirigentes.


Esse racismo se traveste cotidianamente a medida da necessidade do opressor. Nesse momento vivemos em São Paulo e em outros grandes centros mais uma das faces do racismo estrutural brasileiro: A reação dos Shoppings, da Polícia e da Justiça em relação a presença de “jovens funkeiros” nestes estabelecimentos.

Com a liminar que garantiu o direito ao JK Iguatemi e a outros diversos Shoppings de impedir a entrada de jovens negros, pobres e funkeiros, percebe-se a reafirmação da missão da policia, da justiça e do Estado: a proteção à iniciativa privada e aos seus valores civilizatórios tendo, como sempre, um alvo bem definido: negros e pobres. Trata-se, sobretudo de um precedente legal perigoso a medida que promove e formaliza uma prática análoga ao aparthaid.

Cruzar os braços diante de fatos tão graves significaria reforçar a naturalização da violência contra negros e pobres no Brasil. Afinal, os barrados nas portas dos shoppings são os mesmos proibidos de frequentar universidades; são os mesmos que perfazem maioria entre analfabetos, miseráveis, desprovidos de serviços básicos como saúde, educação, moradia; são os mesmos ridicularizados e estigmatizados pela grande mídia e, sobretudo, são os mesmos que cotidianamente são parados, esculachados, presos, torturados e mortos pela polícia nas periferias do Brasil.

Os rolezinhos em shoppings que se espalham por todo país revela uma das faces da crise urbana, carente de espaços de convivência, acesso a arte, cultura e lazer, condições entregues pelo Estado aos cuidados e usufruto da iniciativa privada de cidades como São Paulo, estruturadas com base na concentração do solo e na especulação imobiliária, que provocam a exclusão, desterritorialização e expulsão da população negra e periférica, para regiões carentes de equipamentos e serviços sociais e culturais. Os Governos tem fundamental responsabilidade e devem responder a essa demanda de maneira imediata.

Criminalizado como um dia fora a capoeira, o futebol, o samba e o RAP, o funk moderno é tão contraditório em seu conteúdo quanto o é resistência em sua forma e estética. E se está servindo também para fazer aflorar o racismo enraizado na alma das elites hipócritas – muito mais vinculadas aos valores da luxuria e ostentação que o Funk, declaramos: somos todos Funkeiros!


Exigimos:

·Anulação imediata das liminares que garantem o direito de segregação aos Shoppings;

·Pedidos públicos de desculpas pela ação racista por parte dos Shoppings e dos responsáveis pelas liminares no âmbito da Justiça;

·Imediato debate público com governos de todas as esferas sobre a pauta da ampliação dos espaços e condições de acesso a arte, cultura e lazer que possam contribuir para a inclusão, a emancipação e garantia de direitos das juventudes, principalmente da juventude negra, pobre e de periferia.

Assinam:

Circulo Palmarino


Uneafro Brasil


Conen


Núcleo de Consciência Negra na USP


Instituto Luiz Gama


Quilombo Raça e Classe


Coletivo Negro USP


Soweto


Levante Popular da Juventude


Associação Franciscana de Defesa de Direitos e Formação Popular


Comitê da Cidadania Ativa


Anel


Dce-Usp


Aps-Juventude

Fonte: Brasil de Fato

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