PICICA: "Um dos equívocos a que se pode incorrer nos filmes
de Lars von Trier é tomar de imediato suas provocações mais fáceis como
determinantes."
Cultura
Cinema
Um bom enganador
Lars von Trier faz do sexo um despiste cínico
Um dos equívocos a que se pode incorrer nos filmes
de Lars von Trier é tomar de imediato suas provocações mais fáceis como
determinantes. As cenas de mutilação em Anticristo não são mais brutais
do que a queda do bebê na abertura ou do enlouquecimento gradual da mãe.
Nem parece ser primordial o fim do mundo em Melancolia ante o mal-estar contemporâneo da jovem executiva. Como não é o desvario sexual o conflito fundamental em Ninfomaníaca, a primeira parte do novo projeto do dinamarquês em cartaz a partir da sexta 10.
Mas assim o filme chega às salas munido de muita publicidade em torno de um suposto contexto pornográfico. Trier se encanta desde sempre por nos ludibriar, atento em fisgar dilemas, culpas e preconceitos pela via de um choque barato. Regala o espectador com a genitália e todo tipo de ginástica oferecida pela sexualidade sem limites de uma jovem e seus muitos parceiros. Teria sido
esse desafio real a razão da recusa de Kirsten Dunst em integrar o elenco e da saída deste de Nicole Kidman, deixando para Charlotte Gainsbourg o posto de única entre as prediletas de Trier.
Como a adulta Joe, ela é encontrada inconsciente e com hematomas num beco por um estranho (Stellan Skarsgard) e passa a contar-lhe suas aventuras eróticas desde a adolescência, período interpretado por Stacy Martin. A convicção de que o cineasta parece nos dirigir algo mais perturbador do que o mero confronto com uma realidade afeita ao sexo vem primeiro na inquietante relação de Joe com o pai (Christian Slater) e a angustiante doença final deste. Também mais perversa que a cena na qual a adolescente pede ao rapaz experiente (Shia LaBeouf) que lhe tire a virgindade é aquela em que a mãe e esposa traída (Uma Thurman) invade com os filhos o apartamento de Joe para um acerto de contas com o marido que ali está depois de abandonar a família.
Nesses momentos pode-se supor que Trier ri de nós cinicamente quando permite a carga erótica como um bom marketing, enquanto reflete sobre o lado mais permissivo da condição humana. Previu no total cinco horas de um painel reduzido agora a duas horas, que será exibido na íntegra no Festival de Berlim, em fevereiro. Ao que se sabe, a fixação sexual deve crescer na segunda parte prevista para março e, portanto, enganar com as razões menos importantes o que parece sugerir apenas a pilhéria de um bom provocador.
Fonte: CartaCapital
Mas assim o filme chega às salas munido de muita publicidade em torno de um suposto contexto pornográfico. Trier se encanta desde sempre por nos ludibriar, atento em fisgar dilemas, culpas e preconceitos pela via de um choque barato. Regala o espectador com a genitália e todo tipo de ginástica oferecida pela sexualidade sem limites de uma jovem e seus muitos parceiros. Teria sido
esse desafio real a razão da recusa de Kirsten Dunst em integrar o elenco e da saída deste de Nicole Kidman, deixando para Charlotte Gainsbourg o posto de única entre as prediletas de Trier.
Como a adulta Joe, ela é encontrada inconsciente e com hematomas num beco por um estranho (Stellan Skarsgard) e passa a contar-lhe suas aventuras eróticas desde a adolescência, período interpretado por Stacy Martin. A convicção de que o cineasta parece nos dirigir algo mais perturbador do que o mero confronto com uma realidade afeita ao sexo vem primeiro na inquietante relação de Joe com o pai (Christian Slater) e a angustiante doença final deste. Também mais perversa que a cena na qual a adolescente pede ao rapaz experiente (Shia LaBeouf) que lhe tire a virgindade é aquela em que a mãe e esposa traída (Uma Thurman) invade com os filhos o apartamento de Joe para um acerto de contas com o marido que ali está depois de abandonar a família.
Nesses momentos pode-se supor que Trier ri de nós cinicamente quando permite a carga erótica como um bom marketing, enquanto reflete sobre o lado mais permissivo da condição humana. Previu no total cinco horas de um painel reduzido agora a duas horas, que será exibido na íntegra no Festival de Berlim, em fevereiro. Ao que se sabe, a fixação sexual deve crescer na segunda parte prevista para março e, portanto, enganar com as razões menos importantes o que parece sugerir apenas a pilhéria de um bom provocador.
Fonte: CartaCapital
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